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Cinema: Crítica – Pobres Criaturas

Com a estreia de Pobres Criaturas, protagonizado por Emma Stone, o cineasta grego Yorgos Lanthimos leva-nos numa viagem ao imaginário, mas será este o filme merecedor de toda a atenção que tem recebido?

A carreira de Yorgos Lanthimos é considerada das mais distintas do cinema, tendo começado a fazer ondas no cinema grego, foi com Canino (2009) que o realizador se estabeleceu como um dos grandes nomes. Mais tarde, com a sua estreia com filmes falados em inglês, A Lagosta (2015) abriu as portas para a reputação do cineasta como o conhecemos hoje: um criativo com personagens estranhas, em situações estranhas, que nos faz reflectir em nós mesmos. O acto repete-se em O Sacrifício de Um Cervo Sagrado (2017) e o nomeado para os Óscares, A Favorita (2019), onde trabalhou com Emma Stone. Essa amizade acabaria por se transformar numa cumplicidade criativa que nos traz até hoje, com Pobres Criaturas.

Baseado no livro homónimo de Alasdair Gray, Pobres Criaturas conta-nos a história de Bella (Stone), uma rapariga com um desenvolvimento mental diferente de outras pessoas, criada pelo Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). Ao conhecer Max McCandles (Ramy Youssef), um estudante de Dr. Baxter, estes planeiam estudar o crescimento de Bella. Mas esta tem outros planos, quando conhece o exuberante Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um homem disposto a mostrar-lhe o mundo que tanto lhe têm escondido. Durante a sua viagem pela Europa, que inclui uma breve e emblemática passagem por Lisboa – não faltando um momento de fado por Carminho – Bella descobre quem ela é e quer ser no mundo, levando-nos numa jornada inesquecível.

Depois de A Favorita, foi possível ver como Lanthimos demonstra a sua paixão em contextos históricos e fantásticos, onde a leveza da comédia pode alimentar a estranheza do imaginário, e de certo modo, um filme como Pobres Criaturas era um passo natural que iria acontecer mais tarde ou mais cedo pela mão do cineasta grego. Felizmente, este mundo criado para o grande ecrã é uma viagem de tanta loucura, como de empatia, enquanto descobrimos o Mundo Novo como ele muitas vezes é descrito na nossa própria cabeça. Aliado a um visual steampunk, e às infinitas possibilidades que este universo esconde e revela, o filme abre a porta para nos deixar entrar e oferecer algo que nos fica na cabeça muito depois de sairmos do cinema, tal como os contos de fadas que nos contavam em novos, excepto com algumas alterações mais adultas.

Emma Stone pode ter iniciado o seu caminho em ser mais uma rapariga destacada nos filmes de Hollywood, mas as suas colaborações com Lanthimos demonstram que existe muito espaço para trazer o melhor de cima da actriz, permitindo-a explorar personagens que possivelmente com outro cineasta nunca teria a oportunidade de explorar ao detalhe, e Bella é uma personagem com uma responsabilidade enorme, com uma curiosidade infantil que transcende para além do filme, convidando-nos também a ceder a essa ingenuidade. Envolta dela, Ruffalo oferece um balanço cuidado de loucura controlada, como descontrolada; enquanto que Dafoe encarna uma personagem clássica destes contos, junto a Youssef.

Com isto, Pobres Criaturas é definitivamente uma das mais memoráveis obras, vindo de um cineasta com uma carreira praticamente impecável, e que não pára aqui: Já fora anunciado que o mesmo realizou em segredo um filme, novamente protagonizado por Emma Stone, Willem Dafoe e Margaret Qualley, com estreia ainda não definida, mas é apenas mais uma demonstração de como o mesmo se estabelece no meio de tantos outros cineastas.

Nota Final: 9/10

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