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Análise: Os Escorpiões do Deserto Obra Completa Vol. 1

Hugo Pratt geralmente é sinónimo de Corto Maltese, mas trabalhos como Os Escorpiões do Deserto prova que conseguiu ir muito mais além do que as aventuras do marinheiro maltês.

As capacidades do autor italiano são inegáveis. A nona arte correu-lhe no sangue e tudo o que lhe saiu do lápis ou pincel foi uma obra de arte.

Aqui, em paralelo com o que fez com Comanche, a editora Ala dos Livros voltou a lançar um álbum em formato integral (neste caso duplo) e a preto e branco, para que possamos apreciar o fascinante traço de Pratt em todo o seu esplendor.

A ação ocorre nos anos 1940-1941 durante a guerra na África Oriental. Seguimos os eventos através da figura do tenente polaco Koïnsky e da so seu “Long Range Desert Group”, uma unidade inglesa formada no Egipto que é mais cógnita como “Escorpiões do Deserto”.

Hugo Pratt conhece bem esse período e este local pois viveu na Etiópia entre 1937 e praticamente até ao final da guerra. Chegou mesmo a afirmar que conheceu a maioria dos protagonistas nesta história. Daí que os delineamentos físicos e psicológicos são feitos magistralmente e com grande detalhe.

Temos Kord, um homem sedutor, compreensivo, mas misterioso e que está sempre a esconder algo. O revolucionário Hassan, que apenas trabalha para os ingleses por interesse, ou seja, dinheiro. A judia Judittah Canaan (provavelmente uma das mais fortes personagens femininas de Pratt) que apesar de ser contra os ingleses imperialistas, alia-se a eles para lutar contra os nazis. O oficial italiano Stella, que simpatiza mais com o out«ro do que com a defesa dos interesses do seu país. O severo Koïnsky, um herói que difere do Corto, por ser mais cruel, cínico, e mais moderno. Entre outras várias personagens intrigantes.

Ou seja, não temos aqui uma panóplia de personalidades limpas e boazinhas. Temos sim, temperamentos muito díspares e realistas, típicos em tempo de guerra.

Isto tudo emoldurado em pranchas esteticamente sublimes numa renderização do deserto praticamente sem falhas.

Outro ponto interessante é que esta série passa-se no mesmo universo que Corto Maltese, inclusive com personagens que se cruzam, mas não deixa de ser um livro que se consegue ler de forma independente.

Não é de estranhar que a sua obra é estudada em cursos de banda desenhada, pois a forma que desenvolve as personagens, o enredo, e a própria arte sequencial.

Altamente recomendado: 10/10


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Dário Mendes

Dário é um fã de cultura pop em geral mas de banda desenhada e cinema em particular. Orgulha-se de não se ter rendido (ainda) às redes sociais.

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