Análise manga: Blue Lock Vol. 3
Ora bem… Blue Lock, volume três. Estamos perante um manga sobre futebol, dizem. Mas o que aqui se joga está muito longe da relva molhada das manhãs de domingo ou da ladainha dos “valores do desporto”. Isto é futebol, sim, mas com esteroides filosóficos e ambição ao nível super guerreiro nível 4. 😅
Neste volume, aquilo que já era uma competição de egos torna-se quase num estudo clínico da psicopatia desportiva. A bola continua lá, mas serve apenas como catalisador para o verdadeiro jogo: uma batalha entre narcisistas em construção. A equipa? Uma formalidade. Aqui, o objetivo não é ganhar em grupo — é aniquilar todos os que te impedem de ser o protagonista absoluto da tua própria narrativa.
Isagi, o nosso herói em crise existencial crónica, continua a tentar perceber quem é. Um rapaz perdido entre a vontade de ser útil e a necessidade de ser indispensável. A certa altura, começa a vislumbrar algo muito japonês e muito pouco ocidental: que a beleza do jogo não está em jogar bem — está em saber quando destruir o adversário certo, mesmo que ele esteja no teu lado do campo.
E depois temos o surgimento de Barou, uma espécie de Cristiano Ronaldo com menos filtro e mais raiva. Ele entra em campo como quem entra numa guerra santa. Não fala, declara. Não joga, impõe. É o tipo de personagem que tornaria qualquer sessão de coaching numa sessão de exorcismo.
Cada jogo neste volume é uma espécie de teatro grego com chuteiras — tragédia, orgulho, queda. A competição é cruel, mas meticulosamente calculada. A narrativa trata os jogadores como peças descartáveis num xadrez de evolução darwinista. Perder é morrer. Ganhar é, talvez, sobreviver mais uma semana com o ego intacto.
Mais do que futebol, Blue Lock torna-se aqui um ensaio gráfico sobre o individualismo tóxico. É o neoliberalismo em forma de manga: “és tão bom quanto o número de pessoas que consegues ultrapassar”. E, claro, tudo embrulhado num design visual que grita adrenalina e testosterona como se fosse um anúncio de pré-treino.
No fundo, Blue Lock Vol. 3 é aquilo que acontece quando se pega no futebol, se retira toda a camaradagem e se substitui por um espelho de casa de banho partido — onde cada estilhaço reflete uma versão diferente do “eu ideal”. O resultado? Brilhante. Doentio. Fascinante.
Uma série muito divertida e intensa de seguir, que continua a bom ritmo de edição.
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O Carlos gosta tanto de banda desenhada que, se a Marvel, a DC, os mangas, fummeti, comic americano e Franco-Belga fundissem uma religião, ele era o primeiro mártir. Provavelmente morria esmagado por uma pilha de livros do Astérix e novelas gráficas 😞 Dizem que cada um tem um superpoder; o dele é saber distinguir um balão de pensamento de um balão de fala às três da manhã, depois de seis copos de vinho e um debate entre o Alan Moore e o Kentaro Miura num café existencial em Bruxelas onde um brinde traria um eclipse tão negro quanto dramático, mas em que a conta era paga pelo Bruce Wayne enquanto o Tony Stark vai mudar a água às azeitonas.




