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Jogos: Análise – Dakar 18

Foi em 2003 a última vez que tivemos um jogo da prova de Rally mais difícil do mundo, numa altura em que esta ainda se iniciava em Paris e seguia até ao centro de África. Mudam-se os tempos, mudam-se as prioridades e, 15 anos depois, o estúdio português Bigmoon Entertainment conseguiu junto da ASO, entidade organizadora da prova, os direitos para poderem levar para a frente a criação ambiciosa da adaptação virtual da edição actual com Dakar 18.

À primeira vista, percebemos que a grande aposta foi no realismo da prova, através de um mapa adaptado do mundo real com mais de 18.000km2, juntamente com todas as licenças envolvidas para trazerem os pilotos, os carros e as marcas oficiais. É de destacar que a versão Day One inclui o lendário piloto Ari Vatanen e o seu Peugeot 205 Turbo 16, vencedor da prova durante o final dos anos ’80 e início dos anos ’90.

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Para quem não conhece o Dakar, a prova foca-se principalmente na orientação do piloto, utilizando um Road Book com todas as indicações do caminho a tomar e informação sobre os waypoints. Não é permitido utilizar um GPS tradicional e o mapa apenas serve para dar uma espécie de contexto de onde estão. Mas no deserto, onde tudo parece igual, há que se fiar sobretudo no livro, pois nem sempre teremos um co-piloto disponível, dependendo do transporte escolhido.

No inicio temos um tutorial que nos introduz a todos os detalhes a ter em atenção, à medida que passamos por vários dos obstáculos que nos esperam durante toda a corrida. Aqui é prioritário sair com uma noção de como é lido Road Book, podendo o jogador alterá-lo depois para uma versão mais simplificada, o que torna as coisas ligeiramente mais fáceis de entender.

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Jogar com um co-piloto garante que irão conhecer o pior amigo da vossa vida, amigo esse que não sabe usar a sua voz interior para comunicar as coisas calmamente e que, à mínima coisa – seja um embate, prosseguir ligeiramente fora do caminho desejado ou qualquer outra coisa que lhe desagrade – resulta numa expressão em voz alta do quão incompetentes somos.

Mesmo quando vos está a dar indicações úteis, é capaz de interromper só para nos dar na cabeça. Confessamos que a dada altura ponderámos abandoná-lo no meio do deserto e continuar a prova sozinhos. Mas tal não nos foi possível, pelo menos jogando com carros ou camiões, deixando assim os motards com a oportunidade de aproveitarem o relaxante som da paz e do sossego.

Já na estrada (ou melhor, na areia), a condução, independentemente do transporte escolhido, parece-nos ser muito mecânica, não sendo de forma alguma o estilo simulador desejado, onde não sentimos o peso do veículo, seja a traseira a arrastar-se por uma curva mal dada, ou ao descermos uma duna, só para batermos de frente e danificarmos o veículo, acabando por desencadear uma reacção não muito positiva do nosso companheiro, que insiste em se exprimir em voz alta.

Contudo, a culpa nem sempre é do condutor ou do terreno em si, já que ocasionalmente sofremos embates contra objectos invisíveis em estrada abertas, tendo uma vez capotado e danificado o carro ao ponto de não ser possível continuarmos a etapa. Também sofremos algumas instâncias de lag, principalmente em áreas mais populosas, mas que desapareceram após breves momentos.

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Talvez o maior defeito de todos de Dakar 18 é a forma como o jogador tem que encarar as consequências dos seus actos, através do tempo cronometrado. Sejam os poucos minutos de algumas das reparações, os 15 minutos por fazermos um reset até ao último local onde nos perdemos ou os 20 minutos de penalização por saltarmos um dos waypoints, tudo isto vai sendo acumulado.

Dependendo do vosso talento a conduzir, rapidamente poder-se-ão ver no fim da tabela por terem feito uma reparação que tomou mais tempo ou uma penalização mais grave. O que, jogando na dificuldade mais baixa, tende a não ser o mais motivador para continuar, sobretudo se ao fim das primeiras etapas já têm um grande número de horas acumuladas, sabendo que dificilmente irão subir na tabela.

Outro problema encontrado foi numa das situações que o tutorial também nos introduz: o de poder encontrar um piloto preso na areia a necessitar de ajuda. Ora, sendo nós boas pessoas, gasta-nos tempo mas deixa-nos de consciência tranquila ajudar o próximo e somos recompensados por isso. Por outro lado, não esperem que outros condutores vos ajudem na mesma situação, pois das várias vezes em que necessitei de ajuda, nenhum parou, mesmo tendo a opção SOS ligada. Uma das formas de resolver este problema, foi a inclusão de uma prancha para meter debaixo da roda do veículo, não garantindo um sucesso, forçando-nos a reiniciar no último waypoint e adicionar mais uns minutos ao tempo de corrida.

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Mas nem tudo é mau, as corridas são, grande parte delas, longas e com vários pontos por onde passar. Podem contar com as etapas mais longas a durarem acima dos 30 minutos de corrida, com vários obstáculos diferentes e um grau variável de divertimento de os ultrapassar. Nem sempre terão sucesso, com uma curva de aprendizagem algo exigente mas que, a longo prazo, acabará por compensar.

Aqui o valor de repetição apoia-se no aumento da dificuldade, como também utilizarem outro meio de transporte, propondo outros tipos de desafios ao jogador. O modo online também permite juntarem-se a amigos e fazerem a prova uns contra os outros.

O modo Treasure Hunt, por outro lado, acaba por ser demasiado difícil para se perder tempo à procura de relíquias pelos três países da prova, maioritariamente localizadas em cidades fantasma, utilizando apenas um mapa generalizado.

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Existem aqui muitas boas ideias, que, na teoria, soam a algo na vanguarda do género de corridas, mostrando inovação na forma em como fazemos o caminho do ponto A ao ponto B. Mas na execução, nem tudo funcionou. Fora o sistema de navegação, exigente, mas necessário para reflectir a dificuldade real da prova, o resto parece ser uma grande tarefa em que à primeira falha, levamos com tudo em cima, o que retira muito do divertimento esperado num jogo que é, acima de tudo, de corridas.

Dakar 18 não é inteiramente um jogo mau, tendo em conta que o objectivo principal era proporcionar a experiência definitiva duma das provas mais duras do desporto motorizado. Existem, porém, várias melhorias que esperamos ver numa próxima edição, sobretudo no que toca à jogabilidade dos veículos, onde, se esta for a prioridade, dará certamente uma experiência de jogo mais agradável à condução. Um bom primeiro passo para um futuro que, bem jogado, poderá ser brilhante.

Nota Final: 6/10

Dakar 18 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC

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