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Análise BD: Lucky Luke – A mina de ouro de Dick Digger

Passadas várias décadas de espera por parte dos fãs portugueses deste maravilhoso e querido personagem, a ASA traz-nos finalmente a primeira aventura de Lucky Luke na sua habitual coleção clássica de Franco-Belga em capa dura.
 
Originalmente editada pela Dupuis em 1949, reeditada pela Dargaud em 1971 e pela Lucky Comics em 2016, A mina de ouro de Dick Digger é a apresentação do personagem ao público.
 

A Mina de Ouro de Dick Digger (Lucky Luke n.º 42), de Morris

 
Conseguimos perceber rapidamente logo pela capa, que o criador Morris (Maurice de Bévere) ainda está a afinar o seu traço, pelo que os desenhos são ainda muito diferentes daquilo que nós conhecemos como o nosso herói é hoje em dia.
 
De facto, a entrada do argumentista René Goscinny (co-criador de Astérix) em 1955 como guionista das aventuras de Lucky Luke, mais concretamente com o álbum ” Carris na Pradaria” editado pela Dupuis em 1957, fez com que Morris se dedicasse exclusivamente ao desenho e desenvolvesse o seu estilo tão característico e maravilhoso.
 
Temos então um desenho inicial de Luke muito rudimentar e sem as feições características, muito “cartoonesco” e a demonstrar a influência dos desenhos animados Looney Tunes da época. Os apelidados “gags” são extremamente visuais e gestuais sem grande recurso à legendagem, onde os desastres e acidentes que provocam lesões físicas são os mais utilizados como recurso de humor. Falo de tropeções em garrafas ou barras de sabão vindas do nada, quedas de adereços cenográficos em cima das cabeças dos personagens, quedas, agressões ao soco e pontapé, esbarrar em paredes e destruição de mobília aleatória. A quantidade de vinhetas sem legenda é mais acentuada dando lugar a estas cenas mais cómicas “à la Charles Chaplin” e o texto é quase irrisório. 
 

A Mina de Ouro de Dick Digger (Lucky Luke n.º 42), de Morris

 
Falamos de uma altura em que o tabaco ainda não tinha sido “censurado” na boca de Lucky Luke, coisa que só vem a acontecer a partir de 1983 quando Morris decidiu substituir o célebre cigarro no canto da boca do cowboy por uma palha de feno. Situação que lhe valeu o reconhecimento da Organização Mundial de Saúde recebendo a 7 de Abril de 1988 em Genebra uma medalha pelas jornadas mundiais sem tabaco. Vemos neste álbum um Lucky Luke com um ar mais canastrão, baixinho e sem a poupa estilo Elvis e o desenvolvimento do seu carácter é mesmo muito precoce e ainda sem direção. 
 
Curioso como Morris quer dar mais ênfase ao termo “lucky” (sortudo) de Lucky Luke levando o personagem a safar-se de várias situações adversas sempre com base na sua sorte e não tanto na sua destreza com o revólver e a definição do cowboy mais rápido que a sua própria sombra.
 
Este álbum apresenta-nos duas histórias. A primeira é a que dá o título ao livro, onde Dick Digger é um velho garimpeiro amigo de Luke que descobre ouro numa mina. Após a euforia do acontecimento resolve ir celebrar com Luke para o saloon pagando rodadas de muita bebida alcoólica e dando a conhecer a toda a gente a sua descoberta, em especial a dois “amigos do alheio” que logo ganham intenções de o roubar. Digger esconde o mapa da mina numa garrafa de rum mas é atacado no hotel onde fica hospedado pelos dois matreiros e nem mesmo a proteção de Lucky Luke o safa de perder o tino após as agressões dos assaltantes.
 
Cabe ao nosso herói recuperar o mapa e livrar-se destes dois empecilhos, devolvendo o devido pertence ao seu amigo e família que entretanto recupera a sua sanidade mental. As peripécias são muito engraçadas e com muitas reviravoltas interessantes, mostrando a destreza com o “colt” de Luke e também a sua inteligência e esperteza. Temos ainda também um Jolly Jumper que ainda não “fala” mas já revela o seu raciocínio e uma ligação muito especial com o seu dono, tornando-o numa das personagens mais queridas.
 

A Mina de Ouro de Dick Digger (Lucky Luke n.º 42), de Morris

 
Na segunda aventura, Lucky Luke, chega a uma cidade, onde o confundem com um ladrão de bancos e perigoso assassino de seu nome Mad Jim, que é um verdadeiro sósia dele. Apesar de se encontrar preso, é ajudado a escapar da prisão por outros pelintras que querem substituir Jim por Luke na cadeia para o ladrão poder dividir o dinheiro roubado com estes. Os planos saem todos pela culatra, e mais uma vez Lucky Luke tem que levar estes bandidos a serem julgados pela lei assim como ilibar o seu nome.  
 
A grande polémica neste livro é a forma como Mad Jim desaparece na história. Apesar de não ser visualmente explícito, dá a sensação que Lucky Luke terá matado o personagem com o seu revólver, sendo a primeira e única vez que há aparentemente uma morte nas suas aventuras. 
 
Também no final, ainda não temos o famoso pôr do sol ao som da célebre “Lonesome cowboy” que tanto estamos habituados a ver.
 
Nada a dizer da edição que está muito boa como de costume, e parece-me que houve uma recoloração nos desenhos, que a ter acontecido, fez sobressair muito bem o desenho e garante uma boa e divertida leitura para todos os fãs. 

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