Análise BD: Tex vol. 5 – Minstrel Show
“Minstrel Show”, de Mauro Boselli e Marco Ghion, traz Tex de volta numa aventura intensa, onde realidade e ficção se cruzam no Velho Oeste.
Eu sou grande fã dos Fumetti, e só tenho pena de não haver mais títulos por cá. Adoro quase todos os personagens da Bonelli, sendo Dragonero o meu favorito, passando por Morgan Lost, Nathan Never, Mágico Vento, Júlia ou Dampyr. Todos são muito bons mas não há dúvidas que o precursor foi Tex e é o que tem mais seguidores.
Outra coisa que é já apanágio destes títulos, é a qualidade dos desenhadores a preto e branco, que são na sua maioria verdadeiros mestres da ilustração. Embora já tenhamos tido títulos a cores de Tex editados cá, este é mais uma vez a preto e branco e Marco Ghion é mais um craque.
Minstrel Show traz-nos uma história baseada em factos reais, que nos fala um pouco sobre a forma de arte que foi o minstrelsy. Uma mistura de música com teatro e stand-up comedy usada no velho oeste antes de aparecer o jazz e que tinha letras e músicas inspiradoras provenientes da cultura dos negros escravos do Sul , mas os espectaculos eram interpretados por brancos com a cara pintada de negro a carvão para se fazerem passar pelos mesmos.
Esta tradição estereotipada era considerada pelos brancos inofensiva que só queriam brincar com a situação e demonstrar o interesse pela música dos mesmos, mas que, com o passar dos tempos, foi sendo considerada muito insultuosa e racista, denominada como seria nos nossos tempos uma apropriação cultural indevida dos costumes, ou ainda de blackface.
Após a guerra civil americana do norte contra sul, os racistas brancos começaram a ridicularizar os afro-americanos usando o minstrelsy de forma indevida e, logicamente, com o modernizar dos tempos, esta arte remeteu-se ao esquecimento devido ao juízo negativo. Em vez de ser considerado uma homenagem, era uma ofensa e provocação.
Ora isto leva-nos à nossa história do livro:
“Entre os artistas com o rosto pintado de negro da companhia dos Minstrels, há um que não precisa de se maquilhar: Joey Nelson, antigo escravo e amigo de infancia de Tex. Quando, após a Guerra Civil, os rebeldes sulistas de Arch Clement e Jesse James atacam a cidade de Lexington, no Missouri, Tex e Carson vão defendê-la. Mas de que lado se posicionarão os artistas do Minstrel Show nascidos no Sul? Do lado do seu companheiro Joey, negro livre, ou do lado dos irredentistas Sulistas?”
Depois de Tex se reencontrar com Carson e Dan, o plano é para capturar ou eliminar Arch Clement e Jesse James mais a sua pandilha de ladrões e assassinos de modo a reaver o bom nome dos Texas rangers que lutaram pelo Sul devido às suas origens, e que depois da sucessão, a decisão de Washington foi dissolver o corpo de elite como retaliação dessa “traição”. O intuito é mostrar que os Rangers estão do lado certo após a guerra e que são necessários. Com ajuda de Mister Marshall e o conhecido Allan Pinkerton em Washington, o corpo desta força especial pode então passar a ser reconhecido e ganhar outro fulgor e prestígio.
Os três protagonistas falam das atrocidade cometidas por Clement, James, Poole e Bloody Bill Anderson, como os vários assaltos bancos, o massacre da North Missouri Railroad na estação de Centralia onde mataram e profanaram os corpos de vários soldados do Norte.
Tendo a informação que Clement e James irão provocar o caos nas eleições da cidade de Lexington, os nossos heróis, apesar de estar em minoria decidem elaborar um plano para apanhar os vilões.
Joey reencontra-se então com Tex e os seus amigos e ajuda como pode a par dos seus companheiros de Minstrel, para defender a cidade e o conflito que se dá na cidade é muito violento e sangrento. Com muitos tiros e balas perdidas, a especialidade e habilidade de Tex e seus companheiros irão ser postas à prova de forma a que o desfecho seja favorável.
As cenas de ação são excelentes, e se o meio da história é um pouco parada após um início que para mim figura como épico e em alto estilo de um bom western, devo dizer que o massacre final na cidade é uma delícia visual.
O argumento é muito sólido e conciso, e o desenho de Ghion é muito bom, detalhado e pormenorizado, com a elegância de nos apresentar perspectivas e panorâmicas muito cinematográficas. Mais um artista de excelente nível da Bonelli a fazer justiça ao seu nome, com um preto e branco muito delicado e realista, fazendo um uso dos cinzas para elevar os detalhes da atmosfera, do guarda-roupa dos personagens, ou das expressões faciais.
Os cenários são sempre fantásticos dignos de um filme, causando uma experiência imersiva no velho oeste, nos seus saloons, cavalos, revólveres, estações, granjas, cidades, etc…
Um dos melhores Tex que já li, e que pisca o olho a uma continuação da história visto que o gancho final é dramático.
A edição de A Seita, visa mais uma vez pela primazia da qualidade, com um formato excelente, adequado para usufruir das vinhetas e manuseável nas suas 130 páginas de história, mais os habituais extras que encontramos no fim. Temos uma entrevista com o desenhador e esboços dos seus desenhos. O papel tem muita qualidade, sem brilho para usufruir do traço carbonizado do autor, a capa dura apresenta um pormenor maravilhoso ao toque, é aveludada no seu todo e diferencia este livro com um acabamento de luxo.
O desenho da capa é a cores do autor Maurizio Dotti, e não sendo espectacular, é uma capa apelativa ao western e ao tema da história.
Venham mais cowboyadas, e mais fumettis da Bonelli com outros protagonistas também…