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Análise BD: Blake e Mortimer: OITO HORAS EM BERLIM

E se afinal E. P. Jacobs ainda estivesse por cá? As Aventuras de Blake e Mortimer: OITO HORAS EM BERLIM é o mais recente livro da série. Leiam aqui a análise.

Se o leitor é um apaixonado dos clássicos franco-belgas, já sabe que em todos os Natais vai receber um novo livro no sapatinho. Os editores europeus apostaram agora no lançamento de novos títulos nos meses de Novembro e Dezembro, à boleia das compras de Natal, resolvendo assim o problema a muitos pais, filhos, avós, netos, etc. Vem isto a propósito do mais recente livro das aventuras de Blake e Mortimer.

Na verdade o seu autor original Edgar Pierre Jacobs, era conhecido por não respeitar prazos e pelo perfecionismo na sua obra. Uma coisa estava ligada à outra na razão inversamente proporcional, mas quando Jacobs entregava as pranchas, o seu editor sabia que tinha um êxito garantido. O problema é que Jacobs já não existe, o tempo passou e o Mundo mudou.

O espírito dos livros de Jacobs, criados entre 1946 e 1987, já não existe. Ele era um privilegiado, que se inspirava em várias revistas que na altura poucos tinham acesso, como por exemplo a National Geographic, a Popular Mechanics ou a Scienc et Vie. Os temas das histórias iam ao encontro daquilo que os jovens de meados do Século XX procuravam e acreditavam. No pós-guerra a ciência estava ao serviço da Paz (na verdade não era bem assim!) e os cientistas tudo faziam para melhorar o mundo. Os cientistas loucos e maus eram sempre derrotados, na velha luta do Bem contra o Mal.

Mas os jovens já não vão nessa cantiga. Com o acesso massivo de informação, já nada é surpresa ou novidade. Já não existe aquela ansiedade em descobrir uma nova aventura de Blake e Mortimer. Apenas existe a curiosidade de comparar com as anteriores para saber se é melhor ou pior. Por esse mesmo motivo vão rodando tantos desenhadores e argumentistas, permitindo que os prazos sejam maiores e a qualidade gráfica dos últimos volumes seja francamente melhor.

Também o argumento deste volume parece mais bem trabalhado, e o tema central tem um bom compromisso entre o mistério e a ficção científica, bem nos traços de Jacobs. Porém o seu desenvolvimento é algo inconstante e sofre com a aplicação dos cortes súbitos próprios das séries de televisão. Por duas vezes pensei que tinha passado uma página durante a leitura, e só depois percebi que se tratava de uma mudança de cena. E depois há várias incoerências no próprio argumento. Na verdade estamos em plena Guerra Fria como todos nós a conhecemos… Mas… O Segredo do Espadão não se passa durante a Terceira Guerra Mundial contra Basam Damdu? E nada mudou?

Depois dessa devastadora guerra, o mundo ficou como estava no fim da Segunda Guerra? A Cortina de Ferro surgiu da mesma maneira? Também a forma como ocorre o encontro de Blake com Mortimer em Berlim não tem qualquer sentido, tratando-se de dois amigos que não se viam há algum tempo ainda por cima numa situação de perigo. Mas há mais alguns pormenores que não colheram a minha simpatia, como seja a exagerada preocupação com a identificação das marcas e modelos dos carros, dos aviões e até dos fatos de Blake. Também a não inclusão da tradução das frases estrangeiras inclusive em cirílico, me parece algo infeliz, apesar da versão original em francês sofrer do mesmo mal…

Até a parte final da história parece inspirada no livro “Conspiração em Berlim” de Tom Gabbay.

Em suma, um livro que se lê mas que não convence. O filão da série parece quase totalmente esgotado. Mais uma vez uma edição com capa exclusiva para colecionadores, para faturar mais um pouco… Não é por acaso que Michel Vaillant ao sair da esfera Graton, seguiu por outros caminhos, apostando muito no merchandising e nos livros temáticos. Porém não deixa de ser um livro de leitura agradável e com uma arte totalmente decalcada da de Jacobs. Um dos livros que graficamente mais se aproxima do nível do Mestre.

Livro em capa dura com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa qualidade e excelente impressão. Preço normal para o tipo de livro.

Tempo de leitura:

  • Oito horas em Berlim – aproximadamente 1 : 10 Hora

A imagem que me surgiu ao terminar o livro, foi que tentaram fazer uma broa de milho e saiu um pão de centeio. A farinha é outra, o padeiro é outro, o forno é outro e os clientes são outros. Acho muito difícil estes livros conseguirem novos leitores para a BD franco-belga. Um livro editado para ser prenda de Natal de todos que têm saudades da dupla, apesar da fórmula já estar muito desgastada. Um livro só para admiradores da coleção.

Blake e Mortimer 29: Oito Horas em Berlim

OITO HORAS EM BERLIM

Jean-Luc Fromental, José-Louis Bocquet e Antoine Aubin
Editora: ASA
Livro em capa dura com 64 páginas a cores nas dimensões de 23 x 31 cm
PVP: 15,90 €

Se não está a ler ou não tem um livro na mão… By Jove, algo se passa!!!

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