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Cinema: Crítica – Na Praia de Chesil (2018)

Saoirse Ronan regressa numa adaptação do livro de Ian McEwan. Na Praia de Chesil estreia dia 5 de julho nos cinemas.

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[Crítica de Jonas Canelo]

Na Praia de ChesilNem todos os filmes têm de ser bons do princípio ao fim. Há filmes que se descrevem com uma cena, outros com um plano, este com um ano. É o ano de 1975, é o momento em que uma rapariga com um uniforme escolar entra numa loja de discos de rock. Enquanto vagueia pela loja, perdida, naquele ambiente que contrasta com o seu ar inocente, pede ao dono da loja (Billy Howle) um disco de Chuck Berry. Para surpresa de Edward, o protagonista, o disco era para o aniversário da mãe daquela rapariga muito educada. A mãe que, apesar de só ouvir música clássica, gostava imenso de Chuck Berry, descrevia-o como “merry” e “bouncy”. Uma antecipação que coloca qualquer carga emocional, que o filme pudesse ter, naquele momento em que o dono da loja oferece o livro à rapariga e a vê partir com um ar de estupefacto.

A seguir num convívio com uma pequena comunidade hippie ele conta a história de duas pessoas que se amavam muito, mas que se separaram por uma incompatibilidade juvenil. Assim acaba aquele ano do filme tripartido, com uma reflexão daquilo que se perdeu e não se volta a ter e assim se resume toda a narrativa.

Na Praia de Chesil (On Chesil Beach), por Dominic Cooke, é filmado em grande parte nas praias de Chesil, em Dorset. É um filme repleto de planos panorâmicos daquelas praias de cascalho e da natureza do sul de Inglaterra. Uma fotografia bastante pitoresca, acompanhada de uma boa escolha musical que tanto faz parte, como sai da cena. Baseado num romance por Ian McEwan com o mesmo nome, é uma narrativa de uma tensão que consegue criar até desconforto no espectador e retrata um tema muito “coming of age” versão anos 60. As duas personagens principais, Florence Ponting (Saoirse RonanLadybird, 2017) e Edward Mayhew (Billly Howle) encontram-se num quarto de hotel, recém-casados e são confrontados com a sua consumação, uma novidade para os dois. Para tentarem quebrar o gelo, conversam sobre coisas do seu passado e tentam arranjar temas que possam aliviar aquela tensão aflitiva. A narrativa avança entre flashbacks que pouco acrescentam às duas personagens principais e outros que têm potencial para tal, mas não são desenvolvidos. Esses saltos temporais não são claros. Nalguns parecem ser os protagonistas os narradores daquela história, noutros parecem tratar-se de memórias que não são partilhadas em voz alta. O motivo pelo qual existe aquela tensão acaba por ser revelado, mas nunca a sua causa; apesar de parecer haver pistas num dos vários flashbacks, nada é concreto.

Na Praia de Chesil

Aquelas cenas que constatam o óbvio, aqueles grandes planos, constantes e desnecessários, das mãos inquietas ou dos pés a bater que retratam um nervosismo exagerado e são o peso morto que impedem uma narrativa, com um forte potencial, de se desenvolver. Edward, um rapaz sem posses e com uma visão muito pragmática da vida casa-se com Florence, uma rapariga suburbana que toca violino e com um sentido de emancipação das figuras autoritárias da sua vida, seja a nível familiar ou político. Esta relação dualista entre estas personagens, com uma personalidade com tanto para oferecer, fica por aí, por essa possibilidade. Fica por uma interpretação que deixa um tanto a desejar, mesmo com uma jovem recentemente nomeada à academia Norte-Americana. Por cenas de comédia que nada vieram a acrescentar ao filme e por outras que podiam ter sido desenvolvidas, mas pareceram ter ficado esquecidas.

Na Praia de Chesil é um filme sobre escolhas, sobre a maneira como a ponderação e a oportunidade são desprezadas devido a uma intolerância ignóbil. A vida poderia passar-nos à frente dos olhos e mesmo assim cometeríamos os mesmos erros. Edward, tal como o realizador, tinha uma escolha para fazer e talvez não tenha sido a mais acertada. Ambos ficaram muito bem no último plano apesar de ter parecido um pouco forçado e sem uma base psicológica que o suportasse. Na Praia de Chesil é uma narrativa com um forte potencial e que foi mal aproveitada por Dominic Cooke.

  • Na Praia de Chesil estreia dia 5 de julho de 2018 nos cinemas.

2/5

Crítica de Jonas Canelo

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