Jogos: “Element Space” – Análise – Os pecados da humanidade em 2199
Este RPG tático é o jogo de estreia do novo estúdio independente Sixth Vowel e da Blowfish Studios, publicado pela Inca Games.
Tudo se passa em 2199, num futuro alternativo, em que o sistema solar é colonizado por diversas facões etno-tecnológicas, a narrativa concentra-se na importância de trabalharmos juntos como espécie para evitar a extinção, na Terra e no espaço. O primeiro do que a Inca Games espera que seja uma trilogia, o jogo ocorre num ponto crucial na existência da humanidade. Sublinha-se a aprendizagem necessária a sobreviver contra o tempo, contra a atmosfera e contra os nossos próprios impulsos mais mesquinhos, para obter lucro em vez de sustentabilidade – definitivamente a humanidade é o seu pior inimigo.
A frustração surge quando o jogador se apercebe que Element Space consiste exclusivamente de uma série de batalhas e diálogos repetitivos no meio. As interações com a nossa equipa não parecem adicionar volume às personagens, nem contribuir minimamente para o conhecimento íntimo de cada uma. A dimensão e o realismo do enredo desbotam nestas linhas fundamentais, apenas o robô Zero é capaz de quebrar o enfado de uma convivência tão pobre, acaba por ser a máquina a ter mais personalidade.
Não podemos interagir com os níveis na maioria das vezes, cada missão consiste em passar de uma contenda para a próxima, e nada mais. Pelo menos ainda encontramos o elemento surpresa na arte dos cenários diversificados e interessantes!
Não existe o investimento emocional de um jogo como Mass Effect, existe sim a estratégia que espreita um jogo como X-COM. Element Space deambula por pretextos bipolares, por isso nunca chega a ser uma coisa nem outra.
Para cada combate podemos escolher três elementos da equipa, de um total de oito possíveis membros do grupo. Embora possamos alterar as mesmas na sua árvore de habilidades e opções de armas, não há o requinte técnico que dê vantagem ou desvantagens nas escolhas de armamento e capacidades, como em outros jogos do género – falta uma combinação de furtividade, navegação e tática.
O que diferencia o Element Space é a sua estrutura. É um RPG mais curto, porém mais abrangente, com o seu núcleo político. As opções de conversa que temos ao nosso dispor inclinam-se para quatro ideologias políticas mapeadas num gráfico básico, distribuindo opções que se correlacionam ou se rejeitam: humanismo e independência são aparentemente opostos, autocracia versus burocracia é outro conflito… É com estas bases que construímos os nossos relacionamentos com as sete facões que vamos conhecendo( onde prevalece de novo somente a reunião humana, nada de extraterrestres aqui) . É uma reviravolta bastante singular no género de ficção científica – uma grande maioria de jogos preferem elaborar espécies exóticas em planetas imaginários do que focarem-se na premissa humana e na sua jornada de chegada e integração no espaço.
Quando enfrentamos os nossos nemesis, está ao nosso alcance um certo número, precisamente duas ações por individuo, de movimentos em cada turno. É impossível permanecer num local eternamente, pois a nossa localização está constantemente em risco. É um jogo relativamente fácil com controles simples, se bem que há que planear e considerar os nossos passos.
Durante a onda inimiga, não podemos fazer nada, nem mesmo fugir quando visionamos a nossa iminente derrota, o que significa que, quando o jogador enfrentar uma dúzia de inimigos, tem que esperar que cada um deles se desloque ou ataque antes que possa ter a chance de fazer reload – isto é particularmente irritante durante as batalhas mais difíceis… e uma perda de tempo. Assim somos obrigados a fazer tudo do zero sempre que perdermos. Um capítulo inteiro.
Os gráficos são flutuantes, nas cenas são bem concretizados com um efeito cinematográfico, contudo o gameplay tem alguns gráficos bastante simples, quase como um jogo de tabuleiro um pouco arcaico. De qualquer forma insisto que, para uma pequena equipa de criação, tem uma boa câmara 3D de visualização e circulação pelos golpes mais brutais de combate.
Pela minha análise na Xbox One não nomearia Element Space como um bom jogo, igualmente não o classificaria como mau. A verdade é que não fiquei particularmente impressionada ou dececionada com este jogo. Sinto que quis ser muita coisa ao mesmo tempo, sofrendo uma queda livre sob o peso da sua ambição. De qualquer modo não deixa de ser uma adição ao universo sci-fi que merece atenção.
Nota: 6/10
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*