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Hollywood em disputa pelos cinemas portugueses

Em 2011 a Comissão Europeia concluiu uma investigação sobre a modernização da projecção nas salas de cinemas, com a transição dos tradicionais projectores de película para a moderna instalação dos projectores de cinema digital.

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Os estúdios de cinema de Hollywood importaram para a Europa o modelo comercial que usam nos Estados Unidos. Sob esse modelo de “taxa de impressão virtual” (“VPF”), uma vez que não existem gastos com a impressão em película dos filmes, os distribuidores de filmes (incluindo os principais estúdios de cinema de Hollywood) e os exibidores contribuem para os custos de investimento do sistema de projecção digital. A maneira como o modelo VPF normalmente funciona é que o “integrador” obtém financiamento, paga antecipadamente pelo equipamento digital e instala-o nos cinemas. Os distribuidores de filmes pagam ao integrador (que permanece o proprietário do equipamento até ao seu reembolso), ao longo do tempo: sempre que um filme digital é exibido no cinema, o distribuidor paga uma taxa para a recuperação do custo do equipamento. Os pagamentos VPF abrangem a maioria dos custos, sendo o restante pago pelos exibidores, que fazem um pagamento adiantado ao integrador. A maioria dos pagamentos VPF é realizado pelos principais estúdios de Hollywood.

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A Comissão Europeia manifestou preocupação pelo facto do contrato impedir que os pequenos distribuidores de filmes tivessem acesso às salas de cinema, que beneficiavam do acordo celebrado, podendo assim existir uma violação às regras da União Europeia sobre a proibição de práticas restritivas (artigo 101.o do Tratado UE).

Os estúdios de cinema de Hollywood envolvidos assentiram às alterações nos contratos com os exibidores de cinema em território europeu, tendo o processo continuado com uma investigação da Comissão com base na preocupações de que os contratos pudessem assim restringir o acesso de distribuidores independentes aos cinemas com equipamentos digitais. A revisão do contrato facilitou o lançamento de filmes independentes e de outras origens.

Joaquín Almunia, vice-presidente da Comissão responsável pela Concorrência Política, manifestou a sua satisfação na celebração do acordo

“por os estúdios de Hollywood terem considerado as nossas preocupações legítimas e modificou os contratos para que os cinéfilos pudessem assistir aos sucessos de Hollywood mas também a pequenos filmes de baixo orçamento ou artísticos com a mais recente tecnologia de ponta “.

A Comissão Europeia também apoiou a digitalização dos cinemas europeus através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e do programa MEDIA.

Serve esta nota introdutória para explicar o motivo de ver nos diferentes complexos cinematográficos portugueses os mesmos filmes em cartaz. E, de a grande maioria dos filmes propostos aos espectadores serem distribuídos pelos principais estúdios norte-americanos A conclusão é simples e óbvia: é uma obrigação dos cinemas exibirem os filmes de quem investiu no equipamento de projecção! A exibição de filmes de outras proveniências ficou assim limitada nos cinemas portugueses, salvada apenas pelas quotas introduzidas na revisão contratual.
E discretamente alguns filmes de outras origens tiveram estreia em Portugal, e o mesmo aconteceu com o cinema produzido em Portugal.

Antestreia do filme português A Herdade no Cinema Monumental

Depois do confronto entre a Comissão Europeia e os estúdios de Hollywood, este verão nos cinemas portugueses começou um novo braço de ferro eventualmente entre dois dos principais estúdios cinematográficos em disputa pelas salas de maior lotação da NOS Lusomundo Cinemas, exibidor que em 2018 tinha 225 ecrãs e 38,8€ da quota mercado (relação ecrãs por exibidor), e a Universal Pictures, um dos principais estúdios de Hollywood, distribuído em Portugal pela NOS Lusomundo Audiovisuais.

Foi com enorme surpresa que Velocidade Furiosa: Hobbs & Shaw, estreado a 1 de Agosto pela NOS Lusomundo Audiovisuais, ficou arredado das salas de cinema da NOS Lusomundo Cinemas.  Pela ocasião, o exibidor respondeu nas redes sociais a um espetador que perguntava pela exibição do filme derivado da saga Velocidade Furiosa, dizendo

“o estúdio do filme (a Universal) impôs condições comerciais que a NOS não pôde aceitar”.

Nunca foi noticiado que imposições comerciais teriam sido impostas pela Universal Pictures, mas é possível especular que o estúdio/distribuidor internacional não abdicaria de exigir a estreia do filme nas maiores salas dos complexos da NOS Cinemas. Ora, nesse mesmo período a Disney tinha em cartaz O Rei Leão, o filme recordista de espectadores em Portugal (desde 2004), e a esgotar as mesmas salas com maior lotação. E é também possível especular que a Disney possa deter a maior parte da quota de participação no fundo de financiamento de instalação dos projectores de cinema e assim sendo também não abdicou da exigência de prolongar o sucesso do seu filme. No braço de ferro entre estúdios de Hollywood, a Disney venceu e o principal exibidor português não estreou o filme da Universal Pictures.


Desde então, a estreia dos filmes distribuídos internacionalmente pela Universal Pictures não aconteceu nos Cinemas NOS. Entretanto a Universal Pictures estreou em Portugal (sempre através da NOS Lusomundo Audiovisuais) Tudo Bons Meninos, a 22 de Agosto, e no passado fim-de-semana Downton Abbey e os filmes não estrearam nas salas de cinema da NOS. Até ao final do ano estão previstas mais algumas estreias de filmes da Universal Pictures, com destaque para a adaptação cinematográfica de Cats e a animação Abominável.  Aguardemos pelas próximas estreias.

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