Halloween em Setembro: MOTELX 2016
Outubro! Halloween! E entre fantasmas, demónios, bruxas e goblins que gritam para ser ouvidos, permitam que a minha (imaginária) voz fale mais alto. Só durante este artigo, pelo menos. Fomos ao Motel X 2016… [fbshare]
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3 de Outubro de 2010.
Um amigo meu convence-me, no dia anterior, a ir a um estranho festival de terror em Lisboa, no Cinema São Jorge. Na altura, Lisboa ficava a 90 minutos de casa e para dois miúdos de 16 anos, ser a capital de Portugal ou o labirinto do Shining ia dar ao mesmo.
Eu, muito relutante, aceito o convite e aqui vamos nós com ida e volta marcada para o mesmo dia. O isco? Uma masterclass com o lendário George A. Romero.
Na Sala Manoel de Oliveira, Nuno Markl entrevista o mestre. E não só fico (momentaneamente) sem palavras por ver o “realizador dos mortos” como me encho de coragem e disparo na sua direcção uma pergunta bizarra (para a idade) sobre as dificuldades que ele teve em obter distribuição em duas das suas obras mais obscuras – The Dark Half e Bruiser.
Consigo ainda um autógrafo na cópia portuguesa do seminal Night of the Living Dead – o filme que lançou o template para o cinema independente norte-americano atual e deixou filas de crianças aterrorizadas em matinees, testemunhado pelo crítico de cinema Roger Ebert.
E foi o suficiente para acender o rastilho e a minha relação de amor com este festival, que ora ano sim, ora ano não (falhei o de 2011 e 2012) visito. Entrando na minha máquina do tempo novamente e recuando um mês, consigo dizer que estes foram os resultados (e as minhas escolhas!):
Dia 6 de Outubro 2016:
The Monster Squad (1987, EUA)
Um verdadeiro clássico dos anos 80, completamente ignorado no seu lançamento e a obra-prima do realizador Fred Dekker (que nos trouxe, em 1986, Night of the Creeps) e uma entrada curiosa na filmografia do seu parceiro, Shane Black – que no mesmo ano mudou a vida para qualquer argumentista em Hollywood, com Lethal Weapon.
Curiosamente, The Monster Squad aproveita o template de The Goonies misturando-o com os monstros clássicos da Universal, maravilhosamente criados aqui por Stan Winston.
Perfeitamente estruturado, excitante e imparável, The Monster Squad tem ainda uma das melhores deixas na história do Cinema. Merecedor, em pleno, da pontuação máxima.
Dia 7:
DePalma (2015, EUA)
Brian DePalma é um dos meus realizadores preferidos. Um virtuoso cinematográfico que sempre se sentiu confortável entre o choque e o entretenimento, dando-lhe sempre um toque de classe, ou noutras palavras, um toque hitchcockiano (do qual sempre foi acusado de roubar) – ao ponto do próprio Hitch se referir a Dressed to Kill, um dos mais pessoais de DePalma, não como uma homage, mas como fromage.
Mas apesar de ter sido essa a sua imagem de marca, Brian DePalma esticou-se em quase todos os recantos possíveis trabalhando em géneros como a comédia, musicais, terror, ficção científica, acção, drama, noir e gangsters.
E o selling point desde documentário de Jake Paltrow e Noah Baumbach é que tem exactamente o que o título nos promete. DePalma. Nada mais, nada menos.
Durante as duas horas de duração, temos acesso a uma curiosa, pessoal, engraçada e prolongada conversa com um dos mais marcantes e singulares mestres do Cinema, em que se discute cada obra do realizador e cujas histórias são deliciosamente encantadoras (se estivesse vivo, penso que Cliff Robertson não concordaria comigo).
The Neighbor (2015, EUA)
Se eu disser os nomes Marcus Dunstan e Patrick Melton presumo que poucas pessoas saibam de quem é que estou a falar. Mas se disser que foram os argumentistas que sucederam James Wan e Leigh Whannell na saga Saw, talvez o caso mude de figura.
Na sua terceira longa-metragem, a equipa (Dunstan assume o crédito de realização, mas vou ser generoso) dá-nos basicamente um Rear Window não só com o pedal a fundo, mas com três motores extra debaixo do capot – decorando o habitual suspense com o já característico gore presente nos seus filmes.
Não vou mentir e dizer que o filme não é eficaz, mas vou ser honesto e afirmar que acredito que tudo seria mais cativante se fosse apenas uma história down and dirty de crime sulista sem o elemento de terror que desenvolve mais tarde.
Talvez diga isto pelo tempo que demora a arrancar (nada contra slow burns, atenção) e pela volta na história que decide tomar, mas o filme dá-nos um set-up clássico e uma atmosfera perfeita para ser impossível não querer mais deste ambiente rural do Mississipi em vez de mais um “o meu vizinho é mau”.
Dia 8:
31 (2015, EUA)
Com uma carreira musical de sucesso (e uns bons discos dos White Zombie na sua bagageira), Rob Zombie estreou-se na realização com a sua homenagem a Texas Chainsaw Massacre – The House of 1000 Corpses, em 2000, mas foi com a sequela que conseguiu uma pequena pérola do cinema de terror moderno.
The Devil’s Rejects, completo com um magistral uso da igualmente magistral “Free Bird”, é não só um pedaço sádico e grotesco de celulóide como uma cápsula perfeita dos anos 70 com personagens e diálogos firmemente formados e colados ao universo único (para o bem e para o mal) de Zombie.
Infelizmente, 31 esquece-se de tudo o que foi bom no filme de 2004, incluindo uma história, personagens e prova que, no fim de tudo, violência por violência não chega nem sequer para suportar um logótipo inicial.
Resumindo, é o equivalente a unhas num quadro de giz e uma experiência desgastante e feia. O pior filme não só desta edição como da carreira de Rob Zombie. E quem viu o seu breve romance com Michael Myers sabe a que altura se encontra a fasquia.
Pet (2015, EUA/ Espanha)
Este é um filme estranho. Não visualmente, mas tecnicamente e em termos de identidade. Está sentado confortavelmente no meio de nenhures, principalmente ao nos dar como backdrop uma miscelânea de cidade americana e catalã – personagens completamente americanas e exteriores que, por vezes, são o completo contrário.
Pode parecer que estou a queixar-me de algo mínimo, mas pelo contrário. Pensem de como Michael Mann e John Hughes já usaram Chicago e de como a cidade estava intrínseca nas suas personagens.
Mas depois de nos levar a pensar que vai ser apenas mais um filme com um rapto, o argumentista Jeremy Slater atira-nos com um twist extremamente bem-vindo e que leva o filme para territórios ainda mais perturbadores.
Não é o melhor, nem o pior do género e apesar de ter um pequeno gosto a baunilha, Dominic Monaghan e Ksenia Solo carregam bem o material.
Tiago Laranjo
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