Cinema: Crítica – A Presença
E se a tua nova casa estivesse assombrada por um poltergeist? Eis que o novo filme de Steven Soderbergh A Presença aborda essa temática por outra perspectiva.
Steven Soderbergh é um realizador estabelecido e talvez um dos últimos realizadores capazes de saltitar entre género de um modo transversal e verdadeiramente entusiasmante. Do coming-of-age de O Rei do Bairro, para o drama da vida real de Erin Brockovich, às danças de Magic Mike, podemos apontar a maioria das suas obras como sólidas e uma garantia de algo diferente, arriscado e que suscita curiosidade. Prova disso é a sua abordagem em Distúrbio, onde rodou a obra num iPhone. Desta vez, o realizador regressa ao terror adjacente, com A Presença.
Conhecemos os Payne, uma família típica norte-americana, com a mãe Rebecca (Lucy Liu), o pai Chris (Chris Sullivan), e os filhos Chole (Callina Liang) e Tyler (Eddy Maday), que se mudam para uma casa nova, habitada por um quinto membro: a presença. Durante todo o filme, vemos as várias interacções familiares dos Payne pelos olhos deste poltergeist, desenrolando o drama familiar de uma adolescente ainda a processar a morte da melhor amiga, e a pressão do filho-prodígio, no caminho do sucesso; enquanto que os pais, entre eles, sobrevivem ao dia-a-dia da sua relação marital.
A Presença é bastante eficaz na sua abordagem, muito porque durante grande parte do filme, apela o nosso lado mais voyeur. Naturalmente, quando este elemento intervém, as coisas tornam-se mais interessantes, mas este salto entre o dramático e o terror é algo necessário para manter-nos nas pontas dos pés, à espera de algo mais. Este também não é o primeiro filme a oferecer-nos a perspectiva em primeira pessoa durante toda a duração, mas é possivelmente aquele que nos faz mais sentir confortáveis nele, invés outras experiências mais explosivas como Hardcore.
Com um orçamento de apenas dois milhões de dólares, este filme é prova viva que os indies de baixo orçamento ainda são capazes de terem algum poder, com o cineasta certo a dirigir o projecto. Isto, aliado a uma técnica repetitiva que é tornada cativante pelo seu conteúdo, deixa-nos perante uma obra, no mínimo, intrigante. Ainda que nem sempre explore o seu máximo potencial – os sustos podiam ser mais assustadores e os dramas mais dramáticos – a obra segue uma linha narrativa aceitável dentro do género, capaz de satisfazer a curiosidade daqueles que vão à descoberta.
Assim, A Presença é mais uma obra na carreira sólida de Steven Soderbergh, que aqui se aventura novamente por um género conhecido pelo seu espaço criativo e possibilidade de contar histórias diferentes, com um filme satisfatório, mas que poderia ser ainda melhor corresse mais riscos narrativos.
Nota Final: 6/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.