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O poker como desporto da mente e ferramenta educativo

O poker costuma ser associado a cassinos e apostas, mas vai muito além do jogo de azar. Nos últimos anos, a modalidade ganhou reconhecimento como desporto da mente, uma competição intelectual semelhante ao xadrez ou bridge. Inclusive, em 2024 o poker foi oficialmente reconhecido pela Associação Internacional de Esportes da Mente (IMSA) como desporto mental, consolidando seu status de jogo de habilidade. Esse reconhecimento reforça que o poker não é apenas sorte: é um jogo de estratégia, lógica e habilidades cognitivas. Por isso, educadores e pesquisadores têm explorado seu potencial pedagógico. 

Com a popularização do poker – impulsionada também por plataformas online como a GGPoker – este clássico jogo de cartas passou a ser estudado e utilizado em contextos educativos e académicos.

Poker e Xadrez: desafios dos desportos da mente

O xadrez há muito é celebrado pelo seu valor educativo, estimulando lógica, concentração e planejamento. Da mesma forma, o poker também é considerado um jogo mental. Ambos exigem dos jogadores um intenso raciocínio estratégico e tomada de decisão frente a diferentes cenários. No xadrez, toda a informação está na mesa; já no poker, lidamos com informações ocultas e probabilidades – o que adiciona uma camada extra de desafio matemático e psicológico. Essa diferença torna o poker especialmente interessante em termos educativos: ao jogar, os participantes aprendem a avaliar riscos com informações incompletas, habilidade valiosa também na vida real. Assim como jogadores de xadrez treinam aberturas e táticas, jogadores de poker estudam probabilidades de cartas e comportamento dos adversários. Em ambos os casos, exercita-se intensamente o cérebro e a lógica, exigindo raciocínio rápido, adaptabilidade e muita prática para atingir alto nível.

Muito além do entretenimento, o poker pode contribuir para o desenvolvimento de diversas competências. Entre as habilidades estimuladas pelo jogo, destacam-se:

  • Raciocínio probabilístico e matemático: calcular odds (probabilidades das cartas) em tempo real ajuda a aprimorar noções de estatística e combinatória de forma prática.

  • Tomada de decisão sob pressão: cada mão de poker exige decidir com informações parciais, gerindo riscos e recompensas – um treino para decisões rápidas e eficientes mesmo em situações de stress.

  • Leitura de padrões e psicologia: os jogadores aprendem a observar comportamento e “dizeres” (tells) dos adversários, desenvolvendo percepção sobre intenções alheias e inteligência emocional.

Todas essas competências são úteis não só nas mesas de jogo, mas também no âmbito acadêmico e profissional. Por exemplo, estudantes que jogam poker costumam relatar maior facilidade com conceitos de probabilidade em matemática. Já a capacidade de manter a calma e pensar estrategicamente sob pressão é apreciada em carreiras que vão da gestão empresarial à engenharia.

O poker no ensino e nas universidades

O potencial educativo do poker já chegou às salas de aula e universidades. Professores de matemática veem no jogo uma forma envolvente de ensinar conceitos de probabilidade e estatística. Há casos de escolas secundárias usando poker como ferramenta lúdica para explicar combinatória – calcular as chances de formar determinadas mãos (como um flush ou uma straight) é um exercício matemático aplicado. No ensino superior, a tendência também cresce: instituições renomadas como o MIT e a Universidade de Harvard incorporaram o poker em disciplinas relacionadas à estratégia e teoria dos jogos. 

Clube de poker do Massachusetts Institute of Technology, o MIT


No Brasil, a Unicamp (Universidade de Campinas) foi pioneira ao oferecer uma disciplina optativa chamada “Fundamentos do Poker”. Nessa disciplina universitária, alunos de diversas áreas (engenharia, economia e ciências do desporto) analisam situações reais de jogo para aperfeiçoar o processo decisório. O professor responsável explica que “a ideia é que o aluno aprenda a decidir”, utilizando o jogo como um laboratório para tomadas de decisão mais sólidas. Os conhecimentos adquiridos no jogo trazem benefícios não só para a vida pessoal, mas também para o mundo dos negócios. Esses exemplos ilustram como o poker vem ganhando espaço como objeto de estudo sério, transcendendo mesas de casino e entrando no currículo académico.

Poker para negócios e carreira

Muitas das lições do poker têm paralelo direto com desafios encontrados no mundo corporativo e na vida cotidiana. Empreendedores e gestores, por exemplo, precisam avaliar riscos constantemente – tal qual um jogador avaliando se deve pagar uma aposta alta com uma mão mediana. 

Tallis Gomes, fundador do Easy Taxi, um dos primeiros aplicativos de transporte do mundo, e do G4 Educação, principal programa de capacitação de empreendedores de médio e grande porte do Brasil, já revelou em seu Instagram que sem o poker, o G4 jamais existiria: “Em uma das noites do Poker Máfia — um grupo de Poker de amigos empresários que faço parte até hoje — percebi um baita gap no mercado. Dessa mesa de conversas, surgiu um story, e desse story, nasceu o G4”.

Tallis Gomes, fundador do G4 Educação (foto: Reprodução/Instagram)

A gestão de recursos limitados no poker (como as fichas e a banca) tem paralelo na gestão financeira de um projeto ou orçamento empresarial. Além disso, a arte do blefe guarda conexão com técnicas de negociação: saber o momento certo de revelar informações ou de fazer uma aposta ousada são estratégias presentes tanto numa mesa final quanto numa reunião de negócios. Não por acaso, muitos profissionais veem o poker como um treinamento para a mente. 

Estudos académicos recentes apontam que jogar poker pode aprimorar competências gerenciais, incluindo análise de cenários e antecipação de tendências. Em suma, o poker pode ser visto como uma simulação de tomada de decisão em ambiente competitivo, fornecendo experiência em planejamento estratégico, pensamento crítico orientado a objetivos.

Seja num clube local ou numa universidade, o poker demonstra valor educativo. Tal como o xadrez, este jogo de cartas ensina lições que vão muito além do baralho. Ao encarar o poker não apenas como lazer, mas como ferramenta de desenvolvimento intelectual, jogadores e estudantes podem colher benefícios em raciocínio, disciplina e tomada de decisões – habilidades que são trunfos tanto no jogo quanto na vida.

Dário Mendes

Dário é um fã de cultura pop em geral mas de banda desenhada e cinema em particular. Orgulha-se de não se ter rendido (ainda) às redes sociais.

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