Crítica BD – Santa Família
“Santa Família” marca o início de uma parceria entre a cooperativa editorial portuguesa A Seita e a editora espanhola Grafito Editorial.
Esta obra, da autoria de Eider Rodríguez e Julen Ribas, antes de conhecer a edição em castelhano pela Grafito, já tinha sido publicada em basco pela Ikastolen Elkartea, tendo inclusivamente o álbum publicado em 2017 sido galardoado com o Prémio Euskadi de Literatura 2018 na categoria de Literatura infantil e juvenil.
A família não se escolhe – é nos dada, por vezes esta é uma grande dádiva, outras vezes esta é uma grande tragédia. Nesta BD, acompanhamos o crescimento de uma família, as suas raízes, sonhos, vícios e particularidades mais ou menos fáceis.
Nora, a primogénita, guarda segredos, quer partilhá-los, quer atualizar a sagrada instituição familiar, porém existem regras, padrões comportamentais que se implicam nesta revolução.
Um dos pontos mais surpreendentes desta obra é o questionamento de ideias pré-concebidas e costumes sociais contemporâneos, enquanto simultaneamente coloca em cena personagens invulgares, com históricos nada certinhos.
Nesta história, colidem dois estados: de um lado, o da adolescência, do outro, o da maternidade e da paternidade. Acontecem explosões, e esta trindade tem que se reinventar. Com um tom humorístico esta é uma viagem pelo ADN, pela existência e os seus efeitos.
A ilustração contém um traço caricatural hiperexpressivo utilizado por Julen Ribas – com um belíssimo trabalho gráfico ao longo de todo o álbum. Observa-se um cruzamento entre o realismo absoluto e a alegoria fantástica.
É um livro de 48 páginas, que, apesar de curto, tem uma grande variedade de desenhos, locais e situações. O trabalho de cores também é impressionante, salientando a sensibilidade e emoção em cada prancha.
A escrita de “Santa Família” é fluída, carregada de metáforas e um belo texto que nos é dado em forma de narração, por parte de Nora. Esta jovem que escolhe ser filha deste casal, quer desprender-se, conhecer novas rotinas, porém ela é igualmente um produto da sociedade atual, com tudo de positivo e negativo que isso acarreta…
Quem sai aos seus não degenera?
Autor: Eider Rodríguez
Ilustração: Julen Ribas
Género: Banda Desenhada, Familiar
Editora: A Seita
Argumento: 8
Arte: 9
Legendagem: 8
Veredito final: 8
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*