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Hollywood precisa de novas estrelas de ação

Texto de opinião com granada na mão e testosterona nos olhos

Por muito que custe admitir, o cinema de ação – esse reduto glorioso de músculos suados, frases de uma só linha e explosões coreografadas com precisão militar – está a viver uma crise existencial. Olhemos para o pódio atual das estrelas do género: Tom Cruise (Missão: Impossível), Keanu Reeves (John Wick), Donnie Yen (Ip Man), Jason Statham (Correio de Risco), Dwayne “The Rock” Johnson (Velocidade Furiosa: Hobbs & Shaw). São todos titãs, sim, mas titãs com idade para serem avôs de um novo Exército de Um Só Homem™.

Velocidade Furiosa: Hobbs & Shaws

E nem mencionemos os deuses antigos: Sylvester Stallone (A Fúria do Herói), Arnold Schwarzenegger (O Predador), Jackie Chan (O Incorruptível), Van Damme (Bloodsport), Liam Neeson (Taken), Harrison Ford (Indiana Jones), Chuck Norris (Desaparecido em Combate) ou Bruce Willis (Assalto ao Arranha Céus). Todos eles continuam a lutar – literalmente – contra o tempo.

Rambo III
Rambo III

A pergunta é simples, mas explosiva: onde estão os novos heróis de ação?

Hollywood vive um dilema: o músculo jovem parece ausente ou então não tem espaço para se mostrar. Antigamente, bastava entrar numa sala, despir a T-shirt e explodir uma refinaria para se tornar ícone. Hoje, exige-se sensibilidade, versatilidade, ou pior ainda… vulnerabilidade.

Tyler Rake: Missão de Resgate
Tyler Rake: Missão de Resgate

Chris Hemsworth tentou com Blackhat – Ameaça na Rede (fracasso) e redimiu-se com Tyler Rake: Operação de Resgate e a continuação, ambos sucessos no streaming mas que não passaram pelas salas de cinema. Ryan Gosling ensaiou com The Gray Man – O Agente Oculto e Profissão: Perigo, mas não convenceu. Michael B. Jordan tem carisma, físico e a força de Creed III, mas parece mais virado para a realização e dramas existenciais do que para carregar metralhadoras.

Creed III


Chris Pratt, vindo da comédia para o estrelato musculado, tornou-se herói de ação improvável com Guardiões da Galáxia, Mundo Jurássico e A Guerra do Amanhã, misturando charme descontraído com ação em alta rotação. Jason Momoa, com o seu físico de titã e carisma tribal, impôs-se como uma força bruta no cinema de ação moderno, em papéis icónicos como Aquaman, Dune e o vilão explosivo de Velocidade Furiosa X

Velocidade Furiosa X
Velocidade Furiosa X

Um nome que frequentemente surge nas conversas sobre o próximo grande herói de ação é Henry Cavill. Com a sua presença física imponente, olhar de aço e uma voz que parece saída de um quartel britânico, Cavill tem todos os ingredientes clássicos de uma estrela de ação. Brilhou como Superman no universo DC, mas foi em Missão: Impossível – Fallout que mostrou verdadeira pujança física, com murros que pareciam fazer abalar paredes. Mais recentemente, liderou O Agente da U.N.C.L.E. e Argylle – O Espião Secreto, provando versatilidade entre o charme retro e a brutalidade moderna. Cavill é também um nome associado ao novo Highlander. Se alguém parece pronto para empunhar a próxima grande arma cinematográfica, é ele.

Henry Cavill, Dua Lipa e John Cena em “Argylle – Espião Secreto” 

Outra linhagem curiosa do cinema de ação é a dos wrestlers transformados em estrelas de cinema, com resultados surpreendentemente diversos. Dwayne Johnson abriu o caminho com estrondo, embora hoje pareça mais interessado em dramas familiares e empreendimentos empresariais do que em explodir edifícios. Dave Bautista, por sua vez, afastou-se dos clichés musculados para abraçar papéis mais dramáticos e introspectivos, como em Blade Runner 2049 ou Dune, mostrando que há vida além dos murros. John Cena encontrou o equilíbrio entre pancadaria e comédia irreverente, destacando-se em Velocidade Furiosa 9 Esquadrão Suicida e até em papéis auto-paródicos que gozam com a sua fisicalidade. Apesar de os combates serem encenados no ringue, estes nomes provaram que o wrestling continua a ser uma escola de carisma, presença de palco e… resistência a explosões.

Plano de Fuga 2: Hades, Sylvester Stallone, Dave Bautista
“Plano de Fuga 2: Hades”, Sylvester Stallone, Dave Bautista


E as superestrelas globais?

Hollywood não é o único viveiro de heróis de ação. Pelo contrário: o Oriente, em especial, tem mantido a chama bem acesa.
Hrithik Roshan, o “deus grego” de Bollywood, brilhou em War e Fighter , mostrando uma combinação rara de físico imponente, estilo e movimentos precisos.
Tiger Shroff, herdeiro natural do cinema de ação indiano, é um especialista em artes marciais e acrobacias. Chegou a ser anunciado como o protagonista da versão de Bollywood de Rambo – A Fúria do Herói, com aprovação do próprio Stallone (!), embora o projeto ainda esteja suspenso.
Tony Jaa, tailandês, é um demónio em movimento – basta rever Ong-Bak – O Guerreiro  ou O Protetor – A Honra do Dragão para perceber o nível quase sobre-humano do seu talento físico.
Iko Uwais, da Indonésia, é sinónimo de brutalidade estilizada e precisão letal, como demonstrou em The Raid – Redenção e Tripla Ameaça. Também já entrou no radar de Hollywood (Snake Eyes, Os Mercen4rios e Star wars: Episódio VII), mas ainda sem o reconhecimento que merece.

Roshan em “War”, de 2019

Estes nomes provam que o cinema de ação já não é exclusivo da América. O futuro do género pode muito bem falar hindi, tailandês ou bahasa, com murros tão universais como qualquer frase de efeito dita por Bruce Willis.

E as heroínas?

Charlize Theron segue imbatível com Mad Max: Estrada da Fúria e Atomic Blonde – Agente Especial. Ana de Armas tentou com Ballerina, derivado de John Wick, mas o filme não vingou. Scarlett Johansson (Viúva Negra) continua a ser um dos nomes mais respeitados do género, embora mantenha distância do rótulo de “estrela de ação” e tanto surge no ecrã em Marriage Story como enfrenta dinossauros em Mundo Jurássico: Renascimento. Zoe Saldaña (Guardiões da Galáxia, Avatar) ou Emily Blunt (No Limite do Amanhã, Sicario) demonstram que há campo fértil para protagonistas femininas – se os estúdios apostarem de forma convicta.

Do Universo de John Wick: Ballerina

 

Glen Powell: o novo cavaleiro?

A grande aposta parece ser Glen Powell, protagonista de The Running Man, nova adaptação do clássico O Gladiador com Arnold Schwarzenegger (1987). Powell, com 36 anos e físico de herói, tem o perfil ideal – mas será suficiente? Hollywood já o testou em Os Mercenários 3, sem grande impacto. A história ensina que um filme só não basta para fazer nascer uma lenda.

Running Man

Entre as apostas de risco estão nomes como: Austin Butler – talento dramático, físico esculpido, e a promessa de Heat 2 no horizonte. Dev Patel – surpreendente, intenso, e autor de Homem Macaco, talvez o mais fresco sopro no género nos últimos anos. Zac Efron – ainda à espera do papel certo, mas o potencial está lá, escondido entre halteres e boa vontade. Pedro Pascal – já cinquentão, mas com carisma suficiente para carregar séries inteiras às costas. As suas crises de ansiedade seriam desculpas suficientes para constantemente esmurrar os vilões.

Homem Macaco
Homem Macaco

Novos heróis, sangue novo, agora.


O género é resiliente, mas precisa de investimento e risco. Hollywood não pode abandonar Glen Powells, Michael B. Jordans, Dev Patels ou Austin Butlers à primeira bilheteira mediana. Nem pode continuar a olhar de lado para talentos como Tiger Shroff ou Iko Uwais só porque não nasceram em Los Angeles.

Porque sem novos heróis a surgir, o futuro do cinema de ação será uma eterna reedição dos mesmos nomes de sempre – agora mais grisalhos, mais lentos, mas ainda com granadas nos bolsos.

Predador

O cinema de ação sempre foi um bastião da exportação cultural americana – o idioma universal das balas, explosões e vinganças pessoais. Mas sem novos rostos a herdar a pólvora dos veteranos, arrisca-se a tornar-se um museu em movimento.

Antigamente, um jovem Stallone com um guião em mão conseguia convencer um estúdio a arriscar. Hoje, se um novo ator não tiver 10 milhões de seguidores e não viralizar no TikTok, não lhe dão nem um colete à prova de balas quanto mais uma saga cinematográfica.

Bloodsport

O cinema de ação não pode depender eternamente de um Cruise a correr em câmara lenta ou de um Statham a distribuir socos a meia dúzia de mafiosos russos. O público precisa de acreditar. Precisa de novos nomes a quem gritar “Yippee-ki-yay!” no escurinho da sala.

Porque um mundo sem heróis de ação é um mundo sem a esperança que alguém salte de janelas em chamas ou conduza carros a 200 à hora em sentido contrário.

Os Mercnários

Nota final: Hollywood, estás a ler? Dá aos jovens atores tempo, treino e explosões. O legado de John McClane, Rambo e Exterminador merece mais do que memórias. Merece sucessores.

Ricardo Lopes

Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.

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