“Oppenheimer” e o sucesso do grande formato
Oppenheimer, de Christopher Nolan, chegou aos cinemas em vários formatos em película e cinema digital (recordar aqui notícia), sendo a versão mais rara e impressionante em película IMAX de 70mm. Existem apenas 30 salas em todo o mundo a projectarem a versão IMAX 70mm de Oppenheimer, o que tem levado à loucura inúmeros cinéfilos e fãs do cineasta.
Oppenheimer, um drama de três horas que pode ser descrito como um filme sobre pessoas a conversar, não seria o filme que o público normalmente desejaria assistir nas salas de grande formato. No entanto, as salas IMAX acumularam uns impressionantes 20% da receita da estreia global de 180,4 milhões de dólares. E o sucesso nas bilheterias aumentou a cada sucessivo fim de semana de exibição, com a versão de IMAX 70mm a arrecadar 17 milhões de dólares em mês de exibição, um número impressionante para uma opção tão limitada.
Com o avanço tecnológico para ver cinema em casa, as televisões cada vez maiores e com melhores resoluções de imagem, muitos espectadores têm optado por desenvolverem uma sala de cinema doméstica e assim desfrutarem das produções cinematográficas. No entanto, os formatos que permitem grandes ecrãs como o IMAX 70mm são algo totalmente diferente.
Apesar do reduzido número de cinemas que projectam Oppenheimer em IMAX 70mm (19 nos Estados Unidos da América, 6 no Canadá, 3 em Inglaterra, 1 na Austrália e 1 na Chéquia), o sucesso é gigantesco e as projecções foram prolongadas para além do inicialmente programado. As lotações esgotadas sucessivas, demonstram a excitação provocada entre cinéfilos e fãs. Existem espectadores a fazerem longas viagens para assim assistir a uma das sessões, e a venda de bilhetes faz-se com muita antecedência.
De acordo com o cineasta Christopher Nolan, IMAX 70mm é a experiência de cinema ideal porque “a nitidez, a clareza e a profundidade da imagem são incomparáveis”. Mas existem sérias limitações quando se trata de levar o formato a mais espectadores por todo o mundo. Por um lado, a IMAX tem apenas 30 projetores em itinerância por todo o mundo e leva três dias para criar cada cópia. Como a maioria dos cinemas mudou completamente para a projeção digital, a empresa trabalhou durante dois anos para avaliar, reinstalar e consertar projetores IMAX 70mm, enviando equipas de tecnologia a cada local para aperfeiçoar os componentes audiovisuais.
Para a exibição de Oppenheimer, a IMAX supervisionou a contratação de 50 projeccionistas de filmes em todo o mundo e ajudou a desenvolver a primeira película em IMAX 70mm a preto e branco, recuperando da reforma alguns dos funcionários mais experientes da Kodak para colaborarem no processo.
As dimensões de cada cópia de Oppenheimer IMAX 70mm impressionam: são mais de 17kms de película e a cópia pesa 272 kgs!
Nos últimos anos, a solução IMAX 70mm atraiu cineastas mais jovens como Jordan Peele e Damien Chazelle, criando a esperança de que no futuro seja utilizado regularmente pelo cinema de grandes audiências.
70mm e IMAX 70mm são soluções cinematográficas diferentes.
Falando do outro formato de grande ecrã e espetacularidade cinematográfica, nos últimos anos, foram impressas cópias em 70mm de filmes como Babylon, de Damien Chazelle, NOPE, de Jordan Peele, Morte no Nilo e Crime no Expresso Oriente, ambos realizados por Kenneth Branagh, Tenet e Dunkirk, de Christopher Nolan, Os Oito Odiados, de Quentin Tarantino, ou The Master – O Mentor, de Paul Thomas Anderson. As referidas cópias não chegaram aos cinemas portugueses.
Entre 1955 até ao início dos anos ’90, a solução do 70mm esteve instalada em cinemas portugueses como Condes, Império ou Monumental, em Lisboa, Coliseu, Foco ou Trindade, no Porto, entre outras salas. Os espectadores preferiam as sessões especiais não só pelo tamanho e qualidade da imagem, mas também pelo desempenho sonoro que já oferecia 6 canais diferentes de som muito antes da chegada do Dolby Stereo ou das soluções de som Digital.
As últimas instalações em Portugal do grande formato de imagem aconteceram no Vila Franca Centro e no Multimeios de Espinho, onde foram exibidos documentários.
Durante os últimos anos, um dos projectos para o Cinema Batalha, no Porto, (Multimax – Cinema Gigante e Multiformato do Porto) – também – contemplava a exibição dos clássicos do cinema em cópias de 70mm. O projecto previa oferecer aos espectadores a oportunidade de assistirem em glorioso e esplendoroso 70mm a filmes como Música no Coração, de Robert Wise, Doutor Jivago e Lawrence da Arábia, de David Lean, ou Hamlet, de Kenneth Branagh, entre muitos outros títulos obrigatórios da 7ª arte.
Os últimos filmes projectados comercialmente nos cinemas portugueses em 70mm terão sido O Abismo, de James Cameron, ou O Urso, de Jean-Jacques Annaud, com os escassos diálogos simultaneamente legendados em inglês e português.
A trilogia original de Star Wars também foi projectada em 70mm na sua estreia em Portugal. Tráfego e Estiva (1968) foi o primeiro filme de 70mm realizado em Portugal. O filme é um documentário de 17 minutos realizado por Manuel Guimarães.
Em Portugal, Oppenheimer não estreou com cópias em película, seja de 35mm, 70mm ou IMAX 70mm.
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.