Cinema: Crítica – Raiva (2018)
Foi em Maio deste ano que o realizador Sérgio Tréfaut encerrou o IndieLisboa com a sua mais recente obra, Raiva, adaptada do romance “Seara de vento” de Manuel da Fonseca, publicado em 1958. A sua nova película regressa agora aos cinemas, preparado para não deixar o seu público indiferente.
Inspirada por um episódio violento ocorrido em 1933. que ficou conhecido como a “tragédia de Beja”, o filme, passado no ano de 1950, conta a história de Palma (Hugo Bentes), um homem duma família que vive na pobreza local alentejana, tentando arranjar trabalho quando possível para os conseguir alimentar. Palma eventualmente é oferecido a oportunidade perigosa de ser contrabandista, ao qual culmina na sua retaliação contra os ricos daquela terra.
[ad#artigo]
O inicio do filme começa pelo fim, ao vermos Palma no seu estado mais negro, cheio de raiva, enquanto dispara a sua caçadeira contra os militares que tentam meter o povo na ordem, enquanto protegem aqueles com dinheiro. Depois disto, vemos todas as acções que levaram a tomar decisões violentas.
Este é um filme de aplaudir o elenco, este composto por grandes nomes como Cataria Wallenstein, Adriano Luz e Isabel Ruth, que encaram de uma forma realista às suas respectivas personagens, onde a crueldade dos tempos reflecte sem dó nem piedade a vida de ser pobre em Portugal.
Do outro lado, Sérgio Tréfaut juntamente com o director de fotografia Acácio de Almeida, criam o ambiente tão pesado como de clássico do cinema a preto e branco, perfeitamente executado, com enquadramentos arrepiantes de se ver e sentir. Considerando a natureza crua que o filme aborda, aqui a estética funciona como um contra-balanço da miséria retratada na obra, onde o vazio tem um significado que vale mais que mil gritos.
No fim, Raiva vai na direcção oposta do cinema português comercial, não tendo receio ser directo, confrontador e com a capacidade de deixar o espectador a pensar no passado dum país que parece ter esquecido alguns dos seus problemas sociais, feita duma forma tão ressonante que incomoda.
Nota Final: 3/5
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.
Só 3?!!! Merecia 5. No mínimo.
Adorava que fosse adaptado para BD.