Central Comics

Banda Desenhada, Cinema, Animação, TV, Videojogos

Análise Ataque dos Titãs – Volumes 8 e 9

Volumes 8 e 9 de Ataque dos Titãs mergulham no drama político e existencial, revelando escolhas humanas e traumas com intensidade brutal.

O volume 8 é aquele momento da série em que Hajime Isayama decide, com alguma crueldade quase matemática, que basta de brincar aos mistérios. Está na hora de virar a mesa e mostrar que Ataque aos Titãs nunca foi apenas sobre pessoas a gritar enquanto correm.

Ataque dos Titãs - Livro 8

O foco recai fortemente sobre Historia e Ymir, um duo que funciona como manual ambulante de tudo aquilo que AOT faz bem: personagens quebradas, moralidade opaca e a recusa categórica de dar ao leitor o conforto de uma resposta fácil.

É aqui que a obra começa a admitir, sem grande cerimónia, que liberdade e identidade custam mais do que qualquer muro pode proteger.

Sublinhada por um desenho que continua firme na sua “expressividade feia” — certamente descreveria como uma insistência gráfica que rejeita a boniteza para preferir a verdade, ainda que esta venha aos tropeções. Os titãs continuam grotescos e magníficos, e o contraste entre a fragilidade humana e a escala monstruosa deles mantém-se como a imagem de marca.

O tom político começa a fermentar. Os grupos façam-si-de-aliados-mas-não, as narrativas pessoais são instrumentalizadas, e a sensação de que o mundo da obra é maior e mais podre do que parece torna-se inescapável. Este volume é, em suma, o momento em que Ataque aos Titãs ergue a sobrancelha e pergunta ao leitor:

“Estás mesmo preparado para saber a verdade?”
Diria que provavelmente não, mas vais continuar a ler porque o desastre é viciante.


Volume 9
Se o volume 8 abre a porta, o volume 9 arranca-a das dobradiças, lança-a pela janela e ainda acende um cigarro enquanto observa o caos. É o volume em que Reiner e Bertholdt decidem que chega de teatro e assumem, com a subtileza de um murro de titã, aquilo que são.

A famosa revelação, aquela que muda a estrutura narrativa inteira, é tratada com uma frieza quase intencional.

Isayama não dramatiza. Não faz fanfarra. A informação simplesmente… cai.

“As grandes tragédias não chegam de trombeta na mão; chegam porque alguém, cansado, decidiu dizer a verdade entre dois parágrafos.”
E é exatamente isso que faz esta parte tão poderosa.

O volume mergulha Eren num conflito interno que deixa claro que a série está menos interessada em batalhas de titãs e mais na forma como pessoas traumatizadas tomam decisões irreparáveis.

A luta em cima da muralha, com Eren dividido entre amizade e ódio, é um microcosmo do que AOT sempre quis ser: uma tragédia sobre escolhas impostas e destinos forçados.

Visualmente, o volume é um desfile de energia bruta. A composição das cenas de combate mostra um Isayama mais confiante, mais disposto a usar o caos como linguagem. A sujidade do traço, longe de ser defeito, é expressão: tudo está partido, tudo está urgente.

A ação é caótica o suficiente para que o leitor perceba que a violência nunca resolve nada e apenas baralha o tabuleiro antes da próxima dor.


Ler estes volumes 8 e 9 seguidos marca a passagem definitiva da série da “história de sobrevivência” para o “drama político-existencial com titãs como metáfora da humanidade em crise”.

São volumes onde as máscaras caem literalmente e onde Isayama mostra que, por baixo do espetáculo, a sua verdadeira obsessão é outra: culpa, identidade, trauma e a necessidade humana de construir inimigos para justificar o sofrimento.

Ataque dos Titãs - Livro 8

Diria que este é o momento em que Ataque dos Titãs “cresce”, não no sentido romântico, mas naquele sentido desconfortável em que descobrimos que o mundo é maior, mais complexo e infinitamente menos justo do que imaginávamos.

E claro: vamos continuar a ler. Porque o desastre, como sempre, continua irresistível.

A Distrito Manga continua com uma excelente periodização desta série, que deve ser lida sem deixar passar muito tempo entre os seus volumes para realmente usufruir da sua mística e ambientação avassaladora.

Carlos Maciel

O Carlos gosta tanto de banda desenhada que, se a Marvel, a DC, os mangas, fummeti, comic americano e Franco-Belga fundissem uma religião, ele era o primeiro mártir. Provavelmente morria esmagado por uma pilha de livros do Astérix e novelas gráficas 😞 Dizem que cada um tem um superpoder; o dele é saber distinguir um balão de pensamento de um balão de fala às três da manhã, depois de seis copos de vinho e um debate entre o Alan Moore e o Kentaro Miura num café existencial em Bruxelas onde um brinde traria um eclipse tão negro quanto dramático, mas em que a conta era paga pelo Bruce Wayne enquanto o Tony Stark vai mudar a água às azeitonas.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Verified by MonsterInsights