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Back Then: Uma Jornada de Reflexão Imperfeita

No mundo em constante expansão dos jogos indie, Back Then destaca-se como uma exploração tocante da doença de Alzheimer.

Back Then   

Jogo: Back Then
Disponível para: PC, PlayStation 5
Versão testada: PlayStation 5
Editora: GAMERA NEST SL

Back Then

Back Then merece elogios pela sua ambição narrativa. Poucos jogos abordam realidades como as doenças degenerativas, e ainda menos o fazem com o cuidado e empatia demonstrados aqui. No papel de Thomas, os jogadores tentam juntar fragmentos da sua vida através de interações com retratos de família, uma máquina de escrever partida e memórias dispersas. O jogo usa esses momentos para retratar vividamente o impacto mental do Alzheimer, sublinhando como a doença destrói a identidade pessoal e os relacionamentos.

Este peso emocional é o ponto mais forte do jogo. Ele constrói um retrato íntimo da condição de Thomas, utilizando flashbacks e uma narrativa ambiental subtil para evocar tanto confusão quanto melancolia. O cenário—principalmente a casa de Thomas—está cheio de pormenores significativos, desde notas espalhadas até à decoração desgastada, ancorando os jogadores num espaço que parece simultaneamente pessoal e desconhecido. Estes momentos ressoam, ilustrando a crueldade de uma doença que obscurece até as memórias mais preciosas.

Embora a narrativa seja envolvente, a jogabilidade muitas vezes prejudica o impacto emocional. Back Then funciona sobretudo como um simulador de caminhada, com puzzles simples que envolvem abrir gavetas, recolher objetos e desencadear flashbacks. Embora estas tarefas sejam intencionalmente mundanas para refletir os desafios do Alzheimer, podem parecer repetitivas e pouco estimulantes, especialmente quando o jogo exige paciência sem oferecer uma recompensa clara.

Back Then

A mecânica da cadeira de rodas, embora imersiva na teoria, introduz momentos frustrantes. Navegar pela casa de Thomas muitas vezes é desconfortável, com obstáculos frequentes causados por pequenos objetos ou movimentos desajeitados que quebram o ritmo do jogo. Apesar de isto poder refletir as próprias frustrações de Thomas, corre o risco de afastar os jogadores, particularmente quando combinado com bugs ocasionais, como atravessar o chão ou perder progresso.

Onde Back Then realmente brilha é no seu design audiovisual. Os visuais são impressionantes, com uma qualidade que dá vida ao mundo de Thomas. Fotografias de família, notas dispersas e a iluminação nostálgica trabalham em conjunto para imergir os jogadores na realidade fragmentada do protagonista. O design sonoro e a interpretação vocal também são de grande qualidade, acrescentando autenticidade às interações e aos flashbacks. A banda sonora, de uma beleza melancólica, destaca-se e amplifica a ressonância emocional da experiência.

Com cerca de três horas de duração, Back Then é uma experiência breve dividida em capítulos, cada um focado num membro da família ou num momento significativo da vida de Thomas. Embora a curta duração se adeque à natureza introspectiva da narrativa, a interação limitada e o conteúdo escasso deixam pouco incentivo para uma segunda partida. Jogar novamente oferece uma compreensão mais profunda dos detalhes da história, mas não acrescenta novas experiências ou perspectivas.

Back Then

Em suma, Back Then é um jogo corajoso e importante, que oferece uma rara perspectiva sobre os efeitos emocionais e psicológicos da doença de Alzheimer. Destaca-se na sua narrativa e atmosfera, com uma história tocante e um design visual cuidadoso. No entanto, a jogabilidade—embora tematicamente apropriada—luta para manter o envolvimento, e falhas técnicas prejudicam o impacto.

Nota: 7/10

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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