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Análise BD: Alix Senator, Vol. 13 — O Antro do Minotauro

Alix Senator regressa com O Antro do Minotauro, um álbum politicamente denso que cruza mito, poder romano e maturidade narrativa.

O título — O Antro do Minotauro — funciona como gancho mítico e como promessa de dualidade. Se, por um lado, remete para o subterrâneo e para o monstro enquanto símbolo, por outro, anuncia uma aventura que procura fundir a dimensão do mito com as máquinas do poder romano.

Já à primeira página sente-se a boa e velha aposta da série Alix Senator: não tanto a simples caça ao tesouro, mas uma dissecação política do Império, onde a acção serve para expor intrigas e feridas sociais mais profundas.

Valérie Mangin tem vindo a reorientar a série clássica para uma perspectiva mais adulta e política. Alix é agora sénior e senador; não é apenas aventureiro, é actor numa arena onde a retórica e a conspiração substituem, por vezes, o golpe de espada. Não é dito nada de novo, mas quem ainda não conhece a série precisa de perceber a diferença em relação ao Alix original.

Alix Senator 13

Neste álbum, a narrativa joga com a noção de labirinto (o antro) como metáfora da política romana: corredores de poder, câmaras ocultas, alianças que se cruzam.

A escrita privilegia diálogos cortantes e cenas de convívio senatorial que funcionam como mini set pieces; cada cena social serve para avançar a trama e para revelar máscaras.

A consequência é uma tensão construída pela sugestão, mais do que pela explosão: o perigo está frequentemente nas palavras e nos olhares, e não nas batalhas abertas.

Thierry Démarez consegue, como já se viu nos volumes anteriores, honrar a herança gráfica de Jacques Martin sem cair no pastiche.

As vinhetas respiram arquitectura: colunas, pórticos e sombras são trabalhados com precisão; os rostos carregam rugas que contam histórias.

O traço mantém a clareza clássica, mas acrescenta um certo grafismo moderno nas texturas e nos fundos. Há ainda uma atenção ao detalhe de objectos e adereços que enriquece a leitura histórica sem a transformar numa enciclopédia.

Os quadros dedicados a espaços subterrâneos (o antro) usam o contraste de luz e sombra para criar uma claustrofobia simbólica, com uma óptima direcção artística ajustada ao tema. Este é um pormenor já referido em álbuns anteriores, o que reforça a noção de que Démarez é realmente muito talentoso.

O álbum opta por um ritmo medido, com exposições longas intercaladas com momentos de suspense visual.

Isso retira alguma da sensação de urgência típica das aventuras juvenis, mas ganha em densidade temática, levando o leitor a ler com atenção para captar as várias linhas de intriga.

Em termos de construção, a história privilegia consequências políticas a curto e médio prazo, sugerindo que este capítulo pretende abrir arcos futuros na série Senator.

Alix Senator 13

Do ponto de vista dramatúrgico, isso pode frustrar quem procura um clímax explosivo, mas satisfaz o leitor que gosta de ver personagens envelhecerem e enfrentarem as suas contradições em tempo real — algo que se tornou característico nestes álbuns e nas diferentes histórias.

Mais uma vez, Alix enquanto protagonista sénior é bem explorado, mostrando que já não é o jovem impetuoso de outrora, mas um homem de princípios que tenta conciliar honra com a política actual e os seus meandros.

As personagens secundárias — aliados e adversários no Senado — recebem pequenas cenas de caracterização que as tornam credíveis.

A inclusão recorrente de figuras do passado da série (filhos, antigos camaradas) funciona como eco emocional e acrescenta peso às escolhas de Alix. Trata-se de uma BD que trabalha, acima de tudo, as consequências humanas do poder.

O Antro do Minotauro é um álbum que prova que Alix pode envelhecer com dignidade: torna-se mais denso, politicamente astuto e esteticamente seguro.

Não é uma aventura canónica de espada e viagem, mas uma fábula senatorial que usa a linguagem da BD para reflectir sobre o poder — e, nesse sentido, é um trabalho honesto e bem executado.

Para o leitor clássico, há recompensa e reverência à tradição; para o novo leitor, há atractivos claros, um traço elegante e um enredo construído com mestria.

Em suma, um capítulo sólido na reinvenção moderna da série.

Como já referido em análises anteriores, o único problema desta série, apesar de consistente e interessante, é a falta de uma direcção clara de público-alvo. Não tem a acção e violência de Murena ou Águias de Roma, nem é uma leitura juvenil de aventura como o Alix de Jacques Martin. É aqui que, a título pessoal, a série se perde. Ainda assim, os autores são muito competentes e, mais uma vez, é impossível não destacar que as capas destes álbuns têm sido sublimes — é difícil encontrar capas tão bonitas como as de Alix Senator.

Alix Senator, Vol. 13 — O Antro do Minotauro, publicado pela Gradiva (edição em português) a 23 de setembro de 2025; edição em capa dura, 56 páginas.

Autores contemporâneos na colecção Alix Senator, Valérie Mangin (argumento) e Thierry Démarez (desenho).


Carlos Maciel

O Carlos gosta tanto de banda desenhada que, se a Marvel, a DC, os mangas, fummeti, comic americano e Franco-Belga fundissem uma religião, ele era o primeiro mártir. Provavelmente morria esmagado por uma pilha de livros do Astérix e novelas gráficas 😞 Dizem que cada um tem um superpoder; o dele é saber distinguir um balão de pensamento de um balão de fala às três da manhã, depois de seis copos de vinho e um debate entre o Alan Moore e o Kentaro Miura num café existencial em Bruxelas onde um brinde traria um eclipse tão negro quanto dramático, mas em que a conta era paga pelo Bruce Wayne enquanto o Tony Stark vai mudar a água às azeitonas.

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