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Crítica BD – “Corto Maltese – Oceano Negro”

A amada personagem de BD, Corto Maltese, uma criação de Hugo Pratt, está em Oceano Negro”, numa aventura conduzida por Martin Quenehen e Bastien Vivès.

Esta história reintroduz-nos a Corto Maltese, o nosso protagonista regressa, das movimentadas ruas de Tóquio aos picos da Cordilheira dos Andes, perseguindo o rasto de um tesouro mítico, disputado por uma sociedade secreta nacionalista e narcotraficantes sem escrúpulos, no entanto, entre estas buscas também há espaço para o amor e desejo, sentimentos que se aliam ao perigo.

As controvérsias que esta BD tem gerado, vêm pela base de uma premissa imaginada para uma nova série do mítico personagem criado por Hugo Pratt. Ao contrário de Juan Díaz Canalès e Rubén Pellejero, que produziram 3 álbuns cujas narrativas se encaixavam nas definidas por Pratt, o conceito para a nova abordagem por Quenehen e Vivès é outro.

Este novo duo criativo teve como função tornar a personagem contemporânea com o século XXI, quebrando o fluxo cronológico. Como seria de esperar, se houve quem aplaudisse a criação de um novo Corto para a realidade atual, atendendo às possibilidades que tal origina, houve também quem sentisse que este seria um caminho que nunca deveria ter sido trilhado.

Esta é uma das perguntas que se pode colocar a propósito deste álbum: era preciso? Ou, de forma, mais completa e inteligível para todos: era preciso chamar Corto Maltese ao protagonista?

Não existe uma resposta certa, mas as opiniões estão aí, sejam elas negativas, positivas ou indecisas.

Diria que a melhor forma de encarar esta BD, é ler a proposta dos autores como um “Corto Maltese de…”, sem esperar que seja uma obra que advém do passado, mas antes uma versão, uma experiência para o futuro.

A ideia era adotar o espírito e adaptar a forma. Isso justifica a mudança de época e as mudanças dramatúrgicas e gráficas.

Agora, como qualquer criação, contém pontos fortes e pontos fracos: alguns planos visuais são esteticamente magníficos, espantosos em expressividade, com um traço imersivo que tanto transmite, porém, outros desenhos aparentam ter sido feitos à pressa – não passando de esboços, com os fundos esquecidos, os pormenores negligenciados, quase parecendo que foi outro artista que os fez.

“Oceano Negro”, é uma criação que homenageia um legado e reescreve sobre ele, por outros olhos, por outras mãos. Com esta noção é que devemos mergulhar sobre o seu enredo, anulando falsas expectativas que só irão empobrecer a dedicação posta nesta história.

Martin Quenehen, autor de pesquisas históricas – sobre os merovíngios e os bairros populares – e de programas ecléticos de rádio para a cultura francesa (Joana d’Arc, Tupac, Ping Pong …), tem gosto pela investigação. Escreveu o romance Dias tranquilos e o documentário Na trilha dos falsificadores. Quatorze Juillet (Casterman, 2020) é seu primeiro argumento para uma banda desenhada, ilustrado por Bastien Vivès. Segue-se Corto Maltese: Oceano Negro, com o mesmo ilustrador.

Bastien Vivès, nascido em 1984, Bastien Vivès é o líder de uma geração de autores que misturam de bom grado banda desenhada, animação e videojogos. Com Le Goût du chlorlore (prémio Essentiel Revelation em Angoulême em 2009), impõe um estilo, confirmado pelo sucesso público e crítico de Polina (Grande Prémio da Crítica ACBD 2012), Uma Irmã, Le Chemisier e Quatorze Juillet, entre muitas outras obras.

Autor: Martin Quenehen
Ilustração: 
Bastien Vivès
Género:
Banda desenhada, Ação
Editora:
Arte de Autor
Argumento: 7
Arte: 6
Legendagem: 7
Veredito final: 7 

         

One thought on “Crítica BD – “Corto Maltese – Oceano Negro”

  1. Isto será o equivalente a adaptar-se “Os Lusíadas” de Camões, mas (re)escrito por José Rodrigues dos Santos. Resultaria?

    É assim que “vejo” esta… “BD” de Corto.

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