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Central Comics

Banda Desenhada, Cinema, Animação, TV, Videojogos

O Futuro na Lisboa Games Week (LGW)

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O Central Comics visitou a Lisboa Games Week (LGW) e espreitou para o futuro dos videojogos em Portugal.

Lisboa Games Week

A LGW decorreu entre os passados dias 23 e 26 de novembro, na FIL, e fez as delícias dos fãs de videojogos, jogos de tabuleiro, cosplay, cultura pop e muito mais. O Central Comics esteve lá e participou naquele que é um dos maiores eventos deste género em Portugal — vimos muitas coisas interessantes e outras… nem por isso.

Contudo, houve algo que nos chamou particularmente a atenção: uma forte presença de instituições de ensino superior (e não só), representadas tanto por professores como por alunos empolgados e cheios de vontade de nos contar o que andam a fazer. Não é a primeira vez que falamos acerca do futuro dos videojogos em Portugal no Central Comics, mas, desta vez, fizemos gazeta aos professores e fomos falar com quem realmente interessa, ou seja, os jovens que estão a dar os primeiros passos na área e que vão produzir os nossos videojogos de amanhã.

Muito para ver e fazer na LGW, incluindo levar um body slam!

Central Comics em ação

Este ano, o Central Comics fez-se representar na LGW por quatro titãs da imprensa portuguesa. Além de mim, o António Moura, o Ricardo Du Toit e a Inês Simões também têm novidades a não perder em breve no website e no canal do YouTube do Central Comics.

Praticamente um novato nestes eventos, tive a sorte de ter a orientação dos meus colegas e comecei por combinar encontrar-me com o António Moura à entrada. Após acenar a uns metros de distância, contava perguntar-lhe qual era o plano, mas fui bruscamente interrompido por um «BORAAAAAA!», e não tive grande tempo para reagir quando ele me agarrou pela manga da camisola e me começou a arrastar implacavelmente pelo tapete do recinto com um entusiasmo contagiante. Reparei que nos dirigíamos para uma zona particularmente concorrida por cosplayers, que pareciam estar a cercar um membro ressuscitado dos Beatles. Decidido, o António Moura conseguiu abrir caminho entre a multidão e, após um nariz partido e alguns olhos negros, chegámos ao centro e vimos o Ricardo Du Toit a receber pedidos dos cosplayers para lhes tirar fotografias. Percebi imediatamente que estava perante alguém que nada deve a qualquer Kardashian — correm rumores de que este ícone da indústria fotográfica leva uma vida de luxo sustentada a vender fotos, chegando até a vender cópias de fotos dele a tirar fotos em eventos de cosplay. Cercados, conseguimos apenas prosseguir quando o Ricardo Du Toit lançou autógrafos dele em forma de aviõezinhos de papel para longe, dispersando a multidão.

Não foram precisos muitos passos até nos depararmos com a Inês Simões vestida a rigor, a fitar-nos com uns grandes olhos vermelhos. Pois é, a minha vasta ignorância em cultura pop impede-me de vos informar a que personagem ela deu vida, mas posso dizer-vos que, após me conceder a honra de segurar na sua M16 de plástico, me informou muito delicadamente que se partisse o adereço, ela não me conseguia garantir que algo no meu corpo não se ia partir logo de seguida. Como não levei fraldas vestidas, decidi devolver-lhe a peça como se estivesse a pegar num Ovo Fabergé.

Cosplayer vampiro a fingir que está a pensar na estratégia quando, na verdade, observa o pulsar da carótida da adversária.

Universidade Lusófona na LGW

Assim que chegámos à banca da Universidade Lusófona, a nossa cara cosplayer disse algo em japonês e lançou uma granada de fumo — foi a última vez que a vi. Porém, os três restantes tiveram o prazer de experimentar em primeira mão o trabalho que está a ser desenvolvido no Curso de Videojogos e de falar com o Ricardo Almeida, o António Rodrigues e o Henrique Monteiro, três alunos de anos diferentes e um gosto óbvio por aquilo que estão a fazer.

Começaram por me desafiar a entrar numa tenda de campismo para experimentar um jogo com controlos alternativos e recusaram-se a dizer o que me esperava lá dentro. Encurralado, não tive alternativa a não ser enfrentar o desconhecido, visto que não fazia ideia o que eram «controlos alternativos». A experiência consistiu em jogar um minijogo em que os controlos são compostos por uma boneca de brincar. Isso mesmo, uma boneca de brincar que tinha de abanar o mais vigorosamente possível e dar umas estaladas aqui e ali, num jogo em que vesti a pele de padre a exorcizar uma criança ao chocalhá-la e esbofeteá-la. Épico!

Quando saí da penumbra do interior da tenda, fiquei encadeado com a claridade do exterior, mas consegui distinguir o Ricardo Du Toit a, tal Rainha Isabel II, acenar a um grupo de cosplayers em puro êxtase que passava vestido de villagers do Minecraft. A poucos metros de mim, o António Moura estava completamente imerso a jogar José Sócrates Dating Simulator, um pequeno projeto cheio de humor, desenvolvido pela Júlia, uma aluna de 1.º ano. Decidi então ficar um bocadinho à conversa com o Ricardo Almeida, aluno do 2.º ano.

O Ricardo explicou-me que sempre gostou de videojogos e queria aprender a fazê-los. E porquê a Lusófona? Disse-me ele que não teve grandes dúvidas, já que o curso é muito completo e prático, com o currículo complementado por um projeto levado do início ao fim. Ou seja, «quando acabamos o curso, temos algo palpável para mostrar e não apenas um diploma». Além disso, os alunos são frequentemente convidados a participar em projetos extracurriculares com entidades externas, permitindo-lhes começar logo a estabelecer uma rede de contactos com potenciais empregadores e investidores, assim como a desenvolver ainda mais o portefólio pessoal. «E o futuro?», perguntei. O Ricardo diz que a ideia é começar logo a produzir, mas que não fecha a porta a qualquer oportunidade.

Nesse momento, fomos interrompidos pela responsável pela comunicação da TVI no evento, a bradar e a implorar ao Ricardo Du Toit e ao António Moura que fossem falar com o elenco de Morangos com Açúcar que marcou presença na LGW.

Existem vários jogos desenvolvidos pela Universidade Lusófona disponíveis em diversas plataformas, incluindo Steam, itch.io e o próprio website da Lusófona.

Ricardo (esquerda), Henrique (centro) e António (direita), alunos do Curso de Videojogos da Universidade Lusófona.

O Instituto Superior Técnico na LGW

Sozinho e abandonado, prossegui com o périplo académico e dirigi-me à banca do IST, onde não me foi possível experimentar nenhum projeto, mas onde consegui falar com o Samuel Pinto, aluno de 1.º ano do Mestrado de Engenharia Informática. O Samuel diz que está no IST porque quer desenvolver videojogos e ali encontra um programa curricular completo. No futuro, quer desenvolver videojogos, mas não descarta outras oportunidades, como continuar no setor académico. Quando lhe perguntei que jogos tinham ali para eu ver, respondeu-me que posso encontrar alguns jogos de alunos do IST e da GameDev Técnico no itch.io, pagos e grátis.

Ao lado do Samuel estava sentada a Margarida Prates, que deve ter notado o meu franzir de sobrancelha quando ouvi o termo GameDev Técnico. «A Game Dev Técnico consiste num grupo de alunos do IST que se reúne para desenvolver jogos como hobby e também desenvolver os portefólios pessoais», comentou ela. Curioso, perguntei-lhe o que fazia ali, ao que ela me respondeu que, embora a sua formação seja em Belas Artes, gosta muito da indústria dos videojogos e quer trabalhar em 3D, mas sem recusar outras oportunidades à partida.

Retro gaming na LGW.

O Instituto Politécnico de Setúbal na LGW

Terminada a conversa técnica, notei que na banca ao lado estavam três jovens com ar aterrorizado e receio de que também os fosse entrevistar, de modo que foi exatamente isso que fiz.

O João Oliveira, a Camila Costa e o Ricardo [inserir aqui apelido que ele se esqueceu de me dizer porque toda a gente sabe que um repórter que se preze não pergunta o último nome aos entrevistados] disseram-me que fazem parte do Curso de Desenvolvimento de Videojogos e Aplicações Multimédia e decidiram-se pelo IPS por ter um programa equilibrado e abrangente onde aprendem de tudo, incluindo edição de imagem, edição de som e programação. Dizem também que, apesar de haver algumas matérias difíceis, o currículo do curso adequa-se a quem começa do zero. O Ricardo conta que, embora a indústria dos videojogos seja onde quer estar, o curso também lhe abre portas para outras áreas, com a Camila a acrescentar que, por vezes, os alunos passam ao lado deste tipo de cursos por ignorarem o quão enriquecedores podem ser.

Terminámos a conversa com os três a informarem-me que existe um conjunto de jogos de alunos do IPS no itch.io, resultantes de um desafio para criar um videojogo numa semana.

Arcade na LGW.

O Instituto Superior de Engenharia de Lisboa na LGW

Para terminar a ronda académica, fui visitar a banca do ISEL, onde a Joana, do 2.º ano, e o Pedro, do 1.º ano do Curso de Engenharia Informática e Multimédia me garantiram que o curso é excelente pelo magnífico espírito académico daquela instituição… mas não só, claro. O Pedro disse que trocou mesmo de curso porque este lhe abre muito mais portas, permitindo até que o aluno personalize o currículo de forma a melhor se adaptar ao que pretende. Quando lhes perguntei onde querem estar daqui a 3 anos, quando acabarem o curso, a Cláudia, do 5. ano, saiu das sombras e interveio com o comentário «ninguém acaba o curso em 3 anos», com apenas uma lata de cerveja esmagada a faltar para imitar o Quint na perfeição. Aproveitando o estatuto de veterana da Cláudia, perguntei-lhe que conselhos daria aos caloiros que entrem no curso para o ano que vem, e ela não hesitou em responder-me «foquem-se nos vossos objetivos, mas não percam as festas».

Os 3 informaram-me que não tinham ali nenhum projeto que eu pudesse experimentar, mas que a página do ISEL tem uns quantos exemplos. Quanto a matérias, disseram-me que gostaram muito de aprender a fazer um jogo clone do Minecraft.

Tal como o Quint, os clássicos nunca morrem realmente.

A LGW tem mais encanto na hora da despedida

E assim foi o meu percurso académico na LGW. Chegada a altura de me voltar a juntar à equipa do Central Comics, descobri que o espírito do evento levou a melhor sobre todos — vi o António Moura a liderar um mosh pit em frente ao palco principal onde decorria o concurso de cosplay, com a certeza de que estava na mira da câmara fotográfica do Ricardo Du Toit… e da M16 da Inês Simões. Posta a situação, decidi partir para a zona dos Indie Developers, onde encontrei uma velha conhecida do Central Comics. Mas essa aventura, fica para outro artigo.

Na memória levo um sábado muito bem passado e em excelente companhia, com uma certeza reforçada de que, no que toca à indústria de videojogos em Portugal, o melhor está para vir!

Dois gamers a tentarem perceber como é que o António Moura conseguiu um high score tão alto na máquina de dança.

Para terminar, fica a dica indispensável: não se metam com cosplayers, ou arriscam-se a descobrir que aquilo não são máscaras, mas sim segundas peles… e que o plástico também aleija!

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