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Cinema: Crítica – O Grande Circo Místico (2019)

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Cem anos. Cinco gerações. O Grande Circo Místico cruza a realidade e fantasia num universo seu. Já nos cinemas.

Realizado por Cacá Diegues, O Grande Circo Místico (2018) conta a história do circo de uma só família. Fred (Rafael Lozano), um jovem de classe alta recém formado em Medicina, decide deixar tudo para trás quando se apaixona por Beatriz (Bruna Linzmeyer). Ao descobrir que a sua mãe é uma nobre exilada no Brasil, Fred pede-lhe que o ajude a concretizar o sonho da sua amada, ser artista de circo. Este circo místico é assim criado e durará por cinco gerações. Por consequência, isto é somente uma ínfima parte de toda a história, no qual o circo é a grande personagem enquanto observamos os vários romances e desavenças desta família.

Existe um grande contraste entre personagens emocionantes e outras desprezíveis. No geral, as personagens femininas têm histórias pessoais bastante fortes, começando por Beatriz que  concretiza o seu sonho circense e seguindo-se para as várias filhas desta família. Curiosamente, chega a surgir um rapaz nesta árvore genealógica com o gosto vestir peças femininas. Todavia, esta vontade de criar personagens femininas fortes é instável devido à constante quebra temporal que o filme contém de modo a concluir com o centenário do circo. Sem muitos detalhes, isto faz com que histórias como a da primeira filha de Fred e Beatriz, nomeadamente Charlote (Marina Provenzzano), não tenha um desenvolvimento merecido. O seu marido, Jean Paul (Vincent Cassel) é bastante violento, fugiu com o dinheiro do circo e dá início à grande pobreza desta família. No momento em que pensamos que Charlote irá receber a sua vingança já estamos a aprender sobre novas personagens, os seus filhos adultos.

Esta quebra constante acaba por ser uma das grandes falhas da narrativa. Todas as histórias individuais têm o seu lado fascinante, mas que nunca são verdadeiramente aprofundadas, acabando por não usufruir do seu elenco de luxo. Numa das histórias, Oto (Juliano Cazarré) e Lily (Luiza Mariani) são irmãos com ideias distintas. Lily deseja deixar o circo e ser atriz enquanto que o Oto quer salvar este legado da pobreza. Infelizmente, somos novamente cortados da narrativa e seguimos para outra personagem que apesar de ser representada por uma atriz brilhante, é uma personagem fria, difícil de nos conectarmos e presa à religião com uma clara referência ao A Paixão de Joana D’Arc (2028).

Em relação à verdadeira fantasia do filme, é-nos continuamente dada por Celavi (Jesuíta Barbosa), o apresentador do circo que pouco se sabe acerca de si para além de servir para narrar alguns momentos do filme. Por vezes, torna-se quase como um fantasma a pairar pelos cenários e torna-se incerta a sua realidade física. No entanto, se não fosse a sua personagem o final mágico do filme não faria qualquer sentido. O universo místico é realçado precisamente por si devido ao modo como este nunca envelhece ao longo dos cem anos e também pela sensação mágica que dá nas suas expressões faciais, charme nos movimentos e forma calma e pensativa como comunica com as restantes personagens ou espetador. Celavi dá-nos sempre a sensação que algo inesperado e mágico irá acontecer a esta família, no entanto, quando ocorre não se enquadra perfeitamente com as restantes histórias tocantes que fomos vivendo no ecrã.

As grandes qualidades do filme são sem dúvida a música belíssima, seja melancólica ou divertida que nos transporta para esta mistura entre fantasia e realidade. Além disto, a fotografia recheada de cenários e guarda-roupa coloridos deixa-nos presos às histórias das várias personagens.

Em suma, O Grande Circo Místico contém várias personagens com uma vida melancólica, mas sempre com a esperança de que algo os vá salvar desta pobreza. Contudo, esse grande acontecimento acaba por ser desapontante e durante a época e personagens mais aborrecidas de toda a narrativa. Todo o filme é de facto visualmente espectacular, o que dá ênfase ao seu tema, mas peca pela constante quebra temporal nas narrativas que originam um mau desenvolvimento nas personagens.

  • O Grande Circo Místico estreia a 3 janeiro 2018 nos cinemas.

4/10

Tiago Ferreira

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