Análise: Liga da Justiça de Zack Snyder (SEM SPOILERS)
A versão muito pedida da Liga da Justiça por Zack Snyder, está finalmente na HBO! Será que é desta que finalmente temos um filme digno da grande super-equipa da DC Comics?
A Liga da Justiça regressa, mais unida que nunca! Toda a gente já deve saber a história, mas cabe-me rebobinar convosco se mo permitirem.
Zack Snyder tinha uma visão, admitidamente dúbia, de criar uma panóplia de filmes que mostrassem o universo DC. Seria uma coisa mais agressiva, realista (ou tão realista quanto um kryptoniano consiga ser), algo que remontasse a 300 e Watchmen, filmes esses que, ao fim e ao cabo, lhe garantiram a cadeira de realizador para Homem de Aço em 2013.
O problema é que enquanto o sangue, violência, melancolia e destruição ficam bem nas histórias previamente abordadas (e sim, eu sou culpado, eu gostei do Watchmen de Snyder), o nosso amigo Clark Kent não é propriamente uma personagem sombria… e ai começou a parecer que Zack queria trabalhar com um tal morcego Gothamita.
O que se tornou evidente quando lhe deu top-billing na sequela, Batman V Super-Homem que, confesso com algum pesar, é um filme giro. Pena que o Batman se torna um tanto pateta/paranoico e claramente homicida. Afinal de contas, Bruce mata uma dúzia de capangas sem nome pelo filme fora.
Claro nós já vimos Batmans tanto mais patetas nos nossos livros de banda desenhada, mas isto estava a ser vendido como sendo o principal “UNIVERSO DC” do cinema… alguma fidelidade era-nos devida. Não obstante, cenas como o salvamento de Martha são bonitas e nós entretemo-nos a comer pipocas.
Com Clark sepultado, sobrava-nos a união dos heróis da DC. Prometiam-nos o fechar de um ciclo, uma espécie de trilogia, mas o universo tinha outros planos. Nos finais da produção Zack abandonou o projeto.
Não sobram dúvidas que a Warner Bros se via numa alhada porque percebia (ou dizia perceber) as críticas das plateias. Queriam oferecer, desta feita, um filme que nos deixasse mais “contentes”. Isso é uma parte importante da decisão que tomaram, mas está longe de ser o fator mais importante aqui.
Esta nova versão de 4 horas de Justice League, que repõe cenas cortadas, remove as adições de Joss Whedon (que em 2017 tomara as rédeas do projeto) e inclui cenas novinhas em folha, abre com uma mensagem importante. Mais importante que as guerras nas redes sociais, mais importante que as burocracias dos estúdios. “Para Autumn”
E agora, intrépido leitor?
Como omitir spoilers na crítica de um filme que supostamente já circula há 4 anos? Com cuidadas omissões e comparações, claro!
Relembro que podem (e devem!) revisitar este texto após verem o filme para melhor perceberem os argumentos nele feitos. Argumentos esses que poderão então desvalorizar à vontade porque, convínhamos, todos temos opiniões e eu provavelmente esqueci-me de alguma coisa aqui pelo meio.
Mas estou a escrever em código, e peço-vos o desconto.
A qualidade e falhas do produto original (ou dos bocados que dele sobram) mantêm-se, mas são complementados por todo um novo projeto à sua volta. Outrora vimos este filme por um buraco na parede, mas agora abriram-nos a porta. Não vos minto quando afirmo que este conteúdo adicional contextualiza e enaltece muito do que vimos antes, mas também traz a sua mão-cheia de problemas.
É um filme de Zack Snyder e isso significa diálogos onde não fazem falta, por vezes expositivos ao ponto da paródia. Significa que as mortes vão empilhando, e os heróis são asneirentos.
Cyborg, Flash e, até certo ponto, Aquaman são os grandes vencedores desta versão do filme. Devidamente aprofundados, os seus motivos e crescimento são o que mais marca a diferença nesta longuíssima-metragem. Cyborg passou de “personagem de fundo” para um dos grandes núcleos emocionais do filme. Flash já não é só tagarela, percebemos um pouco melhor o que ele passa e, principalmente, vemos o seu poder como nunca antes. Por fim, Aquaman transcende o estatuto de Super-homem Atlanto-Dothraki. Aqui percebemos a sua hesitação e compreendemos melhor os problemas familiares que viriam a ser explorados e, finalmente, resolvidos no seu filme homónimo.
A fotografia mantem-se bem conseguida, a banda sonora fica meio estranha e pode estranhar-se pelo filme fora, senti ainda a falta de certas sequências e estranhei a inclusão de outras.
Eis que estava a tentar escrever o resto do texto quando o vislumbrei. De alguma forma um rotundo e simpático elefante invadira o meu escritório? Diz chamar-se “adições desnecessárias”. Sim o elefante na sala é fluente.
É fácil olhar para certos momentos d’”O Despertar da Justiça” ou Justice League e pensar que estão “a dar passos maiores que as pernas”, ou “a jogar à apanhada com os filmes da Marvel”. Exercícios de expansão do universo, através de certas sequências que acabam por parecer “coladas com cuspo”, trailers transparentes para futuros filmes. Quando mal conseguidas, estas cenas acabam por ser inteiramente dispensáveis e inconsequentes para os filmes nos quais se inserem.
Lembram-se de termos visto um Flash do futuro em BvS? Pois, não sei qual de vocês pediu mais disso, mas o Zack fez-vos o favor…
São os últimos 15 minutos, estamos quase a acabar o filme e… Snyder perde o fio à meada do que tinha sido até esse ponto um filme competente. Não estava desprovido de problemas, porque já tínhamos levado com algumas sequências igualmente dispensáveis e, claro, dialogo manhoso, mas foi só ao chegar à meta que Zack nos entornou o caldo.
Uma torrente de set-up para os próximos filmes, com cameos forçados ou desnecessários, personagens mal ou sub-caracterizados, e a mais divertida fala que ouvi do Batman.
Ok, não foi assim tão divertida, mas eu ri-me porque estava perdido, desesperado.
Como assim?
De repente já não estava a ver a Liga da Justiça. Teria tocado num botão errado ou adormecido no leito de um vil pesadelo? Se calhar Barry teria corrido tão rápido que a minha ténue realidade ter-se-ia estilhaçado, vivia agora um universo alternativo.
Mas paródia à parte, por momentos acreditei, caro leitor.
Por momentos acreditei que estava a ver um “fan-film” produzido por um qualquer adolescente apaixonado pelas suas BDs mais violentas. Aquelas que mostram maminhas de vez em quando, vocês sabem quais são. E o filme agora era “grim-dark”, e “edgy”, e só faltavam umas 30 bolsinhas espalhadas por cada personagem para me fazer acreditar ser uma adaptação do infame trabalho de Liefeld (já tinham um tagarela escarlate, afinal de contas).
Subitamente a cena terminava e a normalidade voltava, mas Zack ainda tinha uma carta na manga. Foi a meio da última cena do filme, Senhor Agente. Foi a meio da última cena que Zack Snyder não só me disferiu mais um aneurisma de seu nome “dialogo desnecessário”, como também abriu um plot-hole a modos que grande no filme.
Porra!
São 3 horas e 45 minutos de entretenimento legitimamente bem conseguido, com ritmo devido, boas personagens e divertidas sequências, que se fecha com uma maldita “Snyderzisse”.
Eu gostei imenso do filme, mas para quê fechar a experiência com um dissabor? Pensava que Zack ia provar erradas as más-línguas do Twitter, mas, Metron ajudai-nos, como é que se espalhou assim?
Começa aceitável, fica “muita fixe” e depois pumba. Tá bem, Zack, alguém há de gostar… Talvez… Algures… Daqui a uns anos?
Pronto, amigos, temos a mítica “Snyder-cut” e eu estou feliz. Agora dêem-me a “Schumacher-cut” do Batman Para Sempre, se faz favor.
7/10
Análise: Liga da Justiça (2017)
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!