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Análise BD: A OESTE, de João Amaral

A OESTE – Mais do mesmo ou o mesmo com mais? Leiam aqui a análise da mais recente banda desenhada de João Amaral.

Quem acompanha a BD portuguesa sabe da paixão que João Amaral tem pelas histórias do Oeste selvagem americano. No ano passado concretizou o seu sonho de publicar um livro sobre o tema, ao lançar Rattlesnake, pela editora Escorpião Azul.

E este ano, como se fosse um vingador solitário, João Amaral está de regresso, e com muitos pontos comuns com a sua obra anterior. O livro do ano passado desenrolava-se no Oeste americano. O deste ano situa-se no Oeste português. Em ambos os livros é uma mulher a figura principal. A heroína do ano passado era conhecida como Rattlesnake (cobra cascavel) e a deste ano como Vampira, ou seja ambas vingadoras com nomes ligados a animais. Para além disso, tal como no livro anterior, e na melhor tradição de Sergio Leone, as primeiras 14 páginas do livro não têm qualquer diálogo, mas muita ação desenhada e inclusive um flashback.

Mas o livro em análise tem duas grandes diferenças: agora tem formato italiano e está impresso a preto e branco em vez de ser a cores. E aqui acho que foi uma dupla aposta ganha. Em plena leitura, o livro neste formato torna-se mais legível a conseguimos ver melhor todos os pormenores das pranchas (ou devo dizer tiras?).

A Oeste

Também ao escolher o preto e branco, Amaral parece muito mais à vontade no desenho e faz recordar as antigas revistas de “cobóis” que se compravam na banca dos jornais. Até porque a diferença não é assim tão grande. O período da ação de “A Oeste” decorre entre o início e o fim do Partido Republicano em Portugal – ou seja, entre 1876 e 1912 –  e a conquista do Oeste americano decorreu entre 1865 e 1910/12. Enquanto na América tivemos uma luta entre fazendeiros, em Portugal a luta foi entre fações políticas. Até uma das armas icónicas do Oeste americano, a espingarda Winchester, foi utilizada para matar o rei D. Carlos em Portugal.

Apesar de um argumento muito simples e algo vulgar, com a personagem principal a vingar o seu passado, assistimos a diálogos pouco verossímeis, tal como aconteceu no livro anterior, mas desta vez entre habitantes do interior de Portugal em 1900. Também a taberna da aldeia parece um café de Lisboa tal o seu tamanho e altura. E que dizer da morte da personagem perseguida, que mesmo depois de ser baleado quatro vezes, inclusive na cabeça, ainda consegue dizer uma frase inteira, no melhor estilo dos filmes americanos de série B?

São, afinal, pequenos pormenores que João Amaral podia ter facilmente melhorado. Já em relação ao desenho o meu sentimento é misto. Se, por um lado, Amaral não consegue uma homogeneidade no desenho da figura humana, sendo por vezes quase difícil identificar a mesma personagem em duas vinhetas diferentes duma mesma tira, por outro lado surgem a espaços, belas vinhetas principalmente quando o autor desenha paisagens ou animais. E nessas vinhetas e em muitos fundos, nem sentimos a falta da cor, naquilo que foi uma aposta acertada por parte do autor.

João Amaral dedica o livro a José Pires, autor português recentemente falecido, com vários western’s desenhados e publicados em Portugal e na Bélgica. Não sei se propositado ou não, o formato italiano faz lembrar os fanzines que ele publicava, e alguns dos desenhos deste livro têm a nítida influência do traço dele.

Como curiosidade refira-se que apesar do livro indicar ter sido editado em Abril de 2023, não o consegui comprar em Junho na Feira do Livro de Lisboa, no stand que representava a editora. E o estranho é que o próprio autor esteve presente na Feira. Apenas uma pequena falha de organização…

Apesar do argumento muito simples o livro consegue manter uma dinâmica de leitura constante, com pequenas falhas na identificação das personagens por causa do desenho. Pelo meio belas vinhetas conseguem manter um nível de interesse suficiente para continuar a leitura.

Livro em capa mole com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa qualidade e com excelente impressão. Preço normal para o tipo e tamanho do livro.

Tempo de leitura:

  • A Oeste – aproximadamente 40 minutos

João Amaral continua a sua luta em prol da Banda Desenhada portuguesa. Merece respeito por isso e por se dedicar aos seus temas preferidos. Um livro que não é passado na América, mas que nos lembra que também em Portugal havia um Oeste selvagem.

A Oeste, de João Amaral

A OESTE

João Amaral
Editora: Escorpião Azul
Livro em capa mole com 104 páginas a preto e branco nas dimensões de 24 x 17 cm
PVP: 15,00 €

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