Cannon: Os filmes que (infelizmente) nunca vimos
Na década de 1980, a Cannon Film Group, liderada pelos primos israelitas Menahem Golan e Yoram Globus, tornou-se sinónimo de ambição desmedida em Hollywood. Conhecida por produções rápidas e orçamentos apertados, a Cannon tentou, ainda assim, dar o salto para a primeira divisão através de uma aposta inesperada: os super-heróis da Marvel.
Em 1985, a Cannon adquiriu os direitos do Homem-Aranha por cerca de 225 mil dólares, uma pechincha mesmo para a época. Determinado a transformar Peter Parker num fenómeno de bilheteira, Menahem Golan contratou o argumentista Leslie Stevens para desenvolver uma adaptação cinematográfica.
A proposta, porém, surpreendeu pela abordagem:
Peter Parker trabalharia nas Indústrias Zyrex e, após uma experiência falhada, transformar-se-ia numa criatura meio-homem, meio-tarântula. O realizador previsto era Tobe Hooper, então envolvido em Os Invasores de Marte.
A imprensa norte-americana chegou a divulgar um teaser poster, mas o argumento foi travado por Stan Lee, que considerou a versão demasiado afastada do espírito da personagem. Mais detalhes aqui.

Entre projectos jamais realizados, um dos mais insólitos surgiu num anúncio interno de pré-produções para 1987: a Cannon planeava The Incredible Hulk com Dustin Hoffman e Arnold Schwarzenegger no elenco. A realização estaria a cargo de Menahem Golan.
Apesar de escassas informações adicionais, o projecto alimenta até hoje o imaginário dos “filmes que podiam ter mudado tudo”. Na altura, Schwarzenegger consolidava o seu estatuto de estrela de ação e Hoffman era já vencedor de Óscar. Nada avançou além do papel.
Mesmo após o declínio do estúdio, Menahem Golan manteve-se empenhado em viabilizar o filme do Homem-Aranha. Em 1990, tentou reativar o projeto, sondando empresas de efeitos visuais no Canadá.
Pouco depois, em 1993, a Variety noticiou que a Carolco recebera um argumento completo de James Cameron. Contudo, verificou-se que o texto era praticamente idêntico ao de Golan, enviado no ano anterior, surgindo até um misterioso crédito a “Joseph Goldmari”, erro tipográfico que misturava o pseudónimo de Golan com o nome de um executivo da Marvel.
Cameron desejava Schwarzenegger como Doctor Octopus, mas o filme nunca passaria da fase de intenções.
O justiceiro Frank Castle também chamou a atenção da Cannon. Antes de The Punisher – Fúria Silenciosa (1989), com Dolph Lundgren, o papel esteve associado a Charles Bronson, num filme que seria realizado por J. Lee Thompson e escrito por Paul Schrader (Taxi Driver, Touro Enraivecido).
O projecto acabou engavetado antes de entrar em produção.
No início dos anos 90, o produtor Charles Band (Full Moon Entertainment) adquiriu temporariamente os direitos de Doctor Strange, preparando um filme directo-para-video com atmosfera de terror e efeitos práticos — incluindo criaturas, portais e animação.
Com Dormammu como antagonista e argumento de C. Courtney Joyner, o projecto prometia uma abordagem mais sombria que qualquer adaptação posterior. No entanto, os direitos expiraram e o filme foi readaptado sob o título Doctor Mordrid (1992), mantendo grande parte do ADN original.
Embora Superman IV: Em Busca da Paz tenha sido recebido como um fracasso retumbante — e criticado publicamente por Christopher Reeve — a Cannon chegou a anunciar Superman V, com o regresso de Reeve, Gene Hackman e até Marlon Brando.
Tal como muitos outros títulos da produtora, o filme foi cancelado com a crise financeira que ditou o fim do império Golan-Globus.
Nos catálogos de pré-produção do estúdio também constavam sequelas com Sylvester Stallone que nunca viram a luz do dia:
- Over the Top 2, após a estreia de O Lutador em 1987;
- Cobra 2, que reuniria Sylvester Stallone e John Travolta, com realização de Sam Firstenberg (O Regresso do Ninja Americano).
Ambos os projectos foram abandonados.
Os anos em que a Cannon tentou conquistar o universo dos super-heróis são hoje vistos como um capítulo fascinante da história de Hollywood. Entre argumentos rejeitados, elencos improváveis e anúncios audaciosos, a produtora deixou uma colecção de filmes que nunca aconteceram — mas que continuam a alimentar a lenda de um estúdio tão ousado quanto caótico.
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.


é o que dá meterem-se com judeus!