Jogos: Shinobi: Art of Vengeance – Análise
Shinobi: Art of Vengeance é o regresso de Joe Musashi, num turbilhão de acção ninja desenhado à mão.
Jogo: Shinobi: Art of Vengeance
Disponível para: PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox One, Xbox Series
Versão testada: PlayStation 5
Desenvolvedor: Lizardcube
Editora: Sega
Quando um estúdio como a Lizardcube decide pegar numa franquia lendária da Sega, as expectativas disparam. Com Shinobi: Art of Vengeance, a equipa parisiense por trás de Wonder Boy e Streets of Rage 4 entrega aquilo que os fãs ansiavam: um regresso ousado da série Shinobi, trazendo Joe Musashi de volta à linha da frente depois de mais de uma década nas sombras. E a melhor parte? Sente-se como um projecto feito por puro amor aos jogos originais.
O enredo é puro cinema ninja clássico: a maléfica corporação ENE, liderada pelo implacável Lord Ruse, arrasa a aldeia de Musashi e petrifica o seu clã. Chegou a hora da vingança. Há uma esposa grávida, um jovem aprendiz e drama suficiente para alimentar a acção, mas não nos enganemos, a história existe sobretudo para justificar abrir caminho através de hordas de inimigos com o máximo estilo possível. Faz lembrar os ritmos narrativos de um arcade dos anos 90, com o toque certo para manter o jogador agarrado.
Onde Art of Vengeance realmente brilha é nos visuais. O estilo desenhado à mão, a tinta e caneta, é deslumbrante. Mistura a nitidez da banda desenhada europeia com a pincelada japonesa, tornando cada imagem digna de um poster. Os cenários são variados e cheios de pormenores: ruas encharcadas de néon, desertos abrasadores, mercados de peixe grotescos… cada nível parece vivo e texturado. Por vezes, o cenário torna-se demasiado carregado e pode dificultar a visão de Joe ou dos inimigos, mas quando o ecrã tem este aspecto é difícil ficar aborrecido.
O combate é o coração de Shinobi, e aqui sente-se rápido, fluido e cheio de camadas. Joe dança pelo campo de batalha com golpes leves e pesados de katana, lançamentos de kunai, e um ritmo que incentiva a manter os inimigos no ar, muito ao estilo de Devil May Cry. Isto não é “carregar nos botões ao acaso”. É preciso gerir o espaço, isolar ameaças e escolher o momento certo para libertar feitiços Ninpo ou um devastador Ninjutsu. E quando surge o comando de Shinobi Execution? É pura catarse, uma aniquilação em estilo anime que nunca perde o impacto.
A movimentação flui com a mesma suavidade. No início há saltos duplos e investidas rápidas, mas depressa entram em cena novas ferramentas como garras para escalar paredes e um gancho para se balançar. Cancelamentos de ataques e acrobacias ninja permitem ligar movimentos e combate de formas criativas, mantendo sempre a velocidade em alta. A única falha? Um ligeiro “escorregar” nos controlos ao aterrar em saltos mais precisos durante segmentos acelerados. Não é grave, mas nota-se.
O design dos níveis atinge o equilíbrio perfeito entre acção linear e exploração ligeira. Os cenários estão cheios de segredos: relíquias para coleccionar, fendas de desafio que exigem perícia, e batalhas opcionais contra inimigos de elite que testam a mestria. Novas habilidades incentivam a revisitar fases anteriores, ao estilo Metroidvania, e o sistema de viagem rápida torna o regresso sem esforço. A única falha é o mapa, que marca segredos como “encontrados” mesmo depois de recolhidos, um pormenor pequeno mas irritante para a malta que gosta de completar tudo.
As batalhas contra bosses merecem destaque próprio. Cada uma é distinta, feroz e justa. São encontros em que se morre algumas vezes, aprende-se o padrão, e depois vence-se o adversário com um sorriso na cara. Juntando fases bónus em que Musashi cavalga o seu fiel cão, Yamato, o jogo nunca deixa o ritmo abrandar. Seis a oito horas depois, chegam os créditos e fica a vontade de jogar mais. Felizmente, há os modos Boss Rush e Arcade para manter a adrenalina.
Do ponto de vista técnico, o jogo corre de forma impecável, embora alguns críticos tenham notado quebras de fluidez quando demasiadas explosões enchem o ecrã. A acessibilidade é exemplar, com várias opções de dificuldade que permitem a qualquer jogador, do novato ao veterano, encontrar o seu ritmo.
Resta concluir que Shinobi: Art of Vengeance é um regresso afiado de Joe Musashi, provando que o ninja continua a reinar nas sombras. Aliás, diria que é assim que se revive um clássico: respeitar as raízes, modernizar onde importa, e oferecer uma experiência coesa e empolgante sem enchimento desnecessário.
Nota: 9/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.






