Análise BD: Biografia em BD – VOLODYMYR ZELENSKY

Por vezes quando leio uma revista ou um livro de banda desenhada, por um qualquer motivo desconhecido recordo-me de outras revistas ou livros que li há muitos anos. Foi o que me aconteceu ao ler a Biografia em BD de VOLODYMYR ZELENSKY, agora editada pela ASA.

Já passaram mais de 50 anos, mas recordo que na estante do meu pai havia um ou dois livros mais ou menos da mesma espessura deste livro, com a biografia do rei George VI da Grã-Bretanha e do presidente Roosevelt dos Estados Unidos, que ele tinha ido buscar às embaixadas inglesa e americana durante a II Guerra Mundial. Eram oferecidos, eram em capa mole, a qualidade do papel era muito inferior, e eram quase sempre álbuns fotográficos. A ideia base era mostrar quem eram os grandes responsáveis da luta contra o mal que estava espalhado nessa altura, por todo o mundo. Chamavam a esses livros de “propaganda”. Ao ler o livro em análise, tive a mesma sensação.

Não está em causa que o biografado é uma das principais figuras deste ano de 2022, e que merece que a sua história de vida seja conhecida, mas chamar a este livro “biografia” é um perfeito exagero. Talvez a ASA tenha abdicado da qualidade, em troca da faturação da compra compulsiva da personagem do momento.

Ao longo de 22 páginas descobrimos uma série de episódios soltos que podiam retratar qualquer político e nem sequer encontramos qualquer introdução aos problemas que levaram Zelensky a concorrer a presidente.

Num livro de 22 páginas, sete delas são sobre a guerra eleitoral dos debates televisivos contra o seu opositor nas presidenciais e quatro são dedicadas aos contactos entre Zelensky e Trump depois de eleito. Ou seja, metade do livro tem por base a sua luta contra o opositor interno e contra o opositor externo.

Uma vinheta sobre isto, uma vinheta sobre aquilo, e está feito o relato de 44 anos de vida do presidente do segundo maior país da Europa, atualmente em guerra contra o maior. Aprofundar o que quer que seja… Nem pensar!

Darren G. Davis, editor e proprietário da Tidalwave Comics, uma pequena editora de Portland, decidiu honrar a origem dos seus avós e chamar a atenção para a personagem central da resistência ucraniana, ao mesmo tempo que decidiu oferecer uma parte dos lucros da venda do livro para a Cruz Vermelha Internacional. Louve-se essa intenção. Quanto à missão de dar a conhecer o seu herói ao mundo, parece-me que terá de repetir a tentativa.

O argumento de Michael Frizell, autor de várias outras biografias, vive de saltos e sobressaltos e não tem nenhuma profundidade, não nos mostra o homem que está à frente de um país em guerra e como ele consegue ser o cimento agregador de um povo.

O desenho de Pablo Martinena, é o típico desenho da escola americana moderna, num estilo quase fotográfico e com cores muito fortes e contrastantes. Martinena inclusive já desenhou outras biografias como por exemplo as de Maradona, Nelson Mandela, Papa Francisco e Trump.

Livro em capa dura com boa encadernação, com páginas em papel brilhante de boa qualidade e com boa impressão e boa legendagem. Preço caro para um livro de tão fraca qualidade.

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