Cinema: Crítica – Tristeza e Alegria na Vida das Girafas (2019)
Girafas, Ursos, Panteras… eis a crítica ao novo divertidíssimo filme de Tiago Guedes: Tristeza e Alegria na Vida das Girafas.
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Realizado por Tiago Guedes e baseado na peça de Tiago Rodrigues, Tristeza e Alegria na Vida das Girafas conta a aventura de uma menina (Maria Abreu) e o seu urso, chamado Judy Garland (Tonan Quito), numa procura financeira para pagarem o Discovery Channel. A conta está feita, a menina, que podemos chamar de Girafa, sabe a quantia exata para ter o canal até envelhecer, no entanto, neste longo passeio por Lisboa ira conhecer mais sobre si do que estava à espera.
A narrativa inicia-se à volta da dificuldade da menina a fazer o seu trabalho escolar, o seu pai (Miguel Borges) tenta ajudá-la, mas a tristeza pela sua falecida mulher e a dificuldade em encontrar emprego como ator começam a criar perturbações nesta pequena família. O melhor amigo da menina Girafa, um urso de peluche chamado Judy Garland mas que sonha em chamar-se Tchekov, irá então ajudá-la a encontrar dinheiro para pagarem o canal que a menina tanto adora.
Durante esta aventura por Lisboa torna-se fascinante o contraste linguístico entre a Girafa e Judy Garland. A menina tem uma paixão enorme pelo dicionário e lança constantemente palavras inesperadas que inicialmente dão um sensação bizarra devido à sua idade, mas que após nos habituarmos torna-se divertido a reação das restantes personagens perante a sua maturidade, seja na sua gramática como nas suas abordagens temáticas. Quanto a Judy Garland, este é quem traz alegria à menina com um discurso mais simplístico e motivador.
Além disto, é tambem fascinante, especialmete para um lisboeta, observar os belíssimos locais do filme por onde estes protagonistas se aventuram. Focado essencialmente na zona do Saldanha, Campo Pequeno, Praça de Espanha e Assembleia da República, Lisboa acaba por se tornar numa selva gigante onde as panteras estão à espreita.
Mas que panteras são estas? A Girafa acaba efetivamente por encontrar uma, nomeadamente um humano meio mitra, (Romeu Runa) que a manipula para o seu benefício, mas a sua inocência encontra sempre um positivismo mesmo nas coisas malignas. Esta viagem leva-a então a encontrar várias pessoas, todas com histórias e moralidades diferentes, com pouco tempo de ecrã, mas sempre altamente cativantes. Desde um pai solitário (Miguel Guilherme), um baqueiro que revela que o banco é mentiroso (Gonçalo Waddington), um polícia que lhe explica a importância das regras (Jorge Andrade) ou o Ministro de Portugal que lhe explica como as leis funcionam (Tiago Rodrigues).
Em suma, é um filme com um argumento coerente e dirigido a várias idades pelo modo como aborda temas importantes da atualidade sem nunca perder o lado divertido da vida. Além disto, a junção disto a um elenco, fotografia, montagem e música excecionais levam-nos para uma viagem memorável.
- A Tristeza e Alegria na Vida das Girafas estreou no IndieLisboa 2019 e estreia nas salas de cinema a 21 de novembro.
8/10
Tiago Ferreira
Sempre à espera de mais recomendações com esperança que a sua watchlist nunca acabe.
Operador de Câmara & AC Profissional.