Jogos: Snoopy & the Great Mystery Club – Análise

Snoopy & the Great Mystery Club traz o encanto intemporal dos Peanuts para uma aventura de mistério acolhedora, repleta de nostalgia, enigmas e aquele inconfundível espírito do beagle.

Jogo: Snoopy & the Great Mystery Club
Disponível para: PC, Nintendo Switch, PlayStation 5, Xbox Series
Versão testada: Nintendo Switch
Desenvolvedor:  Cradle Games
Editora: GameMill Entertainment

Há algo de mágico em entrar no mundo dos Peanuts, talvez seja o murmúrio da inocência infantil, talvez a imaginação sem limites do Snoopy, ou talvez o humor agridoce que Charles M. Schulz soube capturar de forma tão perfeita em cada tira. Snoopy & the Great Mystery Club não se limita a brincar com essa nostalgia, dá-lhe nova vida através do movimento, da cor e de uma interação suave.

O ciclo de jogo é simples, mas surpreendentemente rico. Cada caso começa com um problema, por exemplo, o jantar desaparecido do Snoopy, e desenrola-se através de exploração, diálogos e pequenos puzzles ambientais. Vais recolher pistas, interrogar amigos e descobrir tiras de banda desenhada escondidas pelo mapa.

Nos seus melhores momentos, o jogo encontra o equilíbrio certo entre acessibilidade e envolvimento. Os puzzles não são de partir a cabeça, mas mantêm-te concentrado. As pistas brilham, as falas dão-te pequenas dicas, e se te perderes, o mapa e os objetivos estão sempre claros. As diferentes “fantasias” do Snoopy (Snoopy Detective, Snoopy Pirata, Snoopy Escuteiro e outras) funcionam como mecânicas leves que dão variedade ao jogo. Alternar entre elas é divertido, embora por vezes as idas e voltas tornem o ritmo um pouco arrastado.

Os mini-jogos, espalhados pelos capítulos, são uma distração agradável, corridas, testes de memória, desafios de ritmo e mais. Nenhum se prolonga demasiado, mas também não evoluem muito. Pensa neles como um alívio cómico entre as caçadas de pistas , divertidos, leves e, por vezes, viciantes (o mini-jogo do Snoopy Jardineiro com o soprador de folhas merecia o seu próprio spin-off).

Visualmente, Snoopy & the Great Mystery Club é uma pequena vitória. A Cradle Games consegue capturar a estética dos Peanuts sem a distorcer em 3D, uma linha delicada que poucas adaptações conseguem respeitar. Cada personagem parece desenhada à mão, os cenários irradiam uma luz pastel acolhedora, e as animações subtis, como as orelhas do Snoopy a abanar enquanto corre, são pura alegria.

A banda sonora aposta em melodias suaves de jazz e sopros, evocando as partituras intemporais de Vince Guaraldi. Os diálogos são narrados com o tom familiar dos desenhos animados dos Peanuts, mas podem ser passados à frente caso prefiras ler ao teu ritmo. É evidente que os criadores adoram este universo, trataram-no com a ternura de verdadeiros fãs.

A narrativa divide-se em mistérios episódicos, cada um auto-contido, mas ligado pelas investigações contínuas do clube. É mais um “crime acolhedor” do que um caso frio. Não encontrarás reviravoltas chocantes nem dramas profundos, apenas tensão ligeira, diálogos inteligentes e muito coração.

Dito isto, o ritmo pode arrastar-se. Há momentos em que o jogo te envia repetidamente pela cidade por motivos triviais, quase como se quisesse prolongar o tempo de jogo. É perdoável num título familiar, mas jogadores mais experientes poderão desejar um pouco mais de dinamismo narrativo ou enigmas mais afiados.

Ainda assim, cada conversa com a Lucy, cada suspiro do Charlie Brown, cada tirada espirituosa do Snoopy soa autêntica.

Com uma duração de cerca de sete horas, o jogo é curto, embora os completistas possam prolongá-lo ao recolher todas as tiras de banda desenhada e os amigos do Woodstock espalhados pelo mapa. No entanto, após resolveres o mistério final, é o fim, não sendo possível revisitar a cidade depois dos créditos. Uma escolha de design estranha que limita a exploração pós-jogo.

Mais do que um jogo, Snoopy & the Great Mystery Club é como um postal caloroso vindo do mundo de Schulz, um lembrete de que até as histórias mais simples podem tocar fundo. Captura a essência dos Peanuts: amizade, curiosidade e aquele delicado equilíbrio entre melancolia e travessura.

Snoopy & the Great Mystery Club não é revolucionário, é reconfortante. Não é uma obra-prima dos puzzles, mas é uma carta de amor à imaginação de Schulz, envolta em design inteligente e autenticidade visual. Sejas um purista dos Peanuts ou apenas um fã ocasional, há aqui um sorriso à tua espera, a apenas algumas pistas de distância.

Nota: 7/10