GOU NAGABE: Lovecraft em versão manga
Os incontáveis fãs de Junji Ito podem contar já algumas adaptações do mestre do horror em português. Ainda que as obras pareçam ser escassas, elas são um respirar de alívio para todos os fãs de Mangá que adoram ver o reconhecimento de obras de autores japoneses que merecem toda a admiração dos que não são indiferentes à sua imaginação, dedicação, versatilidade e livre vontade para explorar histórias de teor adulto bem complexo.
Se Junji Ito ganhou maior visibilidade nos últimos anos em Portugal, é difícil crer que outro artista talentoso não merece o mesmo nível de apreciação e destaque: Trata-se de Gou Tanabe (n. 1971) que se tornou famoso pelas suas adaptações dos contos de H.P. Lovecraft.
Se podemos contar com os fãs das obras de um dos mais revolucionários escritores de terror em Portugal e conciliar com os que apreciam a arte dos Mangá, não podemos ignorar Gou Tanabe. Procurando uma fidelidade máxima à adaptação dos contos, preservando os diálogos e procurando corresponder à exata representação de todos os cenários e ambientes descritos, apenas nos surpreendemos por não procurar criar as suas próprias histórias alternativas dentro dos Mitos de Cthulhu (Cthulhu Mythos) como fizeram muitos outros seguidores de Lovecraft.
Mas, como as adaptações são notáveis, nenhum admirador de Gou Tanabe pode reclamar: São uma forma de promoção valiosa da obra cosmicista de Lovecraft através de uma arte difícil de igualar. O traço realista do autor, altamente expressivo e rico em detalhes, permite-lhe evocar a atmosfera de horror mais rica e imersiva que um leitor do subgénero poderia encontrar numa revista ou volume Mangà.
Gou Tanabe dedicou-se à obra de Lovecraft apostando em histórias sombrias e sem finais felizes, onde o desespero, a ansiedade, o pesadelo vivido ou a deterioração mental, em atmosferas densas em que pesa a angústia e por vezes a perda de relevância existencial ou a maior vulnerabilidade sobressaem como elementos de uma fórmula da qual não se cansa. Através da adaptação destes contos, só poderia fazer eco de algo que já o atraíra noutras obras que o distinguiram como Sunakichi (2001) e Kasane (2007.)

Mais que um autor dedicado, Tanabe pode ser descrito como um homem profundo, para quem não deve ser estranho o cinismo e os conceitos universais niilistas de Lovecraft. Explorou os seus contos com clara absorção e intensidade, revelando-se como um autor sensível ao poder das questões que surgem após as maiores crises existenciais, que podem conduzir à maior rutura com o que tomamos como real, significativo ou verdadeiro.
Os seus monstros e mutantes são tão bons como é expressiva a sua ilustração da crueza de um mundo opressivo onde o ser humano vive sem propósito, exposto a forças que estão para além da sua compreensão. Não é por acaso que Tanabe já ganhou vários prémios ao longo das últimas décadas e talvez seja ainda menos surpreendente que editoras como a Dark Horse Comics tenha traduzido e publicado as suas obras nos EUA, reconhecendo-o como um dos mais prestigiados autores lovecraftenianos.
Entre os seus contos de Lovecraft já adaptados (que esperamos ver um dia traduzidos para português) encontram-se os seguintes:
The Colour Out of Space (A Cor que Caiu do Espaço) lançada inicialmente em 2015 pela editora Enterbrain/Kadokawa, foi muito recentemente publicada pela Dark Horse Comics no início de Julho de 2025, que já está a fazer furor entre os fãs.

At the Mountains of Madness (Nas Montanhas da Loucura) numa versão de 4 volumes, lançada entre 2016–2017. Adaptado o mangà pela Dark Horse em 2019, foi relançado numa versão de luxo em capa dura, com extras e acabamento premium em 2024.
H.P. Lovecraft’s The Hound and Other Stories (coletânea: The Hound, The Temple e The Nameless City) lançada em 2017. Recebeu indicações ao Eisner Award.
The Shadow Out of Time (A Sombra que Rasga o Tempo) de 2018 .
The Call of Cthulhu (O Chamado de Cthulhu) adaptado em 2019.
The Shadow Over Innsmouth (A Sombra de Innsmouth) completa em 2021.
The Dunwich Horror (O Horror de Dunwich) concluído em 2023, numa série em 3 volumes.

Fascinado por História da Arte e pelo Universo Criativo da Ficção, é um entusiasta consumidor de Banda Desenhada além de leitor assíduo de obras de Ficção Científica e de Terror, com particular predileção pelo Oculto e o Sobrenatural



