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Cinema: Crítica – Suspiria (2018)

Dakota Johnson chega a Berlim para uma audição de dança, mas segredos ocultos serão revelados acerca das profundezas deste local. Conhece o terror psicológico de Suspiriaum remake das mãos de Luca Guadagnino.

Dakota Johnson é Susie Bannion, uma dançarina jovem que chega a Berlim nos anos 70 para uma audição na famosa Companhia de Dança Helena Markos. Ao impressionar a Diretora Artística, Madame Blanc (Tilda Swinton), numa dança natural sem qualquer musicalidade sonora, Susie passa rapidamente ao lugar de bailarina principal. Todavia, Olga, a dançarina que ocupava esta posição, desaparece após acusar as diretoras da companhia de serem bruxas. À medida que as semanas vão passando, Susie cria amizades com colegas e diretoras e vai-se apercebendo do verdadeiro objetivo deste local.

Em paralelo, um psicoterapeuta, Dr. Josef Klemperer, também interpretado por Tilda Swinton apesar de não ter qualquer relação entre as personagens, tenta desvendar os segredos da companhia com a ajuda de uma bailarina para chegar às terríveis profundezas ocultas neste edifício.

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Suspiria aborda as três mães mitológicas da trilogia de Dario Argento, nomeadamente Escuridão, Lágrimas e Suspiros, dando o indício que talvez se recrie os restantes dois filmes eventualmente. Desta vez realizado por Luca Guadagnino (Chama-me pelo Teu Nome), as diretoras da companhia procuram a mãe principal, mais velha e líder das outras, Suspiria, enquanto que uma afirma ser uma das outras mães. Com um início misterioso, segue-se a abertura do filme do tema “Suspirium” de Thom Yorke, o compositor de toda a banda-sonora, que constrói uma musicalidade melancólica, misteriosa, aterrorizadora, mágica e uma ponta de optimismo e esperança. Uma abertura de certa forma com semelhanças a uma mini-série, fortalecendo a ideologia de trilogia futura.

Deste modo, a música de Thom Yorke combina perfeitamente com o espaço temporal conflituoso, uma Alemanha durante a Guerra Fria, numa companhia somente de mulheres e protegida pelas suas Diretoras, tendo estas um elenco vasto e brilhante. A narrativa contém uma variedade enorme de personagens e o argumento está construído de um modo excepcional que nos permite compreender a personalidade e individualidade de cada uma. Madame Blanc é o grande nome das figuras superiores que nos são apresentadas num excelente plano-sequência durante eleições internas pelo diretor principal da companhia.

A protagonista ambiciosa, Susie, chega assim a Berlim e revela o seu talento natural, sensual e erótico desde o início, entrando num mundo multicultural que permite ao diálogo transitar entre inglês, alemão e francês. A dança e a sua inteligência posicionam-na num patamar alto, possibilitando-lhe relações fortes com colegas e superiores. Todavia, não é um simples filme em que visualizamos uma dança de modo a nos emocionar. Todas as cenas possuem um determinado objetivo, cortando as belíssimas coreografias com um terror abismal, o que cria um contraste único vindo da mente de Luca Guadagnino que permanece no seu decorrer e é capaz de nos passar um medo e susto que consegue tornar-se fascinante para o olhar devido essencialmente à meticulosa atenção que o realizador tem à fotografia.

Deste modo, seja na fotografia, música, iluminação, edição, diálogos e desenvolvimento do filme, existe um terror psicológico constante, mas sedutor, que permite ao espetador relacionar-se facilmente com a protagonista e possível transformação de carácter que poderá ter.

No entanto, nem tudo encaixa perfeitamente na narrativa apesar de ser compreensível o seu objetivo. A história em paralelo do psicoterapeuta transmite uma sensação de quebra na narrativa e deixa-nos a refletir do que seria o filme sem a sua presença. A técnica e representação em si não estão em questão mas sim precisamente o modo como se torna uma exposição demasiada aos enigmas da companhia. Contudo, também é a sua personagem que nos facilita compreender vários detalhes sobre o local e acentuar o suspense do filme e relação destas bruxas com uma figura do exterior.

Por fim, Suspiria contém um elenco brilhante e é uma experiência única encontrada em poucos filmes do género. O seu clímax e eventual final não é capaz de nos transmitir uma sensação de satisfação total, mas sim uma reflexão permanente e perturbadora acerca da dimensão e sensibilidade da história desenvolvida.

  • Suspiria estreou a 22 de novembro 2018 nos cinemas.

7/10

Tiago Ferreira

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