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Cinema: Análise – Cabeça de Aranha

Uma prisão capaz de nos prender a atenção, mas que deixa fugir a oportunidade de “Cabeça de Aranha” (“Spiderhead”) ser um filme melhor.

Cabeça de Aranha é uma penitenciária inovadora gerida por Steve Abnesti (Chris Hemsworth), onde reclusos e funcionários convivem em plena harmonia sem celas, grades ou guardas. O segredo? Drogas com fartura!

Nesta prisão, todos são livres… Mas serão mesmo? A população de detidos é composta por voluntários incluídos num estudo sobre drogas revolucionárias com a capacidade de moldar o comportamento e o estado de espírito das pessoas, com o objetivo e a promessa de criar uma sociedade melhor. Os problemas começam a surgir quando Jeff (Miles Teller) e Lizzy (Jurnee Smollett), dois dos reclusos com passados traumáticos, criam laços afetivos e começam a perceber que o diretor da prisão não é tão amigável quanto parece, nem as experiências servem propósitos tão nobres quanto os anunciados.

Lançado em exclusivo para a Netflix, a 17 junho de 2022, com realização de Joseph Kosinski e argumento de Rhett Reese em parceria com Paul Wernick, este thriller excêntrico baseado no conto Escape From Spiderhead, de George Saunders, conta com um elenco liderado por Chris Hemsworth, Miles Teller e Jurnee Smollett.

Cabeça de Aranha começa por nos apresentar um dilema moral que, embora não seja propriamente novo em cinema (red pill, blue pill?), é bastante interessante e especialmente pertinente nos tempos que correm: estaremos dispostos a abdicar de livre arbítrio e liberdade em troca de segurança e estabilidade? O conceito é, sem dúvida, profundo e uma base sólida para montar uma grande obra, seja ela em que formato for. Neste caso, a produção — que Chris Hemsworth também integra — parece ter apostado a maioria das suas fichas nos nomes do elenco e no desempenho dos atores, descurando, na minha humilde opinião, outras áreas cinematográficas importantes.

Não havendo grande coisa a dizer sobre fotografia, efeitos visuais e sonoros, visto que o enredo decorre quase inteiramente entre quatro paredes, com ocasionais deslocações contextuais ao passado conturbado dos personagens e à paisagem paradisíaca em que a prisão está inserida, o filme depende quase na totalidade do guião e da sua execução.

Longe de ser uma obra prima, o argumento de Cabeça de Aranha entretém, com leves rasgos de humor aqui e ali, tentando sempre guiar a atenção para o já referido dilema moral.

O desempenho dos atores é excelente. Nada que nos surpreenda, visto que estamos a falar de atores já consagrados que não têm qualquer problema em afirmar a sua presença no ecrã — e voltam a cumprir as nossas expetativas ao serem inequivocamente o ponto forte do filme.

Ainda sobre o argumento de Cabeça de Aranha, trata-se de uma faca de dois gumes: se, por um lado, é divertido e algo cativante, não deixei de o sentir superficial. Penso que se poderia ter explorado mais (ou, talvez, melhor?) o ponto dramático central do filme.

Com este elenco e os recursos de que uma produção deste calibre dispõe, talvez a opção de manter o filme, de certa forma, “leve”, não tenha sido a mais inteligente. De bom grado trocaria o tempo dedicado às tiradas humorísticas e à variedade das drogas por uma maior profundidade no argumento de modo a explorar o problema moral, que tão familiar nos é numa sociedade que, cada vez mais, recorre à suave ilusão dos fármacos para fugir à dura realidade da vida.

Classificação: 6,5/10

Cabeça de Aranha (Spiderhead no Brasil) não deslumbra como obra cinematográfica, mas é um título perfeito para um serão de “Netflix n’ Chill”. Não creio que este venha a ser o filme da vida de ninguém, mas também não diria que é um mau filme — são cento e poucos minutos de entretenimento, sem necessidade de qualquer droga!

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