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A Sombra Sobre Lisboa: Voltaremos A Ver Mais Do Mesmo Género?

Em 2006 a editora Saída de Emergência publicava a A Sombra sobre Lisboa com o subtítulo Contos Lovecraftianos na Cidade das Sete Colinas. Tratou-se de um livro ímpar e excecional que, ao longo de 480 páginas, explora vários contos de diferentes autores que procuram homenagear H.P. Lovecraft através da cidade de Lisboa.

Hoje, passados quase 20 anos, questionamos se não voltaremos a ver outra publicação dentro do mesmo género, baseado no universo de Lovecraft e explorando outras regiões, ilhas, vilas ou cidades históricas de Portugal que sirvam de cenários a contos similares, expandido a mesma mitologia que cativou a dedicação de vários envolvidos neste volume.

A Sombra Sobre Lisboa

Lisboa, claro, continua a servir de cidade privilegiada em termos geográficos, históricos, patrimoniais, culturais e não só. Mais de dois milénios de História conhecida, que envolve diferentes civilizações como fenícios e romanos, além da permanência dos mouros, a sua relação com o rio e o mar, a ligação às explorações marítimas portuguesas, o episódio do poderoso terramoto de 1755 e outros eventos que evocam também mistério e tragédia, saudade e obscuridade conciliam-se como elementos valiosos para explicar horrores e fenómenos de ordem necromântica ou até demoníaca, exposta a cultos obscuros ou presenças como Cthulhu e outras monstruosidades.

Não nos questionemos apenas sobre o potencial de um novo projeto dedicado mais uma vez a Lisboa, certos que não faltariam autores dedicados a escrever mais contos que são um tributo a Lovecraft, o que é altamente sugestivo. Olhemos para a inspiração deste livro, cujas histórias seriam também mais do que dignas de serem aproveitadas por ilustradores de banda desenhada em território nacional. Ponderemos se não apreciaríamos ler mais do género contemplando outros cenários tão marcantes, de distintas características geográficas ou de altíssimo relevo cultural, como a bela cidade de Évora, a antiga povoação de Silves, os misteriosos cabos litorais ocidentais, a mágica cidade de Tomar, o universitário centro de Coimbra, o sepulcral e romântico Porto, as altas montanhas do Interior e do Norte, ou até mesmo as verdes ilhas dos Açores…

A Sombra sobre Lisboa é uma obra única, mas não tem de ser exclusiva. No que toca ao que nos inspira, bem como todas as obras de Lovecratf e o apreço pela sua mitologia surpreendente, Portugal é todo no seu conjunto um território único, diversificado e exclusivo. Um criativo jamais se pode condicionar e urge descobrir novos cenários, como um completo «imaginauta» redescobrindo um território de potencialidades futuras e distintas. Claro que não se deve restringir apenas nos preceitos cosmicistas já estabelecidos por Lovecraft, mas prosseguir com a desejada expansão do que o reconhecido mestre do terror criou não deixa de servir de um bom mote: «A Sombra» (…) de uma obra que pode sempre crescer, antecipando outros níveis de horror. 

Contando com a valiosa colaboração por parte do editor Luís Corte Real, A Sombra sobre Lisboa inclui os 14 contos dos seguintes autores: Rogério Ribeiro, Safaa Dib, Luís Filipe Silva, João Henrique Malheiro Pinto, David Soares, João Seixas, António de Macedo, Rhys Hughes, José Manuel Lopes, Fernando Ribeiro, Yves Robert, Vasco Curado, João Ventura e João Barreiros. O trabalho de revisão é de Rosa Vilaça, enquanto as ilustrações são da autoria de Miguel Vieira. Obra fundamental, sobretudo para os que apreciam Lovecraft em território nacional, sempre iremos questionar: «Voltaremos a Ver Mais do Mesmo Género?»

Bruno Lourenço

Fascinado por História da Arte e pelo Universo Criativo da Ficção, é um entusiasta consumidor de Banda Desenhada além de leitor assíduo de obras de Ficção Científica e de Terror, com particular predileção pelo Oculto e o Sobrenatural

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