Cinema – Crítica: Sei o Que Fizeste no Verão Passado (2025)
Sei o Que Fizeste no Verão Passado é um regresso ousado a segredos cheios de sangue e sustos.
Na atual vaga de legacy sequels (ou sequelas nostálgicas/de legado, caso queiram levar mais à letra), poucas franquias de terror escaparam à tendência de serem reinventadas ou revitalizadas. Seguindo os passos de Scream (por Radio Silence) e Halloween (de David Gordon Green), o novo Sei o Que Fizeste no Verão Passado arrisca ao tentar dar nova vida a uma série slasher adormecida.
Tal como os seus predecessores, equilibra nostalgia com reinvenção, oferecendo referências suficientes para agradar aos fãs de longa data, ao mesmo tempo que abre um caminho novo e violento para uma nova geração.
Utilizando (e bem) uma premissa similar à do original de 1997, esta nova versão — realizada por Jennifer Kaytin Robinson — centra-se num grupo unido de jovens na casa dos vinte anos que se reencontram na sua cidade costeira natal, Southport, para o 4 de Julho. O motivo? A festa de noivado de Danica (Madelyn Cline) e Teddy (Tyriq Withers).
Por trás da celebração, emoções antigas e feridas não curadas começam a ressurgir, especialmente entre a protagonista Ava (Chase Sui Wonders) e o seu antigo amor Milo (Jonah Hauer-King). Na tentativa de recuperar o espírito despreocupado da juventude, o grupo — que inclui uma amiga reencontrada, Stevie (Sarah Pidgeon) — faz uma viagem nocturna por uma estrada perigosa junto às falésias para ver o fogo de artifício.
Mas o que começa como uma escapadela nostálgica termina em tragédia, quando acidentalmente provocam a morte de outro condutor. Dominados pelo medo, decidem esconder o acidente e fingir que nada aconteceu — uma escolha que os vai assombrar.
Um ano depois, as tentativas de seguir em frente são destruídas quando começam a surgir mensagens ameaçadoras: Sei o que fizeste no verão passado. O passado recusa-se a permanecer enterrado e, à medida que os corpos se acumulam, a culpa partilhada torna-se impossível de ignorar.
O filme explora de forma inteligente temas como a negação, a responsabilidade e o custo psicológico da repressão — não apenas para os indivíduos, mas para toda uma comunidade assombrada por traumas geracionais. É uma história sobre fingir que nada aconteceu, sobre segredos enterrados demasiado fundo e sobre como o silêncio pode ser tão mortal quanto qualquer assassino.
O que distingue esta sequela é a forma confiante como abraça o terror. Não desvia o olhar da violência — esta é uma entrada mais sangrenta e crua do que as anteriores. Jennifer Kaytin Robinson não tem receio de mergulhar nas raízes do género slasher, com mortes estilizadas e, por vezes, brutalmente chocantes, mantendo sempre uma tensão narrativa intensa. É ousado no tom, visualmente marcante e não está interessado em jogar pelo seguro.
Algo também bastante diferenciador é que as personagens de legado regressam com verdadeiro propósito. Jennifer Love Hewitt retoma o seu papel icónico de Julie James, numa interpretação carregada da dor de quem viveu com cicatrizes profundas durante décadas. Freddie Prinze Jr. também regressa como Ray, agora mais calejado e protetor.
O seu regresso não parece um truque barato; pelo contrário, dá à história um peso de legado e memória. Um dos momentos mais memoráveis do filme é uma participação surpresa — sem revelar pormenores, trata-se de uma piscadela aos fãs dos filmes originais, que vão adorar este detalhe.
Resta concluir que Sei o Que Fizeste no Verão Passado é uma atualização incisiva e oportuna, que respeita as raízes da franquia ao mesmo tempo que esculpe uma nova identidade brutal. É um slasher com alma — e um gancho!
Nota: 6,5/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.