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Jogos: Análise – Teacup (da Whitethorn Games)

Teacup é muitas coisas: é o jogo de estreia do pequeno estúdio independente Smarto Club, oriundo do Chile; é o nome da protagonista; é uma aventura gráfica muito simples com uma história encantadora. Mas, acima de tudo, eu diria que Teacup é um estado de espírito.

A protagonista da aventura, Teacup, é uma rã que adora relaxar com uma boa chávena de chá e um livro. Na véspera de receber os seus amigos em casa para um chá, Teacup entra em pânico ao perceber que a sua despensa e os seus frascos estão completamente vazios. De enciclopédia em riste, a pequena rã parte floresta adentro para obter todos os ingredientes de que precisa para o encontro do dia seguinte. 

Para conseguir recolher tudo aquilo que é necessário, a protagonista terá de contrariar a sua timidez e interagir com os restantes habitantes da floresta – principal mecânica de progressão na aventura. Estes seus vizinhos fornecer-lhe-ão informações sobre o paradeiro de outros habitantes, sobre os ingredientes que procura ou, em alternativa, pedir-lhe-ão pequenos favores sob a forma de minijogos simples.

Quando se analisa uma experiência como Teacup, é fácil cair num discurso em que se define o jogo pela negativa, isto é, em que se define o jogo por tudo aquilo que não é – inferindo-se, nos intervalos dessas palavras, tudo o que supostamente deveria ser, por decreto dessa entidade coletiva nebulosa que somos nós, os jogadores. Por exemplo, Teacup não é complexo nem é exigente. Se apenas procuram experiências desafiantes e sistemas de jogabilidade complicados, talvez este não seja mesmo o produto que procuram. Isso, todavia, não faz de Teacup um mau jogo nem daí decorre um juízo pejorativo sobre a sua jogabilidade: simplesmente faz deste título uma experiência que não é para todos. Em vez de analisar um jogo pelo que não é, analisarei então Teacup por aquilo que é e por aquilo que realmente oferece. 

Então, afinal, o que é Teacup? Em primeiro lugar, é um jogo esteticamente muito cuidado e extremamente bonito. Todos os cenários e personagens têm um estilo e uma animação que os assemelha a livros e séries infantis, com todo o charme que daí advém. Pormenores como as entradas de enciclopédia correspondentes a cada ingrediente ficarem coloridas quando finalmente os obtemos, para além de serem adoráveis, contribuem para esta estética encantadora. As composições musicais são simples e agradáveis, e os ambientes sonoros, discretos e sempre presentes, dão vida e profundidade ao jogo. Os diferentes elementos visuais e áudio complementam-se e valorizam-se mutuamente, num casamento… wholesome.

O termo wholesome, que antes era usado para classificar uma conceção muito tradicional de pureza e integridade moral, foi reapropriado na última década para passar a simbolizar valores de bondade, de inclusão, de sinceridade, da procura e partilha dos pequenos prazeres e confortos da vida. Originalmente uma realidade sobretudo americana e fortemente nostálgica, a cultura wholesome é hoje um fenómeno relativamente global e progressista. Teacup é notoriamente um produto desta onda cultural emergente: é um jogo bonito e sincero sobre uma rã que gosta de chá e que mantém relações de entreajuda com os seus vizinhos. E não é mais que isso.

O aparecimento e explosão mediática de movimentos como o cottagecore ou a cultura wholesome parece indiciar uma procura cada vez mais consciente de experiências aconchegantes por parte do público. Teacup é a encarnação dessa procura e desse estado de espírito. Teacup não tem inimigos, não tem confrontos, não tem game overs, nem exige dezenas de horas do vosso tempo. Em vez disso, conta de uma forma muito bonita uma história simples e breve (concluí o jogo em sensivelmente três horas) em que não há vencedores ou perdedores, há apenas uma rã à procura de chá.

Classificação: 8/10

Teacup foi publicado pela Whitethorn Games. O jogo está disponível para PC (via Steam), Switch (versão avaliada), PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series S e X.

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