Cinema: Crítica – Godzilla II: Rei dos Monstros
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Depois do sucesso do primeiro filme, e de Kong: Skull Island o “MonsterVerse” da Warner Bros., finalmente “Rei dos Monstros” faz a transição para a continuidade partilhada.
Em comparação ao standard da indústria, o universo cinematográfico Marvel, Godzilla II: Rei dos Monstros é muito mais fácil de digerir que Homem de Ferro 2 ou o primeiro Thor, os primeiros filmes “co-dependentes” do resto do universo.
Mas tal como com o primeiro Homem de Ferro, o primeiro Godzilla moderno também é assunto de conversa aqui, não fosse a longa-metragem de 2014 o “Pai” deste universo. A verdade é que, pela mão de Gareth Edwards vimos um titã entre mortais, a natureza imparável, em alto contraste com o Godzilla de 98 que fugia de misseis e era, em geral, relativamente pequeno.
Vimos uma criatura indestrutível, despachou os 2 MUTO sem particular dificuldade e, tão rápido quanto surgiu voltou para as profundezas, deixando para trás os restos duma metrópole e os frágeis humanos a tentar perceber o que fazer agora que percebem o quão fracos e insignificantes são.
Embora bem-sucedido na captura do poder destas criaturas, temo que com os números abundantes de ‘titãs’ e até por escolhas de fotografia, a noção de escala perde-se nesta sequela.
Em retrospetiva, este filme começa tal qual Batman VS Superman, abrimos nos finais do confronto entre Godzilla e os MUTO, com os nossos protagonistas nos escombros da cidade recém-destruída. Deparados com o poder de ‘Godzillal-El’ (do planeta Kayjupton) os nossos Waynes, Mark e Emma Russel (Kyle Chandler e Vera Farmiga respetivamente), decidem que irão dedicar a sua vida ao estudo destes titãs, num continuado esforço por proteger a humanidade.
É com alívio que vos informo que o filme é um tanto mais divertido que BvS, e que as semelhanças entre os filmes ficam por aí.
Só em contraste com o original de 1954 “O Monstro do Oceano Pacífico” e com “Ghidrah, O Monstro Tricéfalo” de 1964 é que conseguimos compreender as grandes falhas dos filmes de “Kaiju” estes tais monstros gigantes.
Em 1954, o objetivo dos estúdios Toho era abordarem o pesadelo nuclear duma forma nova e criativa, os terrores de Hiroshima e Nagasaki ainda assombravam os Japoneses, e eis que os cineastas criam o Monstro Atómico. Nesta primeira aventura, e durante os seus primeiros 10 anos de vida, Godzilla é o vilão imparável e os humanos os destemidos heróis, assentando uma mensagem que não há males impossíveis de derrotar, alguns apenas precisam de mais pancada.
Com o sucesso internacional cria-se então o primeiro filme da franquia com Godzilla num papel mais heróico. Finalmente vemos Godzilla, Rodan, e Mothra, a defrontarem e derrotarem o malévolo Ghidorah (Gidora, Ghidrah, como preferirem) e a salvar a humanidade.
Está mais que visto que ninguém vai entrar no cinema para ver soldados e infantarias a bater num monstro gigante, o interessante é mesmo assistir a dois ou mais ao murro, como tal os protagonistas humanos, os investigadores, tropas e cientistas, acabam sempre por ser menos interessantes.
Rei dos Monstros faz um esforço hercúleo por dar algum desenvolvimento aos humanos, mas o foco neles acaba por criar tensões desinteressantes ou desnecessárias, eles estão no seu melhor quando ajudam Godzilla a derrotar os restantes monstros e quando Godzilla os auxilia de volta. Mas todos os confrontos ideológicos e físicos entre humanos acabam por parecer desnecessários e inconsequentes.
Contudo, o papel principal dos humanos não é andar aos tiros nem ajudar o lagartão. Não, eles estão cá para jorrar lore e world-building nos espetadores. Há sempre um novo facto que já toda a gente sabia exceto o público, um passado peculiar que “já estava lá desde 2014, a sério!”. Tudo num esforço de solidificar a continuidade partilhada e explicar de onde vêm os titãs, um objetivo nobre, mas assombrado pela conveniência suspeita de slides pré-preparados e cabeças que abanam em uníssono. Toda a gente já sabia, mas quando não sabiam havia sempre um PowerPoint à espera.
Chega então o meu paragrafo preferido. Ainda não íamos em 15 minutos de filme quando vimos os primeiros novos monstros e as suas histórias, e é absurdo o quão fieis todos estão. Não só os backgrounds “na mouche“, mas a forma como os monstros agem, tal qual nos filmes mais palermas da era showa, uma delícia. Godzilla, Mothra, Rodan, Ghidorah, e até alguns monstros completamente novos.
A fidelidade e, no caso dos originais, familiaridade dos designs tem muito que se lhe diga. Aparentemente a aranha gigante não é o Kumonga, mas o aracnídeo grandalhão continuará a ter um lugar especial no meu coração.
Aos fãs do “Gojira” o meu apelo, visitem-no nos cinemas. Embora tenha os seus problemas, o preço de admissão vira pechincha sempre que vemos os Kaiju “à broa”.
Vida longa ao Rei!
7/10
-Henrique V.Correia
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!