Cinema: Crítica – Madame Web
Cassandra Webb é uma socorrista com um doloroso passado que regressa para assombrá-la quando descobre que consegue prever o futuro. A sua vida cruza-se com a de três jovens perseguidas por um vilão com temíveis poderes.
Universo Aranha da Sony
Este filme é mais um numa longa lista de “filmes do Homem-Aranha sem o Homem-Aranha” que a Sony Pictures tem vindo a desenvolver estes últimos anos, porque não quer de todo ajuda do monopólio Marvel para fazerem filmes giros, interessantes, ou pelo menos fieis às personagens. Recorrendo assim à matemática para resolver a equação apresentada à priori, tratam-se de “filmes”. Recorrendo por outro lado à história, torna-se tudo um pouco mais complicado.
![Madame Web](https://www.centralcomics.com/wp-content/uploads/2024/01/madameWeb_02.png)
Infelizmente o Venom deu aos responsáveis compinchas uma coragem desmedida, e o merecido sucesso dos “Aranha-versos” tem alimentado essa coragem, pois a equipa de produção continua a comparar os alhos, vulgo filmes criados por artistas capazes e apaixonados, com os bugalhos, vulgo o Morbius.
Madame Web é, portanto, um filme sobre personagens de série B do universo do Aranhiço. Personagens essas que são diluídas aos seus elementos mais básicos e reinventadas para caber neste argumento reciclado duma sequela qualquer do Final Destination. Num pequeno à parte, mais valia terem só feito um Final Destination.
Imaginem a Cassandra Cain em Birds of Prey mas agora são cinco.
As quatro protagonistas são geralmente afastadas da sua existência nas bandas desenhadas, personagens estas que são pré-mastigadas para caberem melhor no filme. Por outro lado, Ezekiel é um recorte de cartão daqueles que muito se veem no cinema, nomeadamente fora das salas, mas isso são detalhes.
Eu não vou dizer que sou o maior fã de um homem de meia-idade que anda descalço por Nova Iorque, porque é a internet e vai ficar aqui para sempre, mas o Ezekiel na BD é um contraste importantíssimo para o Peter Parker. Foi, afinal de contas, a primeira pessoa a perguntar ao Homem-Aranha “E se não foi um acidente? E se foste escolhido para isto?”.
Aqui temos um gajo rico (de onde veio o dinheiro?), que queria poderes (porquê?), e agora que os tem vai usá-los para finalidades nefastas (ok?).
Por sinal é interpretado por dois malandros, um ator de corpo muito manhoso, e um dobrador mais manhoso ainda. A dobragem torna-se principalmente problemática quando o espectador se apercebe de quantos enquadramentos omitem a boca de Ezekiel quando o mesmo fala.
Isto em específico distraiu-me imenso, mas não foi o pior que o filme nos deu.
O dicionário de Cambridge define “fan service” como “histórias, personagens, acções, etc. que são incluídas num filme(…) de forma a agradar os seus fãs.” Contudo Madame Web fez o impossível, desenvolveu fan-service que, ao contrário do seu original propósito, serve apenas para desagradar os fãs.
Inclusões de personagens secundárias e fatores externos ou aludidos que complicam desnecessariamente ou desvirtuam essas mesmas personagens e fatores. Tratam-se de inversões que não foram intencionais nem devidamente pensadas antes de serem incluídas no filme, levando os mais astutos a pensar “esta m**** não faz sentido nenhum”.
Pois não, foi por isso que eu me diverti no filme.
É uma parvoíce pegada, com representações quase exclusivamente más, não retirando de todo o merecido louvor ao entulho de argumento que para aqui inventaram. A fotografia quando não é lixo, consegue ser ainda pior salvo muito raras instâncias. Para cada plano visualmente interessante, há duas centenas de efeitos especiais manhosos e ângulos parvos ou sem sal. A certo ponto o filme ainda mete uma ou duas metáforas visuais que me alegraram, pois era precisamente o nível de estupidez que eu ansiava deste filme.
A música existe, e meteram a Toxic da Britney lá pelo meio. Não merece polegar, mas dou-lhe um encolher de ombros como respeito pelo esforço.
Já o guarda-roupa transcende o medíocre.
O spandex, que muito pouco se vê, recordou-me de “Los Luchadores”, uma série muito manhosa que tentava imitar os Power Rangers mas com ainda menos orçamento. Até os fatos fieis aos comics são desinteressantes e conseguem meter erros pelo meio, já o de Ezekiel é só “Homem-Aranha mau, mas não pode ser o simbionte”.
E assente nessa noção, se o Ezekiel tem um fato que lhe permite usar os seus poderes e afins, porque é que anda descalço? Mais a mais, porque é que só anda descalço em algumas sequências? Ele conduz no filme, será que conduz descalço? Ou guarda só um par de sapatinhos no carro para quando for conduzir?
![Madame Web](https://www.centralcomics.com/wp-content/uploads/2024/01/madameWeb_01.png)
Eu podia fazer uma Paranoia Coletiva só sobre isto, se o gajo já tem sapatos que lhe permitem trepar paredes quando está mascarado, porque é que anda descalço pela cidade fora??
E pronto, tão mau que é bom, mas não tão bom que valha a pena ver.
Como filme leva 2/10, contudo, como filme mau para rir um bocado com os amigos, Madame Web transcende qualquer métrica.
P.s: Se houver um Razzie para product-placement mais flagrante, está ganho.
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!