Cinema: Análise – “Awauta” – 41º Fantasporto
“Awauta” é um filme de impulsos, uma peregrinação, primeiro por uma identidade, depois por uma metade, e finalmente por uma fuga.
Escrito e realizado pelo japonês, Mile Nagaoka, cuja experiência e pesquisa no processo da criação de lendas, músicas e artefactos, do mundo japonês, já foi refletido noutros filmes e documentários, como, “Kamiyama Alone”, “Ubusuna”.
A personagem Yumiko (Noe Tawara), abandona a sua vida de geisha em Tokyo, regressando à sua terra natal na província, isto é já um prenúncio de uma quebra que se vai alastrando ao longo do filme, trata-se de uma atitude de amor e ódio em relação à cultura tradicional e ritualista em que a protagonista cresceu.
Essa mesma elegância regrada e meticulosamente pensada que se observa nos trajes e coreografias aplicadas às músicas típicas da história do seu povo, várias já muito raras, podendo ser preservadas na memória destas famílias ou readaptadas para uma nova conceção futura. Yumiko pode representar uma geração ou uma revolução a solo.
É verdade, que ao longo do seu percurso procura conectar-se tanto quanto procura depreender-se. Não existe resposta final para esta jovem. Nem solução.
Para além das suas discussões intempestivas interiores, refletidas no seu passo fechado e face oca, de quem atua mecanicamente – comportamento que o público observa enquanto esta treina os passos dos rituais performáticos da sua origem. Yumiko, tem momentos de serenidade, quase descontração:
– Quando é traída e roubada.
– Quando um homem de bicicleta a encontra.
– Ou quando esse mesmo homem lhe oferece casa. E massa.
Esta junção de ideias parece não condizer, eu sei, contudo, é nestas imprecisões que Yumiko respira. Pode ser louca ou extremamente sana.
Achar Koji (Hideo Masunaga), podia ser o equilíbrio para os seus mecanismos desconcertantes… podia… podia?
É neste rumo incerto que o filme “Awauta” segue caminho, se é que se pode chamar assim, os planos de filmagem gravam uma rotina, com símbolos japoneses recorrentes, com padrões e ambientes que ditam um cenário deveras humano – frágil e ausente.
Este filme esteve disponível, somente, no 41º Fantasporto, no Hard Club, foi galardoado com o Prémio Especial do Júri e com o Prémio para Melhor Realizador.
“Awauta” é um filme sensível, dramático e pornográfico – no sentido de despir alma até à sua raiz, fala-nos do inacabado, da impessoalidade e do destino trágico de quem deixou de amar para ser amado.
Nota final: 8/10
Awauta, passou no 41º O Festival Internacional de Cinema do Porto
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*
Hi, trailer is different. Mile’s AWAUTA is below.
https://vimeo.com/476317217
Thank you! 🙂