Análise BD: A Educação Física

E se afinal a nossa vida diária tem mais substância do que aquilo que pensamos? E se for tanto que até dá para fazer um livro? Leiam aqui a análise do livro A Educação Física.

Quantas vezes não ouviram um jovem dizer que a sua vida não tem sentido, ou que não tem rumo? Que não sabe o que quer ou o que vai fazer? Joana Morgado Simão, ou melhor dizendo, Joana Mosi, através da BD procurou passar uma mensagem e simultaneamente colocar várias questões de vida, que afinal são as questões de toda uma geração.

Num dos seus livros anteriores “O Mangusto”, Joana falava-nos das suas questões pessoais, pois apenas ela via um hipotético mangusto. No livro atual ela fala-nos de questões interpessoais, retratando situações do que se passa ao seu redor e daqueles que a rodeiam.

Na verdade, este é um livro sobre procura. Laura, a protagonista, procura inspiração para desenvolver o seu livro, vencedor de uma bolsa. Mas também procura um relacionamento intimo. E também procura um bom relacionamento com a mãe. E também procura um bom relacionamento com os alunos da escola. E também procura manter uma boa forma física…

O ginásio da educação física da escola secundária é uma recordação muito especial. O ginásio é aquele local de cumplicidade, das desculpas e das confidências, e que depois na idade adulta, torna-se num local de encontro intencional, mas onde as cumplicidades e confidências continuam, mantendo uma ligação à juventude passada.

Todavia, as recordações vão desaparecendo, com as lojas que fecham, as pessoas que se mudam, as dinâmicas que se alteram.

O desenho é a preto e branco, numa técnica mista de caneta e pincel, como se a rotina diária não tivesse qualquer cor. Os cinzentos complementam muito esta ideia das coisas que são feitas de forma quase automática, que fazem parte da vida, mas que se sublimam assim que ficam completas, não dando qualquer cor à vida.

Mas nesta vida diária atual, há algo que nos faz vibrar noutro comprimento de onda. Os telemóveis, os computadores, os tablets, as redes sociais. E surgem subitamente no meio de tudo e de nada, duma forma intrusiva e abusiva. Por isso Mosi representa com outra cor essas mensagens, fotos, textos, num contrastante azul, e sobrepondo-se às próprias vinhetas da história, numa crítica muito direta e inteligente.

Uma obra que é uma chamada de atenção ao que realmente procuramos na vida, e à forma como o fazemos.

O livro, não sendo demasiado complexo, exige ainda assim uma leitura atenta. A forma pouco convencional como as vinhetas estão distribuídas pelas páginas criam um ritmo de leitura muito próprio. Livro em capa mole com boa encadernação, com páginas em papel semi-mate de boa qualidade e com boa impressão. Preço normal para o tipo de livro.

Joana Mosi vai estar presente na próxima edição do HISPACÓMIC – Salón del Cómic de Sevilla, em Sevilha. Assim, no dia 15 de Março vai estar entre as 12:00 e as 13:00 horas, no Espaço Magalhães da Real Fábrica de Artilharia, à conversa com Hugo Jesus e Marta G. Navarro sobre este mesmo livro. Depois a partir das 13:00 horas, estará no mesmo espaço a dar autógrafos.

Tempo de leitura:

A Educação Física – aproximadamente 45 minutos

Um livro que tem tanto de biográfico como de observação do nosso mundo diário. Quantos de nós não nos identificamos com algo que é referido no livro? E quantas coisas não vemos aqui representadas que, na nossa rotina diária, nem damos por elas? Uma obra para ler, disfrutar e pensar.