Cinema: Crítica – The Long Walk – O Desafio
Adaptado da obra de Stephen King, eis que chega finalmente ao grande ecrã The Long Walk – O Desafio, num filme distópico.
Entre 1977 e 1983, George Meegan caminhou mais de 30.600 quilómetros, do ponto mais a sul América do Sul até ao ponto mais norte do Alaska, tudo de forma contínua – consoante as regras do Guinness World Records. No meio disto, Stephen King, sob o pseudónimo Richard Bachman, publicou The Long Walk, que enquanto não foi o seu primeiro livro publicado, é considerado o primeiro que escreveu. 46 anos depois e um desenvolvimento inconsistente em adaptar o livro para o grande ecrã, eis que Francis Lawrence, conhecido realizador de Eu Sou a Lenda e várias entradas de The Hunger Games: Os Jogos da Fome, foi o escolhido, com The Long Walk – O Desafio a ver finalmente a luz do dia.
Num futuro distópico nos Estados Unidos, um conjunto de jovens candidatam-se para o concurso anual – uma caminhada infernal, onde têm que manter a velocidade média de três milhas por hora, ou arriscar a execução. O vencedor é o último sobrevivente, com a promessa de riqueza e um único desejo por parte do regime totalitário que governa.
Lawrence, com a sua vasta experiência em cenários semelhantes – afinal, mais de metade da sua filmografia é composta por filmes em que os Estados Unidos foram abandonados ou dominados por forças maiores – realiza mais um filme que nos leva a reconhecer a surrealidade de tal evento, sobretudo no actual clima político norte-americano. Isto, aliado a um argumento sólido de JT Mollner (Strange Darling), este torna o ambiente em algo novo suficiente para nos deixar ansiosos.
É ao acompanharmos Ray Garraty (Cooper Hoffman), Peter McVries (David Josson), e mais um conjunto de personagens que percebemos a gravidade da realidade presente, numa caminhada dura. A verdade é que o próprio caminho não contém qualquer tipo de armadilhas ou segredos escondidos, é bastante directo, mas é na gestão de stamina e consciência que está o segredo, ao vermos estes homens a ficarem exaustos ao longo de muitos quilómetros.
Com um conceito que limita a acção e localização, é nas interacções, frequentemente comoventes, que têm entre eles que movem a obra, ao conhecermos a história de cada um e como interagem entre eles, formando amizades e rivalidades, que tornam tudo muito mais interessante. O ritmo, esse é naturalmente complicado na inconsistência da vida e do desafio que é aguentar manter a velocidade sem ser penalizado. Mesmo quando as coisas dão para o torto, é difícil habituamos ao sons das carabinas a disparar, e eliminar os concorrentes..
Assim, The Long Walk – O Desafio adapta o que é talvez uma das obras mais curiosas de Stephen King, com um filme emocional, mostrando a frieza e crueldade de um jogo imposto pelos mais altos cargos, em prol de inspiração laboral. É esperar que um dia a realidade não seja mais estranha que a ficção.
Nota Final: 8/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.
