Jogos: Kick’n Hell – Análise
Esquece tudo o que sabes sobre jogos de plataformas — Kick’n Hell não quer entreter-te, quer ver até onde consegues aguentar antes de desistires.
Jogo: Kick’n Hell
Disponível para: PC
Versão testada: PC
Desenvolvedor: Fire Foot Studios
Editora: Fire Foot Studios

Na minha opinião, Kick’n Hell destaca-se automaticamente como uma entrada original, trocando o movimento tradicional por uma mecânica única e implacável: o pontapé. Desenvolvido com um olhar nostálgico para a estética retro e uma jogabilidade de alto risco, este título não é para fracos. Trata-se de um jogo de plataformas 3D de precisão que desafia os jogadores a sofrer, adaptar-se e, por fim, vencer.
No centro de Kick’n Hell está a sua característica mais marcante: um sistema de movimento baseado em pontapés, que funciona simultaneamente como forma de locomoção e como arma. É uma inovação que distingue o jogo de imediato. Cada pontapé projecta o jogador através do ambiente, e dominar esta mecânica é essencial. No entanto, esta genialidade tem um custo elevado — um único pontapé mal calculado pode deitar por terra vários minutos de progresso.
A jogabilidade de plataformas é propositadamente exigente e rigorosa. Com pontos de controlo escassos e sem tutoriais ou orientação, o jogo exige pensamento estratégico e execução precisa. Embora o combate possa, por vezes, parecer imprevisível, geralmente complementa bem a tensão constante das plataformas e reforça o espírito de desafio e recompensa do jogo. O uso dual do pontapé garante que cada acção tenha peso e consequências.
A narrativa tem um papel secundário em Kick’n Hell, com pouca exposição e apenas fragmentos de história dispersos por NPCs esqueléticos e ambientes enigmáticos. O protagonista — um artista marcial sem nome, preso no Inferno — não recebe qualquer explicação clara, mas essa ambiguidade encaixa perfeitamente no tom do jogo. Interacções com Satanás e os habitantes esqueléticos introduzem humor negro e tensão atmosférica, funcionando mais como tempero do que como verdadeiro progresso narrativo.
Apesar da escassez de enredo, o mundo é imersivo. O cenário transmite vida (ou melhor, morte-viva) através de pistas ambientais e da arquitectura sombria mas surreal do próprio Inferno.
Visualmente, Kick’n Hell é um triunfo de minimalismo estilizado. Inspirando-se na era da Nintendo 64, a sua estética pixelada e retro é enriquecida com cores vibrantes e ambientes variados. O resultado é um mundo que soa simultaneamente nostálgico e original. A direcção artística é particularmente forte — isto não é apenas uma homenagem ao passado, mas uma reinvenção. Em alguns círculos, foi até considerado o jogo com o melhor design visual do ano — e com razão.
O design de som eleva ainda mais a experiência. Uma banda sonora coral gótica-angélica acompanha o cenário infernal do jogo, criando uma composição simultaneamente assombrosa e majestosa. Os efeitos sonoros — desde o estalido de uma queda mal calculada aos comentários inquietantes dos esqueletos — estão cuidadosamente afinados para potenciar a imersão e a tensão. O ambiente sonoro é tão crucial para a experiência do jogador como a própria jogabilidade.
Resta concluir que Kick’n Hell é uma viagem implacável e electrizante que recompensa a perícia e a persistência. A sua dificuldade brutal, sistema de movimento inovador e direcção artística marcante fazem dele um lançamento indie de destaque. Embora a falta de profundidade narrativa possa afastar alguns jogadores, aqueles atraídos pela estética retro e plataformas de alta precisão encontrarão aqui uma experiência profundamente envolvente e gratificante.
Um jogo de plataformas punitivo mas recompensador, com mecânicas inovadoras e visuais de destaque. Imperdível para os entusiastas do género.
Nota: 7/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.




