Análise BD: Airborne 44 – Wild Men
«Ei, Virgil!
Desta vez, sou eu quem te ouve a pensar durante todo o caminho até Nova Iorque.Tens de parar. Se quiseres sobreviver, coloca-te no modo zero.Estás aqui e agora!O resto não existe.»
A série
Nesta série que nos transporta para a Segunda Guerra Mundial, com diferentes episódios e personagens, temos os protagonistas Virgil e Jay, que procuram os seus propósitos em dezembro de 1944, após o início da ofensiva alemã nas Ardenas.
As Ardenas são colinas e montanhas situadas na Bélgica, no Luxemburgo e estendem-se até à França. Aqui deu-se a célebre Batalha das Ardenas, que foi um dos últimos esforços alemães na guerra, e cuja derrota foi crucial para o fim do domínio do Terceiro Reich.
Estes dois heróis, após escaparem da morte, juntam-se ao exército dos Estados Unidos da América. Enquanto Virgil se adapta como motorista de camião, Jay segue para a linha da frente.
Conforme a história do álbum se desenrola, vamos assistindo à interação entre os dois e ao desenvolvimento da sua relação, que é desde o início tumultuosa, devido ao racismo por parte de Jay em relação a Virgil. No entanto, a visão, a crueldade e a realidade da guerra fazem com que a perceção e as crenças de Jay mudem, permitindo-lhe ver Virgil com outros olhos.
Daqui nasce uma camaradagem e amizade muito forte entre os dois.
Temas sociais e paralelos contemporâneos
O autor Jarbinet continua desta forma a explorar os temas já levantados no volume anterior (que também tive a oportunidade de ler), levando-nos a refletir sobre o contexto atual da nossa sociedade.
É fácil perceber o intuito do autor em demonstrar, com estes livros, que os afro-americanos eram tratados com maior respeito em França do que nos Estados Unidos naquela época. É interessante refletir como a França também tinha – e continua a ter – divergências complexas nas questões de racismo e identidade.
Hoje em dia, mantém-se a intensidade das questões raciais nos dois países. Se a França era mais tolerante do que a América do Norte, agora vemos um crescendo de ideologias de extrema-direita por toda a Europa, e o racismo faz-se notar de forma igual, pelo menos a meu ver.
A arte
Jarbinet consegue apresentar um argumento sólido e competente, sendo também exímio na ilustração, com um desenho realista muito bom. A arte do autor transporta-nos facilmente para o ambiente e atmosfera da guerra, com um traço elegante mas, ao mesmo tempo, desesperante nas cenas de combate.
Para os fãs do desenho franco-belga clássico, este livro é um verdadeiro deleite visual, com cores muito bem aplicadas, carregadas de emotividade e deslumbre.
O autor proporciona cenários formidáveis, com total dedicação à componente bélica, com transportes terrestres e aéreos extremamente detalhados, bem como paisagens florestais e urbanísticas variadas, sempre com uma qualidade espetacular.
Gosto muito das capas do autor, que demonstram, em todos os livros desta série, que é impossível ir ao engano no que toca à temática da guerra. São extremamente apelativas, especialmente para quem, como eu, aprecia histórias das guerras mundiais.
Um autor completo
Jarbinet é extremamente multifacetado nas três vertentes:
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Desenho realista formidável
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Argumentos de qualidade para histórias de guerra e dramas humanos
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Coloração excelente, que perpetua o classicismo das suas bandas desenhadas, com um toque de modernidade
Destaco ainda que este fantástico autor leciona desenho e banda desenhada na Académie René Defossez, em Spa.
Edição portuguesa da Asa
Edição da Asa, em capa dura e com o clássico formato franco-belga, de tamanho generoso, especialmente agradável para banda desenhada de temática bélica e histórica. A encadernação é muito competente e o papel adequado ao estilo de cor e grafismo da obra.
Conclusão
Para os aficionados da banda desenhada histórica e da Segunda Guerra Mundial, esta é uma compra obrigatória.