Batman: Três Jokers | Análise BD
A Editora Devir regressou à publicação do universo DC Comics com Batman: Três Jokers. Leiam aqui a análise ao livro escrito por Geoff Johns, ilustrado por Jason Fabock e colorido por Brad Anderson.
No que toca às histórias de Batman, a DC Comics publicou edições absolutamente impactantes que serviram para conhecermos um dos vilões mais emblemáticos de sempre: Joker, o Palhaço do Crime.
Ainda que ao longo dos tempos tenham sido divulgadas diversas teorias sobre a condição que dota Joker de uma personalidade distinta, altamente complexa (e controversa), como a sua possível psicopatia, a inclinação para o sadismo ou extremo narcisismo, sem ignorar os potenciais fatores que equacionam uma insanidade crónica que engloba episódios de delírio esquizofrénico ou motivados por um transtorno esquizoide, o vilão nunca deixou de ser uma figura misteriosa sobre a qual nunca se soube o suficiente.
Perverso, destrutivo e manipulador, que funciona como um fiel promotor do caos e da loucura, não podemos ignorar o papel de Joker no já consagrado Batman: A Piada Mortal (1988) de Alan Moore e no obrigatório Batman: Morte em Famíla (1988/1989) de Jim Starlin e Jim Aparo.
Batman: Três Jokers
promete não só ter como referência essas edições marcantes do final dos anos 1980 como servir de atualização para responder ao mistério que se iniciou em Justice League: Darkseid Wars (2015) quando Batman se torna um deus e se senta na Cadeira de Mobius, questionando: «Qual é o verdadeiro nome do Joker?» A resposta é surpreendente, pois Joker não é apenas um homem. São três!
Ante esta extraordinária revelação, Bruce Wayne procura respostas sobre a relação entre os Três Jokers e a forma como conseguiram esconder esse segredo durante tantos anos, enganando-o e fazendo-o crer que teria o dom de alterar o seu modus operandi adaptando-se a novas fórmulas — algumas substancialmente sombrias ou macabras — para induzir o tormento ou sentimento de falibilidade em Batman.
As vitimas
Como não poderia deixar de ser, junta-se a Bruce nesta investigação as duas vítimas do lado mais brutal de Joker: Barbara Gordon e Jason Todd. Como bem se sabe, Barbara Gordon foi atacada por Joker e deixada numa cadeira de rodas (ver Batman: A Piada Mortal) antes de se tornar Oráculo e depois recuperar a sua mobilidade para voltar a lutar contra o mundo do crime como Batgirl. Jason Todd, por sua vez, havia sido o Robin e foi assassinado por Joker (Batman: Morte em Família) e teve a oportunidade para regressar anos depois ao mundo dos vivos através da entidade do vigilante Red Hood (Capuz Vermelho) empregando métodos mais violentos do que Bruce para combater o crime e aspirando vingar-se do Joker.
O que torna Batman: Três Jokers interessante é esta dinâmica que envolve Batman, Batgirl e Red Hood.
Cada um dos quais foi marcado pelo Joker de uma forma diferente e cada um dos vigilantes tem o seu ponto de vista individual sobre o Joker, isto é, talvez sobre cada um dos três Jokers e não de todos, ao contrário do que início pensavam.
De uma forma algo peculiar, sabendo-se que nenhum deles tem impressões digitais ou vestígios de ADN que permitam ser devidamente reconhecidos, Bruce limita-se a identificá-los de forma sumária: O Criminoso, o Comediante e o Palhaço.
Lidar com este trio perigoso revelar-se-á bem mais complexo do que sempre julgaram, pois não conhecem de todo as suas verdadeiras motivações e aquele que é tido como o verdadeiro plano: Aparentemente, tudo se tratou sempre de criar um Joker “melhor” — mas até que ponto serão os três Jokers bem sucedidos? Ou se tudo não passa de um jogo, uma piada ou um meio de esconder uma verdade mais profunda no que toca à verdadeira origem e intenção de Joker?
O livro
Este álbum de capa dura, recentemente publicado pela Devir, contém cerca de 160 páginas coloridas carregadas de ação, pesando um teor violento e, inevitavelmente, dramático, muito em linha com as edições da DC Black Label.
Corresponde aos três números de uma empolgante minissérie que saiu em 2024 (Batman: Three Jokers #1-3) notável pelos desenhos altamente detalhados e imponentes de Jason Fabock (n.1985), pelas cores vivas de Brad Anderson (n. 1976) e cujo argumento pertence a Geoff Johns (n. 1973.) O trio foi sensível a outras histórias, homenageando os clássicos aqui já mencionados, principalmente The Killing Joke.
O trabalho destes autores carateriza-se por uma expressividade assinalável, sugerindo-nos que esta não é uma obra qualquer no universo de Batman. O confronto com o passado, a relação tensa das personagens e os danos pessoais causados pelo icónico vilão só poderiam traduzir-se numa história mergulhada em revelações e surpresas.
Contando com o apoio do editor Rui Santos e a direção de Nuno Murjal, o álbum em português de Batman: Três Jokers foi traduzido por Tomás Almeida, contando com a legendagem de Luís Bordalo, a revisão de Patrícia Caetano e a adaptação gráfica Ana Lopes. A Devir legou-nos simplesmente uma obra de qualidade fenomenal, mais do que digna de agradar aos muitos fãs de Batman, permitindo-nos chegar facilmente à conclusão que em Portugal será valorizada pelos meus variados colecionadores de Banda Desenhada.
Vejam também a análise técnica aqui, por Hugo Jesus:

Fascinado por História da Arte e pelo Universo Criativo da Ficção, é um entusiasta consumidor de Banda Desenhada além de leitor assíduo de obras de Ficção Científica e de Terror, com particular predileção pelo Oculto e o Sobrenatural