Análise: Blake e Mortimer Assinado “Olrik” e Michel Vaillant Redenção
Longe vão os tempos em que as novas aventuras de alguns dos mais amados heróis de banda desenhada franco-belga eram anunciados com grandes parangonas. Agora, é fácil adivinhar quando sai um novo álbum. Leiam aqui a análise aos livros Assinado “Olrik” e Redenção.
Perto da época do Natal, é garantida a publicação de novos volumes das séries âncoras da BD franco-belga. Este ano não foi exceção, e a as Edições ASA lançaram os mais recentes álbuns de dois dos seus campeões de vendas: Blake e Mortimer e Michel Vaillant.
Atualmente ambas as séries têm vindo a perder muito do seu romantismo da época de ouro da BD belga e converteram-se em produtos de uma linha de fabrico, com prazos de produção perfeitamente definidos.
Comecemos por ver o mais recente da série Blake e Mortimer com o título Assinado “Olrik”.
A herança de Edgar Pierre Jacobs
Este é um álbum que tem tudo para ser uma perfeita homenagem aos livros de E.P. Jacobs. Os desenhos de André Juillard num traço muito seguro, e um argumento de Yves Sente com muito texto, que mistura aventura, mistério, ficção científica e lendas históricas, bem no seguimento do estilo do Mestre. Mas…


Mas não basta seguir o estilo. É preciso trabalhar a história. Se o desenho é irrepreensível, o argumento é muito fraco, previsível e repete situações já vistas em muitos outros volumes da série. Entre outras coisas, a gruta de Avalon parece uma repetição da câmara de Hórus. Isto para além de vários erros e incongruências no argumento, no que parece uma falta de acompanhamento editorial, ou então uma descuidada preocupação de cumprir prazos. Ao contrário dos anteriores capítulos, o protagonismo feminino é quase nulo, e o final da história é apressado e previsível. Se esta história tivesse sido publicada na revista Tintin do século passado, alguém teria gostado de a ler? Talvez não…
Foi Julliard que lançou o desafio deste volume a Yves Sente, sob a forma de desenho, numa viagem que fez à Cornualha. Estava previsto ambos se deslocarem até lá, mas a COVID-19 primeiro e a doença de Juillard depois, fizeram com que tal não acontecesse. Quando Juillard descobriu que estava doente, faltavam desenhar cinco páginas. Infelizmente, a doença progrediu rapidamente e ao que parece terá havido a utilização de Inteligência Artificial para a finalização e correção de algumas vinhetas. Também parece que o desenhador não terá tido tempo para fazer uma capa mais elaborada para a edição normal. Foi ainda publicada uma edição em formato italiano.


Yves Sente terá já finalizado outros três argumentos para volumes de Blake e Mortimer, a saber:
- A Ameaça Atlante – desenhado por Peter Van Dongen. Passa-se entre Londres e o Mar do Norte. A sair no final de 2025.
- O Herdeiro da Ilha de Man – desenhado por Teun Berserik. Passa-se entre Londres, Escócia e a Ilha de Man.
- O Fantasma de Rowan House – desenhado por Peter Van Dongen. Passa-se entre o País de Gales e a Jamaica. Recorde-se que Rowan House é a mansão de família de Blake.
Esperemos que sejam bem mais inspirados do que este, apesar do quase esgotamento dos temas daquela época ainda disponíveis.
Mas este tipo de planificação não acontece apenas com esta série. Também o estúdio Graton já tem o seu calendário perfeitamente definido.
Vamos pois falar do mais recente álbum de Michel Vaillant publicado em Portugal: Redenção.
A herança de Jean Graton
Trata-se da segunda parte do díptico iniciado no volume anterior, e tal como no caso do livro de Blake e Mortimer, a imaginação parece andar arredada deste álbum. Temos várias histórias paralelas que por vezes se tocam e misturam, todas básicas e sem grande originalidade, com algumas incongruências que nos fazem duvidar do argumento. Será que alguma vez o FBI iria usar um senador como isco? Não me parece…
Mas vamos meter mais uns ingredientes no copo misturador… Uma pilota feminina inspirada em Danica Patrick, pilota que conseguiu um 3º lugar nas 500 Milhas de Indianápolis; Françoise cada vez com mais problemas oncológicos; corridas americanas que são das mais confusas e que aqui ainda conseguem ser muito mais confusas; e já agora, mais personagens com fisionomia de atores de cinema.


Resultado disto tudo? Uma grande salganhada que não convence ninguém. Alguém acredita que um piloto que esteve meses sem correr chega ao circuito e consegue a pole-position?
Com uma equipa bem oleada de desenhadores de boa qualidade, o mais importante é o visual e toda a panóplia de acessórios da franquia. Este livro foi lançado em França em cinco edições diferentes com variado material extra, com mais ou menos cadernos, numerados ou não, e até uma caixa especial (667 €) com muitos itens, como por exemplo uma miniatura à escala 1/43 e três mini capacetes.

Nesta autêntica linha de produção da Graton, foi lançada já neste mês de Fevereiro a nova série de Julie Wood, 45 anos depois do último álbum. Em seguida, no princípio de Abril, vai sair um novo Dossier (desta vez sobre o Circuito de Zandvoort) e, no final de Abril, o terceiro volume da série Henri Vaillant (inédita em Portugal). No princípio de Junho será a vez do quarto volume da série Légendes, também inédita em Portugal, e por fim no final de Setembro surge o décimo quarto volume da nova série de Michel Vaillant.
Não pude deixar de reparar na enorme quantidade de agradecimentos que surgem na abertura do livro. Se Jean Graton tivesse feito o mesmo nos seus álbuns, certamente teria ocupado duas páginas bem cheias…
Os volumes das duas séries em análise têm uma dinâmica de leitura contínua já bem conhecida e normal nestes títulos.
Livros em capa dura com a qualidade já reconhecida da editora. Boas encadernações e boas impressões, sendo o de Blake e Mortimer em papel baço e o de Michel Vaillant em papel brilhante, o que faz todo o sentido, atendendo ao tipo de desenho e ao tipo de paleta de cores utilizadas em cada uma das obras. Preço normal para o tipo de livro.
Tempo de leitura:
- Assinado “Olrik” – aproximadamente 1 hora e 15 minutos
- Redenção – aproximadamente 30 minutos
Eis duas séries que, de todo o carisma inicial, apenas conservam o nome de origem. Tudo o resto se perdeu ao longo do tempo. Ambos os álbuns são destinados aos amantes das respetivas séries e aos colecionadores. Mas enquanto se venderem como pãezinhos, a sua continuidade é garantida. Em França, Assinado “Olrik” vendeu 240.000 exemplares em dois meses, ocupando o 5º lugar dos livros de BD mais vendidos em 2024. Para bom entendedor…

- ASSINADO “OLRIK”
- Yves Sente e André Juillard
- Editora: Edições ASA
- Livro em capa dura com 64 páginas a cores nas dimensões de 24 x 32 cm
- PVP: 15,90 €

- REDENÇÃO
- Denis Lapiére, Marc Bourgne e Eillam
- Editora: Edições ASA
- Livro em capa dura com 56 páginas a cores nas dimensões de 22 x 29 cm
- PVP: 14,95 €

Se não está a ler ou não tem um livro na mão… By Jove, algo se passa!!!