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V Festival Internacional de BD de Beja

Festival de BD de BejaMais um ano, mais uma edição do festival de Beja. Se o ano passado foi o desabrochar do festival com um ‘cabeça de cartaz’ sonante, este ano foi a confirmação. Da minha parte, fica aqui uma descrição dos dias 29 a 31 Maio.

Posso dizer que o festival, antes de ter começado oficialmente, me reservou muitas surpresas. Tendo escrito um texto sobre Gary Erskine para o Splaft, o catálogo do festival, fiquei extremamente surpreendido por saber que ia ter o privilégio de acompanhar Gary Erskine e a sua mulher na viagem de Lisboa para Beja onde pude constatar a enorme simpatia e simplicidade deste autor escocês.

Gery Erskine
Gery Erskine

Chegados à Galeria do Desassossego, já tínhamos à espera uma bela comitiva de autores constituída por Marco Mendes, Denis Deprés acompanhados pelas respectivas mulheres, Craig Thompson e Sierra Hahn, editora da Dark Horse (que surpresa das surpresas era a companheira de Craig) e o grande Mattotti. Isto sem falar da boa disposição de Geraldes Lino que chegou mais tarde.

Craig Thomson
Craig Thomson

Depois de termos experimentado os mais diversos estranho pratos da casa, começou a jornada na busca por um bar na noite bejense. Apesar de termos ‘perdido’ alguns companheiros nessa difícil campanha, fomos acompanhados pelo Hugo Teixeira e Vidazinha. Finalmente encontrado um bar com snooker que o Geraldes Lino tanto insistiu, uma alegre conversa bem regada com copos, desenhos (indecentes) e fotografias, a noite prolongou-se com um feroz combate de snooker entre as tropas portuguesas constituídas por Geraldes, Marcos e Hugo Teixeira contra os ianques Sierra e Craig que, verdade seja dita, não pareciam ter muito jeitinho para o jogo. Devido ao jet lag da viagem, Craig e Sierra tinham a pica toda para continuar no jogo mas como se costuma dizer, no dia seguinte trabalha-se e acabamos o jogo às 3 da manhã com um empate.

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Sábado, abertura do festival
Devido ao vento e temperaturas algo baixas na edição anterior, este ano foi decidido um adiamento do festival para uma altura de bom tempo. E que tempo! Céu limpo e temperaturas a rondarem os 40º que deixavam qualquer um de rastos, ainda para mais americanos e escoceses pouco habituados a este calor.
Ainda assim, este maravilhoso e terrível tempo não demoveu imensa gente de sair à rua e comparecer para a abertura do festival que, como é da praxe, se atrasou. Nada que não se revolvesse com 2 dedos de conversa com conhecidos e autores no mercado do livro. Após o discurso inaugural do Presidente da Câmara, as portas ficaram abertas para se poderem apreciar as diversas exposições. Tantas onde destaco o novo valor nacional que é Carlos Rocha, a vasta exposição de Mattotti, a diversidade de Gary Erskine e a simplicidade do traço de Craig Thompson.

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O maior afluxo de visitantes ao festival também se sentiu nos autógrafos onde Thompson foi dos mais requisitados e Erskine o mais demorado porque além de falar pelos cotovelos, dedicava-se a fazer desenhos com enorme atenção ao detalhe. Eram quase 20 horas e ainda estava a atender pedidos.
A programação continuou com as inaugurações das exposições Luminus Box, Venham+5, Voyager e Hugo Teixeira na Biblioteca Municipal, seguindo para o Museu Jorge Vieira – Casa das Artes com a exposição de Marco Mendes e finalmente acabando no Museu Regional de Beja, onde a obra de Alex Gozblau estava exposta e se realizou o habitual jantar volante.

Museu Regional de Beja
Museu Regional de Beja

Este jantar ficou marcado por uma justíssima homenagem a Geraldes Lino que foi apanhado desprevenido tendo ficado sem palavras. Uma homenagem pelo trabalho feito na área dos fanzines, pela sua extrema dedicação à nona arte e pela criação da tertúlia de BD de Lisboa que fez 24 anos nesta última quarta-feira, dia 3 Junho. Além do discurso do Presidente da Câmara de Beja, este ofereceu 4 medalhas da cidade e uma placa alusiva à homenagem.

Com muitos copos e boa disposição à mistura, os bedéfilos tomaram conta da Galeria do Desassossego onde este ano se realizou o concerto com os portugueses Million Dollar Lips! e à semelhança do ano passado prendeu a atenção de um dos autores presentes, neste caso o italiano Mattotti.

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Domingo…
E o sol sem dar tréguas. Uma visita guiada ao centro de Beja onde estavam presentes mais bejenses que visitantes de outras cidades coincidiu com o debate da Associação de Autores de Banda Desenhada. Esta reunião que dizem ter sido pouco frequentada parece mais uma vez confirmar a ideia de que apesar do muito que se fala e se podia fazer, a mesma “meia dúzia de cromos” da BD não se consegue juntar num grupo coeso. Ainda assim, do que depreendi do relato de algumas pessoas presentes, a associação parece ter dado alguns passos no sentido de tentar ter alguém que se dedique a tempo inteiro de forma a aliar esforços que neste momento estão dispersos em diversos projectos e que se poderiam unir em alguns poucos com mais impacto e pujança.

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O dia foi preenchido com conversas, workshops e apresentações, algumas das quais adiadas do dia anterior como as do Venham+5 #6 e O Maior de Todos os Tesouros de Carlos Rocha. Todos os anos por esta altura já é habitual a apresentação de um novo número da antologia Venham+5 que este ano muita gente estranhou ser tão “fininha” já o número de autores que participaram diminuiu.
Destaque para a apresentação de um novo autor de BD humorística, Carlos Rocha que apresentou o seu O Maior de Todos os Tesouros como parte integrante da colecção Toupeira.

Gary Erskine deu uma preciosa ajuda com o atelier “Entra no Mundo dos Comics” onde deu bastantes conselhos sobre como apresentar e melhorar um portfólio tendo analisado os de alguns autores presentes. Isto enquanto decorria na bedeteca as apresentações do Menino Triste de João Mascarenhas, Zona Zero e Celacanto.

Devido à sucessão de apresentações adiadas, todas estas apresentações ficaram atrasadas tendo a conversa com Craig Thompson sido adiada para as 18, altura em que infelizmente muitos de nós tiveram que sair.

De um modo geral penso que a edição deste ano fica marcada pelo “+”. + autores, + exposições, + pessoas, enfim, um festival mágico que já nos habituou a superar-se todos os anos.
Novidade nesta edição foi a sobreposição de vários eventos que infelizmente tornaram impossível assistir a todos, facto que comprova que o festival está a crescer bastante dando-se ao luxo de se dispersar em várias vertentes.
Este ano, os miúdos não foram esquecidos estando parte da programação bastante focada neles com os autores Rui Cardoso e Carlos Rocha disponíveis além de filmes e actividades para os entreterem.

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De notar que a manga continua com a pujança habitual estando este ano representado com 4 (!) exposições (All-Girlz, All-Girlz Banzai, Luminus Box e Hugo Teixeira) além da apresentação do All-Girlz Galore e lançamento do Monótonos Monólogos de um Vagabundo – Entrevista com Hugo Teixeira.

O festival acabou neste último fim-de-semana e já se ouvem algumas críticas já habituais sobre a aposta no alternativo. A verdade é que, como já ouvi dizer, “o alternativo é o novo mainstream”. O chamado mainstream parece estar a definhar, pelo menos a ver nas editoras que editavam material traduzido, enquanto que os fanzines, edições de autor e outros com tiragens reduzidas são o que parece mais vingar num mercado que já viu (muitos) melhores dias. Percebo a crítica e de certa forma compreendo-a mas ainda me vão convencer que Craig Thomspon é alternativo! (dêem uma vista de olhos no catálogo da editora Fantagraphics).

Confirmados (em principio) para o próximo ano já estão Hypoolyte e Mike Mignola numa edição que Paulo Monteiro já descreveu que “Será o melhor de todos os festivais que fizemos e o pior de todos os que haveremos de fazer!”
Com estes nomes não há que enganar, mais uma vez será a melhor edição de sempre do festival alentejano.

Tenho que agradecer ao Paulo Monteiro pela possibilidade de estar presente para escrever esta rubrica e também por um excelente trabalho de organização que apesar de tudo deve ser provavelmente quem menos aproveita o festival estando ocupadíssimo a resolver problemas que os visitantes nem notaram.

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