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Jogos: Dreams of Another – Análise

Dreams of Another combina exploração surreal com mecânicas de criação através da destruição, oferecendo uma viagem artística mas divisiva por mundos de sonho.

Dreams of Another

Jogo: Dreams of Another
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation VR 2
Versão testada: PlayStation 5
Desenvolvedora: Q-Games Ltd.
Editora: Q-Games Ltd.
Data de lançamento: 10/10/2025

Dreams of Another

Há algo de estranhamente magnético num jogo que nos pede para extrair ordem do caos. Dreams of Another, o mais recente projeto da Q-Games Ltd., é exatamente isso: um título de ação e exploração na terceira pessoa em que a tua arma não destrói, cria. É uma premissa invulgar e, para um estúdio mais conhecido pela série peculiar PixelJunk do que por experiências artísticas, também um enorme salto para território desconhecido. A questão é: o sonho mantém-se coeso ou desfaz-se sob o seu próprio peso?

No centro deste sonho estão duas figuras, o protagonista de pijama e o seu leal guia, o Soldado Errante. Flutuas por um mosaico de cenários oníricos, aqui uma aldeia espanhola, ali uma feira, depois um mergulho no oceano. É deliberadamente desconexo, como mudar de canal enquanto dormes. A estrutura reflete essa inquietude: o jogo leva-te frequentemente de volta ao menu principal entre cenas, como se quisesse lembrar-te de que, sim, ainda estás a sonhar. Uns acharão isso engenhoso, outros apenas irritante.

Dreams of Another

Mecanicamente, o grande destaque é a “criação através da destruição”. Dispara uma MP5 contra um turbilhão de partículas e, de repente, surge uma rua, uma casa ou até uma personagem. Há uma verdadeira emoção em ver a névoa aguarela condensar-se em algo tangível, como pintar a tiro. Mas, passadas algumas horas, a novidade esgota-se. Continuas a disparar contra manchas luminosas para as acalmar, continuas a transformar nuvens em cenários. O ciclo começa a soar a trabalho de casa, mais sobre esperar pela próxima cutscene do que envolver-te no ato em si.

A progressão vem através de bugigangas, cerâmica partida, garrafas vazias, gemas soltas, que entregas ao Soldado. Em troca, recebes granadas, investidas e tipos de munição, juntamente com fragmentos crípticos de lore. É uma ideia interessante, embora as melhorias raramente alterem a essência da jogabilidade. O combate nunca escala em dificuldade, por isso as granadas acabam por soar mais a fogo de artifício opcional do que a ferramentas essenciais.

Dreams of Another

Se a jogabilidade te deixar morno, o estilo artístico pode reacender o interesse. Visualmente, Dreams of Another é deslumbrante. A “tecnologia de nuvens de pontos” confere a cada cena uma qualidade frágil e sonhadora, como caminhar por uma aguarela inacabada que se solidifica à medida que a moldas com a tua vontade. Aliada a uma banda sonora suave e assombrosa, a atmosfera assume grande parte do peso. É daqueles raros títulos em que paras de mexer apenas para olhar e ouvir.

Mas a narrativa? Aí é que o sonho vacila. O jogo apoia-se fortemente em diálogos, muitas vezes num tom plano e artificial. Alguns jogadores dirão que encaixa no ambiente surreal, como ouvir ecos num sonho, mas demasiadas vezes soa vazio. E a própria escrita divide: cheia de grandes questões filosóficas sobre vida, morte, criação e perda, mas raramente oferecendo respostas ou sequer uma ambiguidade satisfatória. Pode soar a ensaio universitário mascarado de poesia, pretensioso em alguns momentos, profundo noutros.

Dreams of Another

Ainda assim, há aqui um coração inegável. Apesar dos diálogos trapalhões e dos ciclos repetitivos, Dreams of Another tem reflexos de brilho. É belo, estranho e, por vezes, comovente de formas difíceis de explicar. Esse é o poder dos sonhos, nem sempre fazem sentido, mas deixam uma marca.

Nota: 7,5/10

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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