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Análise: UTOPIA (novela gráfica)

Será que a liberdade se ganha ou se constrói? Será que ela nos é oferecida ou a vamos ganhando? E será que a podemos perder como se perde uma carteira, ou a vamos perdendo aos poucos, como se tivéssemos um bolso roto? Leiam aqui a análise do livro UTOPIA.

Com o aproximar da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, é natural que estas datas redondas sejam aproveitadas para diversos lançamentos associados à data, sejam documentários, filmes, discos, exposições, peças de teatro e, naturalmente, livros. Foi o caso da novela gráfica UTOPIA de Raquel Varela e Robson Vilalba.

Tendo por base a história verídica de um jovem chamado José, com 18/19 anos em 1974, os autores traçam em pinceladas largas um Portugal decadente e pobre, que via os seus jovens embarcar em navios para África como se fossem animais para o matadouro. Um Portugal que ouvia o seu ditador dizer: “Orgulhosamente sós…” como se não precisasse de nada nem de ninguém. Um Portugal sem qualquer futuro…

E é isso que o livro se propõe contar. O futuro. Um futuro diferente, graças a uma revolução militar que foi logo apoiada por toda a população. Uma revolução que significava o fim da matança e o começo da liberdade. E é aqui que o livro de Raquel Varela e Robson Vilalba ganha um maior interesse. Desde logo, porque mistura os grandes momentos da revolução com aqueles pequenos apontamentos que quem viveu esses dias bem se lembra, como por exemplo o indivíduo que era acusado de ser da PIDE. Quantos não foram acusados, justa ou injustamente? Quantos não foram vítimas de falsas acusações para ajuste de contas? Quantos não se livraram injustamente da acusação?

A revolução não se faz só num dia e Varela mistura no argumento, duma forma subtil entre a realidade e a ficção, os grandes momentos da vida de José com aquelas pequenas situações que marcam a vida de um jovem. Estamos num período em que tudo era descoberta e liberdade para todos. Não por acaso, Vilalba, na apresentação do livro efetuada em Lisboa e no Porto, referiu que, tirando as imagens que se tornaram históricas, procurou desenhar os locais de uma forma vaga, pois as situações foram comuns em muitos locais do país e não apenas num único lugar. Quantos de nós não recordamos vários momentos ao folhear este livro?

Esta é uma história da revolução. Antes, durante e depois. Houve, há e haverá outras. Como disse Nuno Artur Silva na apresentação em Lisboa, neste livro a palavra história tem um duplo sentido. Estamos a ver/ler a História de Portugal e a história de José. Que não acabam no fim do dia 25 e vão continuar. E é aqui que fazemos a ponte para o título da edição portuguesa: UTOPIA. Em qualquer dicionário, utopia é a ideia de civilização ideal, fantástica. Era essa a ideia no dia 25 de Abril de 1974. Mas passados 50 anos, sabemos que não é assim. Muito mudou e muita coisa ficou pelo caminho. Talvez por isso, nas edições espanhola, catalã e basca o título seja O Povo É Quem Mais Ordena, pois os sonhos podem sempre tornar-se realidade e somos nós que escolhemos o caminho da História.

Raquel Varela e Robson Vilalba, nascidos já depois do 25 de Abril, demoraram três anos a concluir o livro, demonstrando todo o cuidado que este trabalho teve na sua génese – trabalho este que teve como base variada documentação e o testemunho do próprio José. Refira-se como curiosidade, que o mesmo esteve presente na apresentação do livro em Lisboa.

A apresentação foi feita pela BERTRAND EDITORA no El Corte Inglês em Lisboa, com a presença dos autores e de Jorge Garcia em representação da editora, do Professor Galopim de Carvalho, do Padre José Martins Júnior e de Nuno Artur Silva. No dia seguinte a apresentação decorreu na Fnac do NorteShopping em Matosinhos, também com a presença dos autores, de Jorge Garcia em representação da editora e do Dr. Júlio Machado Vaz. A CENTRAL COMICS esteve em ambas as apresentações, que decorreram com um público atento e que serviram para despertar o interesse da leitura da obra

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Um livro com uma dinâmica de leitura excelente, conseguindo manter um elevado nível de interesse para uma leitura contínua.

A legendagem merece ser revista numa próxima edição, talvez alterando a fonte ou o tamanho da letra.

Livro em capa mole com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa qualidade e com excelente impressão a preto e branco. Bom preço para o tipo de livro.

Tempo de leitura:

  • UTOPIA – aproximadamente 55 minutos

Este é um livro que para uns é uma ficção e para outros é uma recordação. Um livro em que o casamento entre a imagem e o texto ganha um ritmo perfeito. Raquel Varela, historiadora e Robson Vilalba, sociólogo, conseguem encontrar o ponto certo para contar uma história de esperança que pode atualmente estar adormecida, mas não está morta. A História diz-nos que o Povo Português ciclicamente acorda para a realidade. Talvez este livro seja uma forma de acordar os jovens e, como referiu Júlio Machado Vaz na apresentação no Porto, os faça interpretar a realidade atual.

Utopia

Raquel Varela, Robson Vilalba Reis
Editora: Bertrand Editora

Livro em capa mole com 176 páginas a preto e branco nas dimensões de 18 x 25,5 cm
PVP: 19,90 €

Utopia

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