Central Comics

Banda Desenhada, Cinema, Animação, TV, Videojogos

Cinema Crítica: William Tell – O Desafio

Há filmes que se tornam lendas. Outros que tentam filmar uma lenda… William Tell – O Guerreiro, a nova adaptação cinematográfica do herói suíço e da peça de Friedrich Schiller, tem a ambição de ser um épico histórico e emocional. Mas será que consegue?

William Tell

Claes Bang interpreta William Tell com a mesma emoção de um cavalo cansado depois da feira medieval em Óbidos. O seu Tell não inspira revoluções, nem arrepios, nem sequer um aplauso ocasional. Bang parece mais interessado em praticar o estoicismo suíço do que em salvar o seu povo. Com um olhar constantemente carregado, entrega as falas como se cada uma fosse um segredo demasiado aborrecido para partilhar. Batman medieval? Talvez. Só que o seu gadget é uma besta, e a sua personagem encontra-se sem carisma e sem motivo para lutar, além de parecer eternamente constipado.

A narrativa — ou o esboço daquilo que poderia ter sido — começa promissora: opressão imperial, uma família em risco, uma nação à beira da rebelião. Mas à medida que o filme avança, a história parece saber para onde quer ir mas não consegue encontrar o caminho. O argumento, apesar da intriga lendária, serve antes como desculpa para colocar figurantes a andar de um lado para o outro em trajes e cenários de época por vezes credíveis e em outras oportunidades requisitados às feiras medievais do verão português. O resultado? Uma representação das personagens ao vivo – LARP – com orçamento e paisagens alpinas — lindo de ver, difícil de sentir.

William Tell

Falando em paisagens, sim, as montanhas suíças brilham. Estão lá. São reais. São o verdadeiro elenco principal. Porque o resto? Esqueçamos. Os atores, mesmo nomes de peso como Ben Kingsley e Jonathan Pryce, entram e saem como quem visita as filmagens por engano. Kingsley, aliás, parece divertir-se mais do que devia, com o ar de quem sabe que ninguém vai lembrar este papel — e que isso é ótimo.

Golshifteh Farahani, como a esposa de Tell, e Connor Swindells, como vilão, tentam adicionar alguma intensidade ao filme, mas perdem-se entre diálogos que soam a ensaio de adolescentes e construções dramáticas que só funcionariam numa telenovela turca. E ainda há tempo para um momento marítimo digno de um mapa errado do Google: viagens de barco entre Suíça e Áustria, como se os Alpes tivessem mar. Ou será que inventaram o Lago do Norte em pleno Reno?

Quanto à diversidade no elenco… é um tema delicado. Inserir figuras não europeias numa história do século XIV pode ser visto como ousadia ou anacronismo criativo, consoante o público. Aqui, infelizmente, parece apenas mais uma tentativa de agradar a todos os quadrantes sem se preocupar com a coerência do enredo.

O final, ou melhor, o quase-final, promete, mas desintegra-se numa anti-climática despedida que nem sequer fecha a narrativa. (SPOILER ALERT!) Teremos sequela? Esperemos que não.



A banda sonora composta por Steven Price (Gravidade, Fúria) é, sem dúvida, um dos poucos elementos que elevam William Tell – O Guerreiro acima da média. Com uma orquestração cuidada e momentos de verdadeira inspiração, a música oferece grandiosidade à história e confere uma dimensão épica às paisagens alpinas, funcionando como um verdadeiro guia emocional ao longo da narrativa. A sua composição pontua a ação com vigor e sublinha os momentos de tensão e grandeza, ajudando a colmatar parte das falhas dramáticas do argumento. É o som que tenta dar alma àquilo que o argumento esqueceu de escrever.



Veredicto Final:
William Tell – O Guerreiro é um filme com ambições de grandeza épica, mas que tropeça nas próprias botas medievais. As paisagens resultam em excelentes postais turísticos da Suíça, no entanto, o filme falha no essencial: contar uma história envolvente. Com um protagonista que sussurra mais do que lidera, um enredo previsível como um manual escolar e diálogos sem emoção, esta adaptação transforma uma lenda heróica numa visão desinspirada. É uma flecha disparada com força… mas que falha redondamente o alvo.

William Tell – O Guerreiro está em exibição nos cinemas portugueses.

William Tell

Ricardo Lopes

Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Verified by MonsterInsights