Central Comics

Banda Desenhada, Cinema, Animação, TV, Videojogos

Entrevista a Nunsky (O autor de “Companheiros da Penumbra”)

Lançado o ano passado pela Chili Com Carne, “Companheiros da Penumbra” foi um dos maiores livros de banda desenhada nacional já publicados e aproveitámos para entrevistar o seu autor, Nunsky.

Companheiros da Penumbra, de Nunsky

Hugo Jesus: Olá Nunsky. Pessoalmente achei o “Companheiros da Penumbra” um trabalho notável e o melhor lançamento de BD portuguesa do ano passado. Que outro retorno tens tido relativamente à obra?
 
Nunsky: Dificilmente poderia estar mais satisfeito com as reacções ao livro. Desde logo por parte dos próprios “companheiros”, a alguns deles já havia perdido o rasto, que fizeram questão de me expressar o seu agrado de forma bastante emotiva.  Foi para mim um alívio e uma imensa satisfação porque no fundo eram eles o meu público alvo, era neles que pensava enquanto trabalhava. Mas recebi igualmente mensagens de público anónimo a cobrir o livro de elogios, sendo que a maioria não conhecia o meu trabalho ou ouvira sequer falar do meu nome. Também me chegaram grandes gabanços de alguns colegas de ofício que me deixaram nas núvens e com o ego bem aconchegado.Tem sido óptimo, mas creio que é chegada a hora de descer à terra e meter mãos ao trabalho.
 
HJ: Estavas no programa do Amadora BD 2022 mas acabaste por não estar presente, mas chegaste a visitar o festival?
 
N: Tive o mesmo azar de muita gente, o raio do covid… Vi alguma coisa pela net, mais por causa da minha expo.
 
HJ: A tua exposição estava muito boa e tinha um cenário incrível. De onde veio a ideia para a decoração?
 
N: O mérito vai inteirinho para as designers que conceberam todo o cenário, a Marta Pedroso e a Ana Fatia. Depois de saber que pretendiam instalar o wc num dos cantos, dei logo carta branca. A minha intervenção limitou-se a uma ou outra sugestão sobre os videos que passavam em loop nos monitores. No geral creio que foi do agrado dos visitantes, pelo menos fartaram-se de comprar livros na banca da Chili.
 
"WC" que fez parte da decoração da exposição do livro no Amadora BD 2022
“WC” que fez parte da decoração da exposição do livro no Amadora BD 2022
 
HJ: Como é que surgiu a ideia para o livro? E quando começaste a prepará-lo estavas a contar que fosse assim tão grande?
 
N: Uma vez mais esse mérito não é meu. Foi o Alex quem me sugeriu e conseguiu convencer a avançar. Para ser franco, se dependesse apenas de mim talvez o livro hoje nem existisse. No início pensamos fazê-lo em conjunto -cabendo a mim o trabalho sujo, claro está – tentando construir algo sólido e coeso a partir do emaranhado de peripécias que acumuláramos no nosso passado recente. Sabíamos que nos esperava uma imensa maratona pela frente, mas valia a pena o esforço porque não era só mais uma simples BD, era a memória de uma das fases mais divertidas e intensas da nossa vida que merecia ser resgatada e partilhada com todos.
 
A dada altura tomei sozinho as rédeas, cabendo ao Alex a função de consultor/auxiliar de memória. Mas reafirmo que sem ele não teria o alento necessário para me meter numa empreitada destas. Sabia à partida que seria um livro extenso, mas só a meio do processo constatei a real dimensão que teria. Quando se atinge esse patamar já é demasiado tarde para arrepiar caminho, pois já houve demasiado investimento pessoal, e a única coisa a fazer é prosseguir, dia após dia, uma prancha de cada vez, até surgir o tal belo dia em que surpreendentemente damos por nós a cruzar a linha de chegada.
 
HJ: Quanto tempo demorou a fazer desde a ideia inicial até ir para a gráfica?
 
N: Decorreram cerca de cinco anos desde essa faísca inicial do Alex até à conclusão do trabalho, em Dezembro de 2021. Mas só foi possível imprimir muitos meses depois devido a vários problemas com a gráfica. Cheguei até a pensar que se corria o risco de o livro não sair a tempo da exposição, que já estava marcada desde o verão. Foi um parto complicado, mas correu tudo pelo melhor.
 
Companheiros da Penumbra, de Nunsky
 
HJ: Quão do livro tem de autobiográfico?
 
N: O livro é efectivamente autobiográfico, mas não houve nenhuma obsessão em ser cem por cento fiel á realidade dos factos, nem tal seria possível. É a minha versão pessoal dos acontecimentos, que seria forçosamente diferente se fossem relatados por outro dos “companheiros”. Procurei sobretudo retratar as personagens e o espírito da época com verdade. Muitas daquelas peripécias aconteceram tal e qual na realidade, outras foram um pouco embonecadas, ou alterado o contexto para melhor servir a narrativa, e outras ainda que são pura imaginação – a cena do fantasma no lugar do pendura, a vingança sangrenta no wc do Ritz, ou os devaneios ultrarromânticos do Lord Demetrius, por exemplo.
 
HJ: Decidiste mudar o nome de pessoas reais para uns fictícios. Fizeste para proteger as pessoas de qualquer situação das quais poderiam não querer ver sendo retratadas? 
 
N: Muita daquela gente, incluindo amigos próximos, tem agora uma vida diferente, são honrados chefes de família com profissões sérias e sólidas reputações a zelar, assim achei por bem alterar os nomes e evitar chatices. Claro que quem viveu aquilo de perto saberá identificar todos os cromos sem dificuldade.
 
Companheiros da Penumbra
 
HJ: No entanto, os bares e locais são reais, e quem os conhece, como eu por exemplo, sabemos quem as pessoas são. Isso acaba por ser uma espécie de easter egg para nós. Mas para quem não é do Porto nem conhece a cena mais underground ou alternativa, achas que vai ter o mesmo prazer na leitura do livro ou o verá de uma forma muito diferente?
 
N: Esse era um dos meus receios iniciais, mas, até pelas reacções de pessoas muito diversas que tenho obtido, creio que não é necessário ser um adepto do dark side para desfrutar plenamente do livro. Aquelas personagens não são extraterrestres de outra galáxia, apesar da aparência mais ou menos excêntrica. Aquelas relações, sentimentos, sonhos, desventuras, são bem humanos e terrenos, reconhecíveis e geradores de empatia em qualquer parte, em qualquer tempo. 
 
Heaven’s Social Club, Porto (Captura de ecrã do google maps)
 
HJ: Quais são as tuas maiores influências na banda desenhada?
 
N: Bernet, Burns, Buscema, Corben, Hernandez, Liberatore, Magnus, Uderzo, Vance…
 
HJ: Acho que o  “Companheiros da Penumbra” funcionaria muito bem numa série de TV. Gostarias de ver o ver adaptado para outros media?
 
N: A esse propósito aproveito para revelar aqui em primeira mão que a SIC vai adaptar o livro a uma nova série para aniquilar nas audiências a xaropada dos Morangos da concorrência. Irá chamar-se “Morcegos em Ácido” e também está repleta de jovens irreverentes e super cool, só que do dark side! Ok, é tanga, mas concordo que nas mãos certas até poderia resultar num produto interessante. Enfim, podemos esperar sentadinhos…
 
HJ: Estás neste momento a preparar outro trabalho?
 
N: Sim, está em andamento, mas ainda é cedo para revelar.
 
E o Central Comics agradece ao Nunsky pela disponibilidade e deseja as maiores das felicidades para os próximos projectos.
 

Poderão ver mais um pouco a exposição, aqui neste vídeo:

 

E para  não perderes nada sobre o Central Comics no Google Notícias, toca aqui!

Além disso, podes seguir também as nossas redes sociais: 
Twitter: https://twitter.com/Central_Comics
Facebook: https://www.facebook.com/CentralComics
Youtube: https://www.youtube.com/CentralComicsOficial
Instagram: https://www.instagram.com/central.comics
Threds: https://www.threads.net/@central.comics

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Verified by MonsterInsights